Botijões de gás em Magalhães Bastos, Jardim Sulacap e Realengo são mais em conta, segundo a ANP - Pedro Ventura/ Agência Brasília/ Fotos Públicas
Botijões de gás em Magalhães Bastos, Jardim Sulacap e Realengo são mais em conta, segundo a ANPPedro Ventura/ Agência Brasília/ Fotos Públicas
Por Maria Clara Matturo*
Com o desequilíbrio econômico agravado por conta da pandemia, os brasileiros estão sentindo no bolso a diferença dos itens básicos de casa como o gás de cozinha. Em janeiro de 2011, o preço médio do botijão padrão de 13kg a nível nacional era de R$38,16, enquanto atualmente esse mesmo botijão tem o preço médio de R$ 76,83, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na prática, se considerados os últimos dez anos, o insumo sofreu uma alta de 101,3% em seu valor comum. Somente no último ano, o GLP registrou um aumento de 9,24%, ou seja, mais que o dobro da inflação de 2020 que ficou em 4,52%. 
No município do Rio, o preço do gás de cozinha varia entre R$64 e R$75, com valor médio de R$72,15 por botijão. Ainda de acordo com o sistema de levantamento de preços da ANP, entre os dias 24 e 30 de janeiro, os três bairros que registraram o custo mais alto do item foram Realengo, Padre Miguel e Bangu, que permaneceram na média de R$75. Já os três bairros que apresentaram o melhor preço do GLP foram Magalhães Bastos, Jardim Sulacap e Marechal Hermes, que ficaram entre R$64 e R$67.
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Como o preço do GLP é calculado?
Em resumo, o preço médio do GLP é calculado com base em três pontos: o custo de produção do produto, os impostos aplicados sobre ele e a porcentagem adicionada pelas empresas responsáveis pela distribuição e venda. 
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"Segundo a Petrobras, aproximadamente 39% do valor se refere ao custo de produção, o cálculo de outros analistas independentes diz que esse gasto seria um pouco maior, em torno de 47% do preço, que diz respeitos aos custos de produção da própria Petrobras. Outros 18% são tributos e os 35% restantes dizem respeito a distribuição e revenda. Esse último setor, no Brasil, é alvo de um gravíssimo problema. Temos um número muito pequeno de empresas que detém o mercado, ou seja, mais ou menos seis empresas controlam a distribuição desse item. Então isso acaba contribuindo para um preço maior do que se você tivesse um mercado competitivo com vários distribuidores", explicou o economista Alex Mendes. 
O que justifica o aumento no preço do gás nesses últimos anos? 
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Uma mudança estabelecida no sistema de cálculo de preços do gás de cozinha durante o governo Temer é um dos fatores mais relevantes para esse aumento de preço, como analisou Mendes.
"Agora o cálculo não é baseado somente no custo de produção da Petrobras, mas sim na paridade de importação, que se baseia em cotação internacional. Isso é vantajoso para a empresa que passou a ter lucratividade, mas a conta foi colocada diretamente no bolso do cidadão. Na prática ela tem o monopólio desse setor, representa 98% da capacidade de refino do país e seria muito importante que ela analisasse seus custos reais e não o preço do mercado internacional, que varia com o aumento da demanda mundial e acaba incidindo no valor que não tem nada a ver com o custo da própria Petrobras". 
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Além dessa mudança no cenário, a desvalorização do real também é uma outra justificativa para essa alta, já que agora o Brasil tem como base o mercado internacional. "As mudanças no preço do barril de petróleo no cenário internacional, acompanhadas das variações cambiais de alta do dólar, impactam o preço do GLP. No ano de 2020, ocorreram nove reajustes positivos e cinco negativos, sendo no total uma alta de 21,9%. Outro fator relevante é que a atual política de preços prevê reajustes sem periodicidade definida em vigência desde 2019. Como não há controle de preços no varejo, os preços do botijão também podem oscilar dependendo da margem de comercialização e distribuição de cada localidade", ponderou Tiago Sayão, economista e professor do Ibmec RJ.
Quais são as expectativas sobre o valor do gás de cozinha para os próximos meses?
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Apesar das expectativas de uma possível retomada econômica para o país neste ano, a tendência é que o preço do GLP continue subindo. 
"O ritmo lento da vacinação no Brasil retarda a recuperação econômica pressionando a taxa de câmbio levando a uma desvalorização do real frente ao dólar forçando um aumento no preço. Em suma, é a combinação desses dois fatores (taxa de câmbio e preço internacional do petróleo) que determinará a direção dos preços do Gás de cozinha", acrescentou o professor. 
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Para o economista Alex Mendes, a expectativa é de que o valor continue subindo. "Embora o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha dito que o botijão de gás custaria no máximo R$35, se a atual política da Petrobras for mantida, o botijão pode chegar a mais de R$100/R$120 durante este ano. A medida que a economia mundial se recupera, a demanda internacional por petróleo e gás também se amplia e, assim, automaticamente mantida a oferta constante, o preço internacional sobe. Se esse valor aumenta e a Petrobras continua levando em consideração não o seu custo de produção e sim o preço internacional, mesmo que esse custo de produção não suba, o preço vai subir". 
Mesmo que o reverso aconteça, as chances de que o valor diminua sem uma intervenção do governo são pequenas. "O que acontece no Brasil é que quando ocorre o contrário, a Petrobras diminui o valor de venda do GLT, mas as revendedoras não repassam esse desconto, em busca de manter uma lucratividade maior. O governo está olhando isso sentado na sua cadeira de forma cômoda, então a tendência é que exista um aumento no preço do gás de cozinha durante esse ano, o que cria uma grave crise social, sobretudo com uma taxa de desemprego de 14,3% da população, num país que não vai ter uma recuperação econômica sustentável tão cedo", finalizou Mendes. 
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*Estagiária sob supervisão de Marina Cardoso