Por MARTHA IMENES

Rio - O vazamento de dados completos de segurados e pensionistas é uma incógnita. Questionado pelo DIA de como o fraudador tem acesso aos dados dos beneficiários, o próprio INSS diz não ter conhecimento. Por nota, o instituto informou que "o trabalho investigativo não é competência do INSS. Porém, a instituição está preocupada com a reincidência dos casos e está buscando junto aos órgãos de controle, subsídios para descobrir de onde essas informações vazam, para que haja punição dos responsáveis."

Aposentado Almiro Pereira%2C vítima de fraude%2C recorre à fé enquanto não tem seu dinheiro devolvidoDaniel Castelo Branco / Agência O Dia

Sendo competência ou não do INSS, o fato é que muitos aposentados e pensionistas têm sido vítimas de fraudadores: foram 732 até julho, segundo dados da Ouvidoria da Previdência. E para ter o benefício corrigido, eles têm passado por verdadeira via crúcis.

O aposentado Almiro Pereira, 56 anos, por exemplo, tem vivido dias difíceis depois de ter sido vítima de fraude com o nome dele. "Em junho, fui ao banco receber e dei falta de R$ 882 do meu pagamento. Falei com o gerente e ele me explicou que era de um empréstimo feito por mim, mas respondi que não tinha feito empréstimo nenhum. Fui no INSS e me falaram a mesma coisa, um empréstimo no meu nome", conta Almiro.

"Essa situação é muito estranha, pois nunca passei dados pessoais para ninguém. Nunca fiz empréstimo e nunca faria. Agora estou passando dificuldades, com contas para pagar e todo mês sendo descontado em mais de R$ 800 da minha conta", lamenta o aposentado que recorre à fé para encontrar forças para suportar tamanha provação.

"Verificamos extratos e os R$ 30 mil do empréstimo sequer haviam sido depositados na conta dele. Somente há o registro das 72 parcelas de R$ 882. Um absurdo", diz a advogada Cristiane Saredo, do escritório Vieira e Vieira Consultoria e Assessoria Jurídica Previdenciária.

"O que causa estranheza é a falta de informação do banco, que não explica porque o valor não foi para a conta do cliente", diz a advogada. Ela orienta aposentados e pensionistas a fiscalizar sempre a conta bancária e se encontrar desconto, pedir imediatamente ao gerente do banco para conferir a assinatura do contrato. "Caso o funcionário não mostre, peça logo para cancelar o parcelamento e devolver o que já foi descontado", diz Cristiane.

Se o banco se negar, cabe ação judicial, assim como no caso de Almiro. 

Servidores e beneficiários são os alvos prediletos

O alvo principal das quadrilhas costumam ser servidores públicos e beneficiários do INSS. Mas, a rigor, ninguém está livre de cair em um golpe, basta que dados pessoais caiam em mãos erradas.E o perfil das vítimas não é por acaso, dizem autoridades policiais.

São muitas as histórias de idosos, pensionistas e até servidores que passaram a arcar com descontos nos benefícios e contracheques para o pagamento de empréstimos que nunca fizeram, como no caso do aposentado Almiro Pereira.

Servidores têm estabilidade no emprego e recebem em dia, o que faz deles clientes em potencial. Aposentados do INSS também têm o crédito pontualmente. Por conta disso, a liberação do empréstimo é facilitada.

O número de golpes acendeu a luz vermelha. A Previdência publicou na página na internet o alerta de que "não solicita dados pessoais dos segurados por e-mail ou telefone".

Previdência alerta sobre intermediários

Algumas abordagens costumam acontecer assim: os fraudadores entram em contato, por telefone, com segurados e se identificam como integrantes do Conselho Nacional de Previdência (CNP) oferecendo algum tipo de benefício. Afirmam que a pessoa teria direito a receber valores atrasados, geralmente, grandes quantias de dinheiro, e pedem que liguem para eles por meio de um número de telefone.

Quando o segurado faz a ligação, os fraudadores pedem dados pessoais e solicitam o depósito de determinada quantia em uma conta bancária, para liberar um pagamento que não existe. E muitos caem nesse "conto do vigário". Portanto, orienta a Previdência, não passe dados pelo telefone. E alerta que não tem intermediários.

Colaborou a estagiária Marina Cardoso

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