Especialistas comentam a importância das 'soft skills' - Marcelo Camargo/Agência Brasil
Especialistas comentam a importância das 'soft skills'Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por Luiz Franco
Rio - A tecnologia irá modificar radicalmente como uma série de profissões serão executadas e há uma chance de muitos empregos de baixa complexidade serem extintos. Essa deve ser uma forte preocupação para a sociedade, pois agravará a lacuna entre quem tem acesso à educação superior e quem não tem.
A afirmação é do conselheiro de carreira para estudantes dos cursos de Pós-graduação da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), Augusto Dutra Galery.
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A pesquisa "Futuro do Trabalho", realizada pelo Fórum Econômico Mundial, sugere que o trabalho que imaginávamos para o futuro já chegou: uso cada vez mais intenso de tecnologia, exigências cognitivas e relacionais cada vez maiores, ênfase na sustentabilidade e responsabilidade empresarial.
"É preciso ter cuidado, pois tudo indica que o número de empregos tenderá a diminuir e a se sofisticar, o que leva a uma necessidade de investimentos em uma boa educação, que capacite para o desenvolvimento científico, habilidades sociais e o uso da tecnologia, de forma a que as pessoas possam estar prontas para a complexidade do mercado futuro", alerta.
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QUAIS EMPREGOS VÃO DESAPARECER?
O especialista diz que há um certo exagero sobre a questão do desaparecimento de certas profissões. "Essa é uma discussão que precisa ser feita com cuidado. O que acontecerá mais provavelmente é que essas profissões sejam reformuladas para se adequar ao avanço da tecnologia e a outras mudanças sociais em curso".
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Ele usa como exemplo muitos cursos de biblioteconomia, que foram reformulados no começo desse século para se tornarem cursos de gestão da informação.
"De qualquer forma, é essencial para alguém que está escolhendo sua profissão fazer um balanço entre o que o mercado está pedindo e sua própria motivação interna. A verdade é que não há carreira fácil nem com futuro assegurado. Isso significa que, independentemente da profissão escolhida, serão necessárias perseverança e dedicação para se ter sucesso, o que exige uma grande motivação interna. Uma proporção imensa de pessoas com graduação desiste de sua profissão assim que se formam, pois fazem escolhas considerando apenas cargos em alta ou a segurança, e não conseguem evoluir em suas carreiras. Não é que essa análise do mercado não seja importante, mas ela deve estar equilibrada com a escolha pessoal", pondera.
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Na avaliação de Galery, profissões que sejam exclusivamente repetitivas terão mais chance de desaparecer. 
"Toda atividade que pode ser colocada em um script e não necessite de alguém para usar a criatividade ou tomar uma decisão tem chance de ser robotizada. O risco é maior quanto mais simples a atividade é. Aquele trabalho repetitivo, simples, taylorizado, no estilo da famosa cena do Charles Chaplin no filme Tempos Modernos, deve estar em risco na próxima década. Haverá impacto grande nas atividades puramente burocráticas", opina.

A especialista em RH, Denise Asnis, que também é fundadora da Taqe- plataforma de recrutamento e seleção digital - compartilha da mesma opinião. "A maioria das profissões que podem ser padronizadas, e até mesmo transformar decisões baseadas em modelos preditivos e processos tendem a ser extintas e cada vez mais rápido. Todas as áreas serão afetadas, mas a maior preocupação por extinção está nas profissões de atividades puramente mecanizadas, braçais e rotineiras", afirma.
Ela aponta também uma grande mudança na área médica, com a automatização de processos hoje realizados por pessoas. "Já sabemos de que cirurgias estão sendo feitas por robôs e estes chegam a aplicar anestesia com uma precisão extrema, reduzindo riscos de morte. Com isto algumas funções na área médica podem desaparecer rapidamente. E os profissionais que não conjugarem aprendizados de medicina com robótica ficarão obsoletos em pouco tempo", diz.

Outra área que deve ter um impacto grande é a de transporte, segundo a especialista. "São bastante conhecidos os avanços que algumas empresas americanas vêm atingindo em transformar o transporte de pessoas em algo cada vez mais autônomo, seguro e não proprietário. O que pode parecer hoje uma ação sem consequências, tenho certeza, vai nos levar em, no máximo 5 anos, a perceber uma forte transformação no mercado de motoristas, taxistas, vendedores de carros, postos de gasolina, mecânicos etc. Toda uma cadeia produtiva em torno do transporte público ou privado de pessoas será afetada", conclui.
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QUAIS EMPREGOS ESTARÃO EM ALTA?

Galery aponta duas tendências em alta atualmente no mercado. Por um lado, as profissões ligadas ao uso e desenvolvimento de tecnologia estão com grande demanda e foram ainda mais impulsionadas pela pandemia da covid-19. Por outro, o uso excessivo de tecnologia mostrou claramente a lacuna de profissionais que saibam lidar com pessoas, em áreas como marketing e gestão de pessoas e cultura.

"Pesquisas do Fórum Econômico Mundial têm apontado que, além dessas três áreas (TI, marketing e gestão de pessoas), as áreas de produção de conteúdo, desenvolvimento de produtos e vendas também estarão em alta nos próximos anos".

Para Denise, a transformação tecnológica é uma transformação sem volta. "Uma das maiores necessidades de contratações hoje e no futuro serão tecnologia e tudo que está ao seu redor, incluindo telecom e internet. No futuro, a competição por profissionais que entendem de linguagens e códigos, profissionais que atuam em segurança da informação ou são cientistas de dados, desenvolvedores e engenheiros de software, internet das coisas, infraestrutura/cloud como também business intelligence vão acelerar ainda mais", explica.
COMO SE PREPARAR?
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Com tantas transformações em vista, pode parecer um desafio muito grande se capacitar para um futuro automatizado e tão dependente de novas tecnologias, mas os especialistas dão dicas.
"Os profissionais devem ficar atentos a estes movimentos de mercado e trabalhar no autoconhecimento. Acreditamos que este seja o ponto de partida para que a escolha pela profissão seja mais acertada. Tanto na busca do primeiro emprego, como em mudanças de carreira ao longo de sua vida profissional", diz Denise.
"Muitas profissões que hoje não conhecemos serão o ponto forte no futuro. Fazer pequenos exercícios em longo prazo te levará a acompanhar os movimentos e se antecipar a possíveis ajustes necessários. Não só de tecnologia vamos viver. Mas o certo é que, de agora em diante, a competição por profissionais que entendem de linguagens e códigos será cada vez mais acirrada", completa.

Para os profissionais que não possuem o perfil tecnológico, a dica é sempre se manter atualizado, independente da área. "As empresas estão na busca de candidatos que possam atender perfil das demandas atuais e futuras, uma das dicas é se capacitar na chamada alfabetização digital e desenvolver as tais soft skills, e a competência de aprender a aprender e como demonstramos nossas competências comportamentais são ações que podem apoiar enormemente a empregabilidade", conclui a especialista.