Em um ano, preço do óleo de soja cresce 92,23% na capital fluminense, diz FGV
Os produtos que também registraram as maiores altas foram o feijão preto (72,31%), o mamão papaia (57,54%), o arroz (57,23%) e a batata doce (45,42%); veja como economizar nas compras de alimentos
Por Letícia Moura
Rio - O preço do óleo de soja aumentou 92,23% na capital fluminense, no acumulado de 12 meses finalizados em março deste ano, segundo a pesquisa Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em um ano, os produtos que também registraram as maiores altas foram o feijão preto (72,31%), o mamão papaia (57,54%), o arroz (57,23%) e a batata doce (45,42%), conforme indicou o estudo feito pela FGV. Para minimizar o impacto no bolso, especialistas ouvidos pelo O DIA deram sugestões de como economizar nas compras de alimentos.
Mas, afinal, por que os preços subiram tanto? Economista da FGV, Matheus Peçanha indica que o aumento da demanda na China e a alta do câmbio (dólar) provocaram o incentivo à exportação da soja. Sendo assim, com o cenário favorável à exportação, houve um desabastecimento no mercado interno, o que causou o crescimento nos preços dos produtos derivados da soja.
O especialista pondera que o óleo de soja ainda permanecerá caro ao longo deste ano. "Justamente porque a demanda interna vai continuar alta, ainda teremos uma nova rodada do auxílio emergencial e o dinheiro será destinado para compra de alimentos", explica, acrescentando que o câmbio também deverá continuar em elevação, contribuindo para a alta nos preços.
Tiago Sayão, economista e professor do Ibmec, faz coro: "O valor do óleo de soja tende a continuar nesse patamar, pois não há indicativo de nenhuma mudança no cenário internacional e doméstico. Produtos como tomate (-14,12%), cenoura (-9,40%) e batata inglesa (-8,81%) registraram queda de preços em março de 2021. Essa queda está relacionada a questões sazonais, como a maior disponibilidade no mercado".
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Segundo Guilherme Moreira, economista e coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e dos Índices de Obras Públicas (IPOP) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), os mesmos fatores mencionados para a soja afetaram outros grupos de alimentos que também estão expostos ao mercado externo.
"Por exemplo, os grandes aumentos que ocorreram na maioria das proteínas de origem animal, principalmente na carne bovina. Nos últimos 12 meses terminados em março, a carne bovina subiu 31,62%, a carne de frango 21,44% e a carne suína 31,74%", pontua Moreira.
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Como economizar
Diante do contexto atual, em que o país registrou 14,3 milhões de desempregados no trimestre encerrado em janeiro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), especialistas reforçam que os consumidores devem buscar promoções e pesquisar os valores dos produtos, para cortar gastos com as compras de supermercado.
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Na avaliação do professor Sayão, a alternativa é procurar frutas e verduras da época, aprender a substituir os alimentos que estão mais caros, pesquisar por promoções nas lojas on-line e aplicativos e trocar as marcas dos produtos.
Luciana Novaes, nutricionista e mestre em Saúde Pública pela Fiocruz, aponta que os consumidores não devem fazer compras sem listas: "Isso evita que se gaste dinheiro comprando alimentos por impulso, que muitas vezes irão ficar jogados no armário e na geladeira. Também não se deve ir ao supermercado com fome. Você comprará muito mais do que precisa, como se pudesse comer tudo naquele momento", orienta.
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Outra sugestão para poupar gastos, segundo a especialista, é comprar legumes e frutas acompanhando as safras. "Quando os vegetais são colhidos na época certa, além de terem melhor qualidade nutricional, costumam ter o valor mais barato", explica Novaes.
Substituição de alimentos
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A nutricionista indica que o feijão pode ser substituído por ervilha, grão de bico, soja ou lentilha. "O arroz pode ser trocado por batata, inhame, aipim ou milho. Então, a combinação de arroz com feijão pode ser substituída por uma salada de ervilha com batata, por exemplo".
Em relação ao óleo de soja, ela sugere que o consumidor pode trocá-lo por outros óleos vegetais como girassol, canola ou milho. "O azeite também pode ser utilizado, e é um excelente substituto em termos de saúde. Lembrando que o consumo deve ser moderado, utilizado mais para refogar os alimentos", aconselha a nutricionista.
Para o economista Guilherme Moreira, uma substituição bem comum é a carne bovina pela carne de frango e suína. "O grande problema, que vem ocorrendo desde o início do ano passado, é que a elevação dos preços dos alimentos tem ocorrido nos itens mais consumidos pela população, que acaba tendo dificuldade para fazer essas substituições. O prato tradicional do brasileiro é o arroz, o feijão e uma carne. Todos esses itens subiram muito em 2020 e 2021. Na prática, o que vem ocorrendo é a redução de gastos, quando possível, em outras despesas".
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Auxílio emergencial e insegurança alimentar
Matheus Peçanha avalia que o novo auxílio emergencial, com valor médio de R$ 250, pode representar um alívio mínimo aos beneficiários, mas o Brasil corre o risco de acentuar o quadro de insegurança alimentar. No fim do ano passado, 59,4% dos domicílios brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar, de acordo com um levantamento da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB)
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"O auxílio emergencial vem em um patamar bem baixo e, paralelamente, vimos o crescimento da insegurança alimentar no Brasil. Com o valor abaixo do auxílio disponibilizado no ano passado (inicialmente com parcelas de R$ 600 e R$ 1.200 para mães chefes de família), o país já teve um aumento no quadro de insegurança alimentar, portanto, nós corremos o risco de continuar aumentando ainda mais esse mapa da fome", analisa o economista da FGV.
De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, do DIEESE, a cesta básica custava R$ 629,82 na cidade do Rio em fevereiro deste ano. Em outro estudo, a instituição mostrou o que é possível comprar com o novo valor do benefício custeado pelo governo federal, por dia, para uma família composta por quatro pessoas.
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Por exemplo, o auxílio apenas permitiria a aquisição de menos de um bife, menos de meio copo de leite, uma concha e meia de feijão e três colheres de arroz. Desta forma, o DIEESE concluiu, com base nos dados do levantamento, que o novo "auxílio não terá a menor condição de garantir segurança alimentar. Por isso, pode-se considerar que este auxílio é de fome", indica.
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