Ministro Paulo GuedesCris Vicente/DivulgaÇÃO
Um ano após Guedes dizer que 'besteira' levaria dólar a R$ 5, moeda beira R$ 6
Em 5 de março do ano passado, a moeda tinha o 12º dia seguido de alta, batendo o então recorde de R$4,65, de lá para cá, acumula alta de 21,9%
No dia 5 de março de 2020, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou: Dólar só chega a R$ 5,00 “se fizer muita besteira”. A cotação atual da moeda é R$ 5,67. Neste dia, em 2020, a moeda tinha o 12º dia seguido de alta, batendo o então recorde de R$4,65, de lá para cá, acumula alta de 21,9%.
A declaração do ministro foi antes mesmo da primeira morte por Covid-19 no país, que aconteceu em 12 de março do ano passado. Hoje, o total de óbitos chega a 260.970. Na agenda econômica, as prioridades foram outras: auxílio emergencial, manutenção de empresas e empregos, controle da inflação e da dívida pública estiveram entre as principais.
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Desde o início, Guedes aposta na agenda liberal para recuperação da economia. Ele afirma que as reformas colocarão o Brasil no caminho certo. Um ano depois, tanto a reforma administrativa quanto a tributária continuam travadas no Congresso, sem texto final.
Em meio ao caos da pandemia e às incertezas do mercado, o valor do dólar decolou. Com isso, a moeda brasileira se tornou a mais desvalorizada entre os países emergentes no período. A perda acumulada no período é de 22,06%, desde o início de 2020.
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A fuga de capitais se justifica pois investidores estrangeiros monitoram com cautela a situação das contas públicas. A dívida bruta do governo chega a R$ 6,615 trilhões, trilhões, equivalente a 89,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), a dívida bruta do governo central deverá fechar 2021 em 92,7% do PIB, e alcançará 103,4% do PIB no último ano desta década.
Além das pautas do Ministério da Economia, a Saúde também será fundamental para conter o avanço da taxa de câmbio. Economistas defendem a necessidade de um plano nacional de vacinação para garantir a retomada a todo vapor da atividade econômica. O Brasil, até o momento, tem 7,3 milhões de vacinados contra Covid-19, 3,47% da população.
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Entre as principais “besteiras” que podem ser cometidas pela equipe econômica, estão o risco de descontrole fiscal e as dúvidas que cercam a trajetória da dívida pública, visto que o orçamento de 2021 ainda não foi aprovado. Ao passo que as reformas prometidas pelo governo, principalmente aquelas que buscam honrar o teto de gastos e respeitar a responsabilidade fiscal, não foram sequer pautadas.
Recentemente, a intervenção do Planalto na Petrobras aumentou o risco país em 30%, fazendo com que o dólar avançasse ainda mais desde o anúncio da troca no comando da estatal, na sexta-feira 26 de fevereiro. Nesta quarta-feira (3), o dólar chegou a subir mais de 1,5% com a notícia de que a PEC Emergencial poderia excluir os gastos com Bolsa Família da regra do teto. Reflexos de que a volatilidade da moeda está ligada ao aumento do risco de descontrole fiscal. Na quinta- feira (4) a moeda se manteve estável.
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Segundo o relatório “Focus”, produzido por mais de 100 instituições do mercado financeiro, a projeção para a taxa de câmbio no fim de 2021 é de R$ 5,10, e para 2022 R$ 5,03 por dólar.
O real desvalorizado impacta não só o bolso de quem quer ou precisa adquirir dólares para viajar, ou de quem compra produtos importados.
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A indústria nacional consome insumos importados, e o mercado é fortemente influenciado pelo preço das commodities. No caso do arroz, por exemplo, com o dólar valorizado, torna-se mais atrativo para o produtor a exportação, em detrimento do consumo interno. A menor oferta no mercado interno, por sua vez, empurra o preço para cima nos supermercados. A mesma lógica vale para o milho, para a soja, para o combustível…
Para tentar conter a disparada da taxa de câmbio, o Banco Central tem vendido parte das reservas internacionais. Esta semana, vendeu US$ 2 bilhões (R$ 11,34 bi), em 12 meses o montante chega a US$ 70 bilhões (R$ 397 bi). A medida tem o objetivo de diminuir a volatilidade do dólar,e por consequência conter a inflação. Em contrapartida, no longo prazo, deteriora a situação fiscal do país.
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Na terça-feira (2) Paulo Guedes declarou, no podcast Primocast, que o Brasil “viraria Venezuela em um ano e meio” caso ele fizesse a “coisa errada”. Para ele, avançar com as privatizações, como a da Eletrobras e dos Correios, é primordial para não seguir o caminho dos vizinhos sul-americanos.
Enquanto isso, o bom relacionamento com o atual presidente da Câmara traz perspectivas animadoras para a economia. Arthur Lira prometeu a reforma administrativa até maio e tributária em outubro.