Rio - Os cuidados com a educação financeira são hoje mais importantes do que nunca porque a oferta de crédito atingiu níveis sedutores e traiçoeiros. Além de recursos à disposição de universitários ainda sem juízo e de aposentados já endividados (como eu já disse), existem oportunidades de dinheiro fácil até para desempregados ou negativados — com dispensa de comprovante de renda, residência ou identidade. Por isso tantas facilidades e possibilidades de financiamento — e endividamento — precisam, sim, de doses de equilíbrio, pitadas de precaução e contrapartidas de responsabilidade.
Contra a desinformação
Com esse objetivo, o Decreto 7.397/10 instituiu uma espécie de força-tarefa-público-privada, que é a Enef (Estratégia Nacional de Educação Financeira). Os esforços evoluíram para a Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil) — conheça o site www.aefbrasil.org.br — uma instituição sem fins lucrativos criada por quatro entidades: Febraban, BM&FBovespa, Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNseg) e Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na quarta-feira, em São Paulo, a CNseg lançará mais uma etapa — o Programa de Educação em Seguros — conjunto de ações voltado aos consumidores, visando combater a desinformação sobre seguros e facilitar o entendimento das operações, dos produtos e dos serviços contratados.
A Estratégia Nacional tem representantes de instituições da sociedade civil, ministérios e bancos públicos. De perto, o que se vê é uma parceria de sucesso dedicada a promover educação financeira nas escolas, construindo pontes que levam estudantes preferencialmente do Nível Médio à preparação necessária para enfrentar os desafios da sociedade e usufruir os direitos da cidadania.
O melhor aproveitamento desses esforços requer que o maior número possível de dirigentes, professores, profissionais e voluntários ligados ao mundo das finanças “voltem às aulas”, acessem os sites gratuitos e conheçam a variedade de livros, vídeos, cartilhas e palestras disponíveis aos ensinamentos que precisamos propagar e devemos disseminar.
DOM, MÉTODO, HABILIDADE, HABILITAÇÃO
Seja como for, o fato é que todos os livros, cartilhas, manuais ou almanaques vão guiar os interessados por caminhos já traçados e trilhados. O que traçar, como trilhar e onde chegar — seguindo ou não os trajetos recomendados, tomando ou não atalhos — são aprendizados que vão depender de cada um, de cada vocação.
Mesmo nascendo pobre, qualquer pessoa pode ficar rica, bem como qualquer pessoa rica pode ficar pobre. Ninguém é condenado a ser para sempre insanável ou irremediável; e ninguém é condenado a nunca progredir. Conscientização ou habilidade financeira podem ser um dom, mas orientação ou habilitação financeira um método.
TENHA FOCO NA PROFISSÃO E NA CARREIRA
No caso de um aprendizado, dinheiro gosta de quem tem metas, planos, objetivos. E, quanto mais adequados ou significantes esses desafios ou conquistas, mais o dinheiro vai respeitar seus pretendentes.
Assim, a casa, a moradia, o imóvel em geral sempre será um bom estímulo para alguém desenvolver aptidões financeiras. Depois da casa, talvez o automóvel ou automóveis; em seguida, uma viagem ou viagens... mas... calma! Antes dos automóveis ou das viagens, é necessário definir o foco na profissão, na carreira, porque é ela que vai balizar e estabelecer os padrões e parâmetros de vida que se deseja ou se sonha.
Não se trata aqui de predeterminar uma dependência entre a profissão e o desejo, mas apenas de adequar a distância entre a carreira e o sonho.
OS ALTOS E BAIXOS DOS SONHOS OU DESEJOS
A distância entre a carreira e o sonho é uma cautela razoável, mesmo considerando que uma pessoa pode almejar ser diplomata, sem passar por sua cabeça morar em palácios; assim como alguém pode escolher ser mecânico, sem cogitar viver de aluguel; ou escolher ser garçom, sim, visando se tornar dono de restaurante.
Uma coisa não depende da outra, mas a distância entre uma coisa e outra precisa ser levada em conta. A profissão pode ser linear, mas carreiras sofrem altos e baixos — essa segunda hipótese implica revisões temporárias (às vezes demoradas) nas metas. Por isso as metas têm que ser viáveis, realistas e pertinentes, de modo que se mantenham estimulantes e não degenerem em desmotivação, desencanto ou desalento. Bom domingo e boa sorte!