Levantamento foi feito com as 20 maiores redes de supermercado do Rio Reprodução

Um levantamento feito pela Associação de Supermercados do Rio de Janeiro (Asserj) com as 20 maiores redes de supermercado do Rio revelou que o preço praticado pela indústria na venda de carne de segunda, aos mercados, caiu em média 26%, em relação ao último mês. Segundo os dados, referentes aos primeiros 20 dias de novembro, o preço reduziu por conta do embargo imposto pela China em relação às importações de frigoríficos brasileiros.

De acordo com a Asserj, a carne, por ser um produto com validade curta, tem maior rotatividade no mercado, o que acaba gerando impactos de forma mais rápida no consumidor quando há movimentações no mercado.

Segundo o Embrapa, no ano passado o Brasil conquistou o posto de maior exportador de carnes do mundo, com 2,2 milhões de toneladas e 14,4% do mercado internacional, na frente de países como Austrália, Estados Unidos e Índia.

O bom desempenho nas exportações acaba diminuindo, invariavelmente, a oferta no mercado interno. Com a impossibilidade de venda para a China, um dos maiores compradores de carne bovina brasileira, o aumento da disponibilidade interna impactou diretamente no preço praticado pelos mercados.

“Com a suspensão das importações pela China, a oferta da carne de segunda aumentou no Brasil. Isso fez com que os preços caíssem em média 26%. Em um momento de inflação, essa é uma notícia animadora para o bolso do consumidor”, disse Fábio Queiroz, presidente da Asserj.

A alta de preços vista nos últimos meses, no entanto, ainda afeta diretamente o orçamento dos consumidores. A grande questão por trás dos patamares elevados da carne bovina no país pode ser explicada com as mudanças no setor durante a pandemia, afirma o economista e professor do Ibmec Tiago Sayão.

“Muitos frigoríficos, durante a pandemia, acabaram ajustando suas plantas industriais para abastecer exclusivamente o mercado internacional. (...) Quando você pensa no pecuarista, ele vai avaliar como vai vender o quilo da carne [no mercado interno] comparando a renda que ele recebe em dólar. Como você tem uma diferença expressiva na taxa de câmbio, isso acaba aumentando os preços no mercado interno”, explica o economista.

O grande problema em relação a basear esse mercado no ganho com a moeda estrangeira, é a dificuldade na redução de preços nas outras etapas. No caso da pecuária, a possibilidade de diminuição das margens praticadas por supermercados é muito inferior à da indústria, pontua o especialista.

“O varejo sempre vai trabalhar com margens muito pequenas, porque o ganho sempre acaba sendo nas etapas anteriores. A relação entre o pecuarista, o frigorífico e a indústria detém a maior possibilidade de aumento das margens. Por ser uma commodity, ele vai sempre avaliar a possibilidade de aumentar essa margem vendendo no mercado internacional”, afirma. 
Apesar da rápida queda, a China liberou, nesta terça-feira, 23, a importação dos lotes de carne bovina que foram certificados antes do embargo do dia 4 de setembro - um dia antes do anúncio dos casos de vaca louca em Minas Gerais e no Mato Grosso, que motivaram a medida. Além disso, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), a arroba do boi gordo voltou a subir, o que comprime ainda mais a possibilidade de redução de preços ao consumidor. No último dia 12, por exemplo, a arroba foi cotada em R$ 301; já a cotação desta terça-feira, 23, traz o valor de R$ 316,90.
"A princípio, foram dois casos isolados de vaca louca, então é provável que, depois que forem esclarecidos esses casos, possivelmente ocorra a volta da normalidade em relação à importação da China. Não é um efeito que possa ser considerado permanente", explica Tiago.
Para Marco Quintarelli, consultor e especialista em varejo, com a possibilidade de aumento do interesse externo e a alta nos custos da cadeia produtiva, também não é possível afirmar que a redução dos preços se mantenha.
"Se a demanda interna for menor, com certeza os frigoríficos terão que melhorar esses preços, mas os próximos dias serão de incerteza", afirma. "Acredito que até o Natal se mantenham neste patamar. Depois não se sabe, pois tem muita coisa que influencia o mercado".
*estagiária sob supervisão de Marina Cardoso