Brasília - O Banco Central decidiu manter os juros básicos da economia brasileira em 14,25% ao ano pela oitava vez consecutiva, confirmando as expectativas do mercado financeiro. Essa foi a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o comando de Ilan Goldfajn, novo presidente do Banco Central. O comunicado que se seguiu à decisão indica que não há espaço para cortes da taxa no curto prazo.
O documento desta quarta-feira, 20, foi muito mais extenso, detalhado e rico do que o modelo praticado durante a gestão do antecessor, Alexandre Tombini. Trouxe, por exemplo, uma informação que só era fornecida pela autoridade monetária quatro vezes por ano: sua estimativa para a inflação de 2017. No cenário de mercado, que tem como base as expectativas do setor financeiro, caiu de 4,7% para 4,5%, exatamente o objetivo que persegue para o período. Já no cenário de referência, que considera taxas de juros e de câmbio estáveis, passou de 5,5% para 5,3%.
O BC aponta que a economia está tão fraca que isso pode ajudar o processo de despressurização dos preços. Ao mesmo tempo, porém, salientou que o IPCA corrente segue elevado e que as expectativas dos agentes econômicos caíram, mas ainda estão acima da marca de 4,5%, o que pode atrapalhar o processo de desaceleração da inflação.
A nova diretoria da instituição considerou que não é possível contar ainda com a colaboração da área fiscal para cumprir a sua meta. "Incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia permanecem", diz a nota do Copom. O Executivo já mandou ao Congresso sua Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de teto de crescimento dos gastos públicos, mas não há prazo para ser votada no Legislativo.
Global
O comunicado mostra como Goldfajn e os diretores avaliam o cenário externo, principalmente após o Brexit, plebiscito que abriu espaço para a saída do Reino Unido da União Europeia. Há dúvidas também sobre a possibilidade e a velocidade de retomada do crescimento no mundo. "O cenário permanece desafiador", diz um trecho do documento. "A recuperação da economia global permanece frágil."
A ata com mais detalhes sobre o que levou o BC a manter os juros será divulgada na próxima terça-feira. Mas a percepção entre os analistas após a decisão é de que um corte da taxa básica de juros virá mais para a frente. Antes do comunicado de hoje, o consenso era de que haveria corte em agosto e, depois, em outubro.
Para o economista Luiz Fernando Castelli, da GO Associados, o comunicado do BC eliminou as chances de corte da Selic já a partir de agosto, no próximo encontro do Copom. "O BC destacou a implementação do ajuste fiscal, mostrando que o corte só deve vir quando medidas como a PEC dos gastos estiverem bem encaminhadas."