Pesquisa mostra que desligamento de CLT's por morte cresceu 71,6% no Brasil
As duas categorias mais afetadas são os médicos, com um aumento de 204%, e profissionais de enfermagem, com 116%
Por Maria Clara Matturo
Com a pandemia da covid-19, o número de desligamento por morte em empregos de carteira assinada cresceu 71,6% entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021. De acordo com o levantamento divulgado pelo Dieese nesta terça-feira, médicos, enfermeiros e trabalhadores em atividades de educação e transporte são os mais afetados. No ramo da saúde, o desligamento de médicos por óbito triplicou, aumentando 204%. Para os enfermeiros não foi diferente e o indicativo sofreu um crescimento de 116%.
Entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo trimestre de 2021, o crescimento relativo do número de desligamentos por morte no Amazonas foi três vezes maior do que o registrado no Brasil, chegando a 437,7%. Os desligamentos por morte de profissionais de enfermagem (considerando auxiliares, técnicos e enfermeiros) e de médicos no estado aumentaram 11,0 vezes, ou 1.000%, superando inclusive a quantidade total de desligamentos deste tipo.
Para o médico Alexandre Telles, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (Sinmed-RJ), as estatísticas são um retrato das condições dos profissionais da saúde no país. "Vivenciamos um momento inicial da pandemia com falta generalizada de equipamentos de proteção individual, sendo necessário que os sindicatos recorressem à Justiça para garantir estes equipamentos básicos para proteção dos trabalhadores. Os médicos estão expostos carga viral altíssima nos ambientes hospitalares e, por consequência, tem um chance maior de infecção de terem um desfecho grave".
"A vacinação entre os profissionais de saúde demorou muito no país e ainda existem médicos que não foram vacinados, apesar de estarem expostos ao vírus. Os médicos para conseguir da conta do aumento da pressão assistencial acabaram por aumentar suas cargas horárias, chegando em um nível de exaustão. É fundamental garantir a vacinação dos que ainda não foram vacinados", reforçou Telles.
Publicidade
A realidade das salas de aula
Em outras categorias, o cenário de desligamento do emprego celetista por morte também registrou um aumento expressivo. Entre todas as atividades econômicas, as que apresentaram maior crescimento no número de desligamentos por morte estão a área da educação, com 106,7%, transporte, armazenagem e correio, com 95,2%, atividades administrativas e serviços complementares, com 78,7% e, saúde humana e serviços sociais (agregado), com 71,7%.
Publicidade
Segundo a vice-presidente do Sindicato Estadual de Profissionais da Educação (Sepe), Duda Quiroga, a pesquisa confirma o que a categoria vem tentando dizer por meio de suas greves.
"Essa pesquisa vem confirmar uma coisa que nós da educação já vínhamos dizendo, nosso segmento tem uma aproximação com os jovens, com as crianças, que colocam a todos que estão dentro da sala em um risco eminente de contaminação. Na quinta-feira, teremos um ato na prefeitura para tornar a tentar falar para o prefeito que os profissionais da educação estão morrendo e se ele ainda não percebeu isso, precisa perceber. Ele não pode dizer que não está tendo casos de covid-19 nas escolas porque não é verdade", afirmou.