Rio,22/10/2021- SAO CRISTOVAO,posto BR na rua Francisco Eugenio gasolina nas alturas,aumento dos precos dos combustiveis. Na foto, Naya Pereira .Foto: Cleber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes

Rio - O Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes e de Lojas de Conveniência do Município do Rio de Janeiro (Sindcomb) informou, nesta sexta-feira, 22, que o risco de desabastecimento de combustíveis, por enquanto, está descartado na capital fluminense. Nesta quinta-feira, 21, transportadores de combustíveis iniciaram uma paralisação contra os aumentos dos preços dos combustíveis, principalmente o diesel
Em nota, o sindicato disse que as bases das companhias distribuidoras reabriram às 20h desta quinta-feira e retomaram os carregamentos de gasolina, óleo diesel e etanol hidratado. "O abastecimento aos caminhões FOB (Free On Board, de proprietários particulares) e CIF (Cost, Insurance and Freight, de propriedade das distribuidoras) vai seguir no fim de semana, de modo a atender à demanda reprimida por conta da paralisação dos tanqueiros", explicou o Sindcomb em comunicado.
Procurada por O DIA, a Polícia Militar informou que, até o momento, não há registros de ocorrências relacionadas à paralisação no estado do Rio nesta sexta. 
Na manhã desta quinta-feira, caminhoneiros paralisaram as bases de carregamento de combustíveis de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O ato ocorreu em manifestação contra o preço dos combustíveis e também pelo valor alto cobrado em fretes. De acordo com a PM, o bloqueio foi feito de forma pacífica, sem registro de prisões ou apreensões.
Minas Gerais
A paralisação dos transportadores de combustíveis e de derivados de petróleo em Minas Gerais atinge 100% dos tanqueiros no estado, segundo o presidente do Sindtanque-MG, Irani Gomes. As atividades foram interrompidas na madrugada desta quinta-feira, 21, e cerca de 800 caminhões estão parados na Região Metropolitana de Belo Horizonte, sem nenhuma interdição de rodovias ou estacionamentos. São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo também aderiram à paralisação.
Os motivos do protesto, segundo o sindicato, são os altos custos dos combustíveis praticados pela Petrobras e o ICMS dos combustíveis em Minas Gerais. Durante a manifestação, dois caixões foram colocados na entrada da BR Distribuidora, em Betim (MG), para simbolizar a "morte do frete". 
O sindicato informou que a greve é por tempo indeterminado, até que haja negociações com os governos. "Estamos com os braços cruzados até que o governo se sensibilize e olhe para essa categoria", afirmou Irani Gomes. A Câmara dos Deputados aprovou um projeto para reduzir os preços dos combustíveis, mas o presidente do Sindtanque-MG não considera a solução eficaz. "Isso é apenas tampar o sol com a peneira", avaliou Gomes.
Preço do diesel
O litro do diesel S-10, com menor teor de enxofre, alcançou em outubro maior preço médio mensal real (descontada a inflação) da última década, sendo vendido a R$ 5,033. Os dados são do Monitor dos Preços dos Combustíveis, lançado dia 5 pelo Observatório Social da Petrobras (OSP). Esse valor está 23% acima da média da série histórica, iniciada em 2012, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) passou a contabilizar os preços do S-10.
O monitor demonstra ainda que, comparado ao salário mínimo, o diesel teve um aumento de 10 pontos percentuais, subindo de 36% em dezembro de 2012 para 46% em outubro de 2021. Ou seja, um consumidor que abastece seu veículo com 100 litros de combustível num mês gastaria quase a metade de um salário mínimo para isso.
"Foi um crescimento muito grande neste último ano. Historicamente, o preço do diesel é menos volátil do que o da gasolina e isso se deve principalmente ao poder político e à greve dos caminhoneiros. Até hoje, a Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) está zerada, fruto das paralisações de 2018", afirma o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), responsável pela elaboração do monitor dos preços.
Gasolina e etanol
O preço médio do litro da gasolina comum estava a R$ 6,691 entre os dias 10 e 16 deste mês no município do Rio, de acordo com uma pesquisa realizada Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O valor máximo chegou a R$ 7,099 e o mínimo foi de R$ 6,299. No mesmo período, segundo o levantamento, o litro do etanol hidratado custava, em média, R$ 5,564 na capital. O custo máximo do combustível alcançou R$ 6,399 e o mínimo registrou R$ 5,079.
Motoristas enfrentam dificuldades
Para tentar economizar, o motorista autônomo Leonardo Cardoso, de 37 anos, contou que abastece o seu carro apenas uma vez ao mês, além de controlar a velocidade e o uso das marchas. Ele acrescentou: "Hoje, uma família de classe média não tem mais condições de andar 30 dias de carro. Não existe possibilidade para isso, porque, a cada três dias, há o aumento do preço do combustível. Nós também temos, a cada três dias, o aumento do preço dos alimentos", disse.  
Com a alta do preço dos combustíveis, o motorista autônomo Leonardo Cardoso passou a abastecer o seu carro apenas uma vez ao mês - Cléber Mendes/Agência O Dia
Com a alta do preço dos combustíveis, o motorista autônomo Leonardo Cardoso passou a abastecer o seu carro apenas uma vez ao mêsCléber Mendes/Agência O Dia
Ex-motorista de aplicativo, Naya Pereira, de 37, relatou que deixou o trabalho devido à alta dos valores dos combustíveis. Ela comentou, ainda, que não conseguia lucrar com o antigo emprego em meio ao atual cenário brasileiro. "Você não consegue levar dinheiro para casa. Você trabalha só para pagar conta, não tem lazer".
Ex-motorista de aplicativo, Naya Pereira contou que deixou o trabalho devido à alta dos valores dos combustíveis - Cléber Mendes/Agência O Dia
Ex-motorista de aplicativo, Naya Pereira contou que deixou o trabalho devido à alta dos valores dos combustíveisCléber Mendes/Agência O Dia
Na avaliação do entregador Júlio Borges, 30 anos, é um "absurdo" os trabalhadores terem que arcar com os consecutivos aumentos dos preços. "É um absurdo total. E nós, trabalhadores, é que estamos, literalmente, pagando por isso", disse, criticando também a inflação brasileira, que já registra alta de 10,25% nos últimos 12 meses.
O historiador Gabriel Vabo, de 35 anos, que trabalha na capital e vive em Nova Friburgo, na Região Serrana, precisou adaptar a rotina para tentar poupar gastos, retornando para casa somente nas sextas-feiras. Para ele, o atual custo dos combustíveis reflete um governo sem política econômica, "que prefere, hoje, colocar a culpa no contexto internacional do preço do barril de petróleo e do dólar do que assumir que nunca se dedicou a desenvolver uma política interna para o setor", afirmou.
*Com informações do Estadão Conteúdo