Por roberta.campos

Rio - Além de feijoada na quadra, churrasco na laje, futebol decadente e novelas repetidas, nós, brasileiros, temos outra paixão nacional: a caderneta de poupança. E é essa paixão nacional que está funcionando agora como salvação nacional para milhões de famílias — com ou sem desempregados.

Trata-se de pessoas precisando recorrer ao pé de meia para socorrer o orçamento, a fim de pagar as contas (luz, gás, água, telefone, plano de saúde) e as compras (supermercados, padarias, açougues, feiras, farmácias).


Quando as vacas não tossiam

A má notícia é que essa combinação verde-amarela de recessão e inflação (coisa esquisita, onde os negócios param, mas os preços disparam) está castigando cada vez mais gente. A boa notícia é que cada vez mais gente está preparada, prevenida, porque aprendeu lá atrás que é necessário poupar, guardar e preservar para os tempos de urgências ou emergências — como esses em que estamos vivendo em perigo.

Ou seja, fez bem quem economizou quando as vacas estavam gordas, longe do brejo e... não tossiam. Antes de começarem os Jogos Olímpicos, em agosto, essas famílias previdentes terão sacado da poupança um montante de R$ 100 bilhões — em grande parte para “esticar” o salário e honrar os compromissos mensais que não estão cabendo mais no bolso. No ano passado (o primeiro do segundo mandato do governo Dilma), R$ 53 bilhões foram retirados da caderneta para complementar orçamentos.

Além do volume inédito, foi também a primeira vez, em uma década, que saques superaram depósitos. Este ano (somente de janeiro a maio), as retiradas maiores que as entradas já chegam a quase R$ 40 bilhões. Considerando que até dezembro boa parcela da “safra” de seguro-desemprego já terá acabado, a tendência é que outros recordes negativos sejam batidos — isso deverá nos valer pelo menos uma “Medalha de Lata”.


Mais cadernetas do que carteiras assinadas

Com mais de 200 milhões de habitantes, o Brasil já registra mais de 130 milhões de poupadores (três vezes o número atual de trabalhadores com carteiras assinadas). São brasileiros poupando — e não necessariamente “investindo”. Em geral (à exceção dos tempos de crise), a caderneta funciona como “reserva de sobra financeira”, e não preferencialmente como “estratégia de planejamento econômico”.

Por isso é compreensível que a poupança seja vista como o primeiro estágio de um “aprendizado financeiro”, antes de se desenvolver uma “disciplina econômica”. Esse processo, que vai do aprendizado à disciplina, exige do poupador focos, metas, objetivos e compromissos predeterminados — virtudes que, claro, também serão muito importantes quando o poupador, finalmente, se tornar “investidor”.


Sensação de proteção, acúmulo de prejuízo

Faz sentido, sim, começar a juntar dinheiro abrindo uma poupança, mesmo sabendo que ela oferecerá apenas uma sensação de proteção ou de segurança — sensação porque, em tempos de custos e preços altos, como agora, a caderneta acumula prejuízos na faixa dos 10% de inflação anual contra 6% de rendimento no mesmo período.

Para tentar fugir desses prejuízos, a renda fixa é uma opção, mas seus melhores retornos ou ganhos privilegiam somente os maiores saldos ou prazos (tratarei disso em outra coluna). Essencial é ter em mente que, além de poupar, será importante “investir”.


Ter reserva é uma coisa, ter riqueza é outra

Poupar, guardar ou preservar é o ponto de partida para produzir reserva. Depois, é preciso “investir” para construir ou multiplicar riqueza. Resumindo: após pensar em poupança, é preciso pensar em “investimento”. Poupar é produzir reserva. “Investir” é construir riqueza. Poupar oferece alguma proteção ou segurança. “Investir” exige algum risco. 

Antes de tudo, e no fim de tudo, os maiores e melhores instrutores, orientadores e investidores do mundo concordam que importante é praticar no longo prazo pequenos acertos e não cometer no curto prazo grandes erros.

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