Reajuste poderá ser feito se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não se posicionar contra o aumento praticado pela PetrobrasAndré Motta de Souza / Agência Petrobras

Rio - De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), os consumidores de gás natural no Rio de Janeiro podem começar o ano com um reajuste de 40% no preço do combustível. O aumento poderá ser sentido tanto para os motoristas ou quanto nas residências.
O reajuste poderá ser feito se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) não se posicionar contra o aumento praticado pela Petrobras, afirmou o diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça.
"O aumento para o consumidor será maior ou menor, dependendo de quanto vai precisar comprar da Petrobras, mas estamos aguardando o posicionamento do Cade, não temos outra opção. Para garantir a segurança energética a distribuidora vai ter que assinar", disse Mendonça, observando que cada estado terá um reajuste diferente, dependendo do nível de descontratação.
Procurada pelo O DIA, a Naturgy esclareceu que em janeiro incidirá o reajuste no custo de aquisição do gás (molécula e transporte) comprado da Petrobras. "Trata-se de um reajuste por parte da Petrobras em razão da alta dos preços de gás internacionais e da variação do Brent e do dólar. São custos não gerenciáveis pela Naturgy e, portanto, o aumento do preço não traz nenhum ganho para a distribuidora", afirmou, em nota.
O presidente do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Rio de Janeiro (Sindirepa) e vice-presidente da Firjan, Celso Mattos, manifestou preocupação quanto ao novo valor do gás natural, visto que o contrato de fornecimento chega ao fim em 31 deste mês, e um reajuste está no horizonte.
“Ao majorar a formação do preço do gás, haverá impactos significativos para o consumidor final, com redução na capacidade de retomada econômica e de expansão do mercado de gás. É lamentável que a necessidade de espaço das térmicas afete o segmento de demanda firme, historicamente atendido sem que se precise importar o GNL”, advertiu Mattos, defendendo a manutenção do contrato nos moldes atuais.
Mattos afirmou que acredita que o momento é extremamente inoportuno para a reestruturação do contrato vigente com as distribuidoras. "Não defendemos aqui uma interferência no modelo atual. O que defendemos é que não se crie gatilhos, para cobrir perdas que a Petrobras tem em um segmento, por meio da majoração de custos para o mercado de GNV e a indústria”, afirmou ele.
Aumento do gás
A associação entrou em novembro com representação no Cade denunciando o aumento abusivo da Petrobras, fornecedora de 80% do gás natural comercializado no Brasil. Por falta de concorrência, as distribuidoras estão tendo que aceitar o reajuste de 50% anunciado pela empresa, o que vai afetar principalmente as que estão 100% descontratadas, como é o caso da Naturgy, controladora das distribuidoras de gás do Rio de Janeiro, Ceg e Ceg Rio.

A última proposta da Petrobras foi um contrato de quatro anos, com ajuste de 50%, ou de curto prazo sujeito ao mercado spot (à vista), cujos aumentos podem chegar a 200%, segundo Mendonça.
A expectativa é de que o órgão que cuida da concentração econômica se posicione antes do fim do ano, quando as distribuidoras terão que assinar os contratos com a Petrobras, a fim de garantir o abastecimento em 2022. "Uma vantagem que temos é que esse não é um processo novo. O entendimento do Cade é de que a operação da Petrobras é um monopólio de fato, não vai partir do zero", observou.

Mendonça ressaltou, no entanto, que mesmo com o aumento de preço, o Gás Natural Veicular (GNV) continua competitivo com a gasolina e o etanol, dois combustíveis que tiveram seus preços elevados durante todo o ano.
*Com informações do Estadão Conteúdo