Com Cristo no oxigênio, Economist diz que Brasil precisa tirar Bolsonaro em 2022 para sair de crisesReprodução/ BBC News Brasil
"Os desafios do Brasil são assustadores: estagnação econômica, polarização política, ruína ambiental, regressão social e um pesadelo ambicioso. E teve de suportar um presidente que está minando o próprio governo. Seus comparsas substituíram funcionários de carreira. Seus decretos têm forçado freios e contrapesos em todos os lugares", diz o texto de abertura do relatório assinado pela correspondente do Economist no Brasil, Sarah Maslin.
No artigo que conclui o relatório, intitulado "Hora de ir embora", a revista diz que o futuro do Brasil depende das eleições de 2022, e que a prioridade mais urgente do país é se livrar de Bolsonaro.
"Os políticos precisam enfrentar as reformas econômicas atrasadas. Os tribunais devem reprimir a corrupção. E empresários, ONGs e brasileiros comuns devem protestar em favor da Amazônia e da constituição", diz a revista.
"Será difícil mudar o curso do Brasil enquanto Bolsonaro for presidente. A prioridade mais urgente é votar para retirá-lo do poder."
A revista não sugere qual candidato seria o mais indicado para governar o Brasil.
"As pesquisas sugerem que Lula ganharia em um segundo turno contra Bolsonaro. Mas, à medida que a vacinação e a economia se recuperam, o presidente pode recuperar terreno. Lula deve mostrar como a forma de Bolsonaro de lidar com a pandemia custou vidas e meios de subsistência, e como ele governou para sua família, não pelo Brasil. O ex-presidente deve oferecer soluções, não saudades."
A revista, fundada em 1843 e lida por muitos empresários e políticos em todo o mundo, costuma fazer relatórios detalhados do Brasil. A imagem do Cristo Redentor costuma ser usada nas capas da revista como analogia para a sua opinião sobre o país.
Em 2009, uma capa mostrava o Cristo Redentor decolando, como se fosse um foguete, com a manchete "O Brasil decola", elogiando políticas econômicas da época. Mas em 2013, em uma imagem semelhante, o mesmo Cristo Redentor aparecia na capa como um foguete desgovernado e a manchete "O Brasil estragou tudo?". Naquela edição, a revista criticava uma mudança de rumo nas políticas econômicas.
A Economist argumenta que Bolsonaro não deu um golpe de Estado, como alguns temiam que pudesse acontecer, mas possui instintos autoritários que enfraqueceram as instituições democráticas brasileiras, com suas constantes agressões.
"Muitos especialistas disseram que as instituições brasileiras resistiriam a seus instintos autoritários. Até agora, eles provaram estar certos. Embora Bolsonaro diga que seria fácil realizar um golpe, ele não o fez. Mas, em um sentido mais amplo, os especialistas estavam errados. Seus primeiros 29 meses no cargo mostraram que as instituições do Brasil não são tão fortes quanto se pensava e se enfraqueceram sob suas agressões."
A revista diz que Bolsonaro encerrou a investigação da Lava Jato após acusações feitas contra seus filhos, beneficiando "políticos corruptos e grupos criminosos organizados", não promoveu mais reformas significativas desde a reforma da Previdência de 2019 e causou danos à Floresta Amazônica, por se solidarizar com madeireiros, mineiros e fazendeiros que promovem o desmatamento.
"Ele levou uma motosserra para o Ministério do Meio Ambiente, cortando seu orçamento e forçando a saída de pessoal competente. A redução do desmatamento requer um policiamento mais firme e investimento em alternativas econômicas. Nenhum dos dois parece provável."
Em outra reportagem, a revista afirma que depois de uma "geração de progresso", a mobilidade social está desacelerando no país. Segundo a revista, anos de políticas voltadas para o controle da inflação e diminuição da pobreza foram seguidos por uma "década de políticas ruins e sorte pior ainda".
"Guedes se gabava de que seriam feitas reformas para simplificar o código tributário, reduzir o setor público e privatizar empresas estatais ineficientes. No entanto, o espírito reformista se mostrou fugaz. Bolsonaro não é muito liberal. Seu desgosto por reformas duras tornou fácil para o Congresso ignorar a agenda de Guedes."
O relatório traz também análises sobre corrupção e crime, Amazônia, reformas políticas e eleitores evangélicos.
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