O mercado de franquias mostrou recuperação no ano passado, compensando as perdas de 2020 e quase igualando o desempenho de 2019. É o que mostra o balanço anual realizado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF). O faturamento das franquias no Brasil passou de mais de R$ 167 bilhões em 2020 para mais de R$ 185 bilhões em 2021, um crescimento de 10,7%, chegando a patamar semelhante ao de 2019 que foi de mais de R$ 186 bilhões.
No quarto trimestre de 2021, cuja comparação já se deu com um período menos impactado pela pandemia, o crescimento foi de 5%, alcançando mais de R$ 56 bilhões, 3,1% acima do mesmo período de 2019. O setor registrou ainda expansões expressivas em número de unidades, redes de franquia e empregos diretos.
A flexibilização ou suspensão das medidas restritivas de distanciamento social, ampliando o funcionamento do comércio em geral, bom desempenho de alguns setores beneficiados pela maior permanência das famílias em casa, como o de construção civil e de saúde e beleza, os ganhos de eficiência das redes de franquias, que investiram mais na digitalização de suas operações, na multicanalidade, em novos modelos de negócios, foram alguns dos fatores que contribuíram para esse bom desempenho.
O setor se beneficiou também da retomada gradual dos hábitos dos consumidores, que inclusive impulsionou também a área de serviços de forma geral, do aumento significativo do movimento nos shoppings centers e da chegada de novos players.
Para André Friedheim, presidente da ABF, esse crescimento do mercado de franquias mostra a força do setor, que também sofre os impactos da pandemia, porém está reagindo.
"Os dados mostram que o mercado de franquias registrou uma recuperação mais homogênea em 2021 na comparação com 2020 e que segmentos como Case e Construção e Saúde, Beleza e Bem-Estar até ganharam espaço. É preciso que seja mantida a vacinação em massa da população e, entre outras ações que melhorem o ambiente econômico, que haja medidas de estímulo ao consumo para que o franchising e o mercado como um todo mantenham sua trajetória positiva, gerando empregos, movimentando a econômica e recebendo profissionais que desejam abrir seu negócio como alternativa renda ou investimento”, disse.
Friedheim destaca também os esforços de adequação rápida das redes nos últimos dois anos. “A quase totalidade das marcas reviram de cima a baixo seus planos de negócios e passaram a focar sua atenção na reformulação de processos, na consolidação de canais digitais de gestão, comunicação e vendas e na reformatação de produtos e serviços. Em muitos casos, foi até possível acelerar o crescimento ou abrir novos nichos de atuação. Foi um aprendizado profundo em um curto espaço de tempo, mas estou seguro que o setor sai mais ágil, flexível e alinhado as demandas da transformação digital”, afirmou.
O estudo aponta ainda que mais empresas adotaram o sistema de franchising no último ano, assim como houve uma disseminação maior de modelos como home based e franquias digitais, mostrando, ao mesmo tempo, a atratividade do setor para outros ramos da economia e novos caminhos para o crescimento das redes.
Com a elevação expressiva do IPCA, a ABF pesquisou o impacto da inflação no setor e identificou que 67% das marcas afirmam ter repassado o impacto através do ajuste de preços, mas na média de apenas 30% do impacto total recebido. Readequação das operações (58%) e troca de fornecedores (44%) foram outras medidas tomadas para administrar os reflexos da inflação.
Número de unidades
O balanço do franchising em 2021 indica um crescimento de 9,1% no total de unidades de franquia na comparação com 2020, e de 6,2% em relação a 2019, totalizando 170.999 operações. A mortalidade foi de 5,5%, retornando a patamares próximos ao período pré-pandemia. Quanto aos repasses, o levantamento indica que houve um ligeiro aumento, de 2,8% no ano passado ante a 2,5% em 2020.
“Esse expressivo aumento de unidades em operação em um ano ainda bastante impactado pela pandemia se deve a combinação de alguns fatores. Primeiro, com o cenário um pouco melhor, muitas redes retomaram seus planos de expansão e encontraram profissionais com conhecimento e capital em busca de alternativas de negócio e ocupação. Segundo, temos mais marcas aderindo ao franchising, sendo que algumas delas transformaram outros modelos de parceria em franquias. Com o boom do e-commerce, tivemos, por fim, uma maior adesão a franquias home based e virtuais que, de fato, se inserem neste contexto como uma opção de investimento mais baixo e de implantação mais rápida”, observa o presidente da ABF.
Seguindo tendência dos últimos anos, a média de unidades de franquias por rede se mantém em alta. O levantamento da ABF apontou um avanço de 1% nesse indicador no ano passado e de 7,6% em relação a 2019. Este é um dado relevante, pois aponta que as redes estão ganhando mais escala e capilaridade.
Redes também em alta
O número de redes de franquias também registrou crescimento, aponta o estudo da ABF. O balanço de 2021 indica que houve um avanço de 8,0% em relação a 2020. Com isso, o Brasil totalizou 2882 marcas no ano passado ante 2.668 em 2020. De acordo com Friedheim, “é possível observar novas empresas que ingressaram no setor, outras que adotaram novos canais de venda e expansão dos negócios, e o franchising foi a estratégia escolhida, o que refletiu nesse aumento do número de marcas”.
Geração de empregos
Com a retomada da expansão e faturamento, o ecossistema de franquias abriu mais postos de trabalho. Em relação a 2020, o número de trabalhadores diretos no setor aumentou 12,1%, passando de 1.258.884 para 1.411.319 no ano passado, e 3,9% a mais frente a 2019. Em 2021, em média, cada unidade de franquia gerou oito empregos diretos.
“Alavancado pela retomada da expansão e do faturamento, o setor mais uma vez mostrou sua força na geração de empregos. Muitos deles estão em sua primeira experiência e as redes têm o importante papel de formação. Um ambiente menos burocrático e com uma carga tributária mais equilibrada certamente ajudaria o setor a gerar ainda mais postos”, afirmou o presidente da ABF.
Crescimento dos segmentos
No balanço anual, todos os 11 segmentos elencados pela Associação Brasileira de Franchising apresentaram crescimento em 2021 na comparação com o ano anterior. Pelo segundo ano consecutivo, os principais destaques foram Casa e Construção, com alta de 19,3%, e Saúde, Beleza e Bem-Estar, com elevação de 10,5%, sendo que esses resultados foram obtidos sob bases não depreciadas.
No caso de Casa e Construção, a ressignificação dos lares (que passaram a reunir atividades de trabalho, estudo, lazer e maior tempo de convivência) impulsionou a realização de reformas, aprimoramentos e até a mudança de endereço/cidade em alguns casos, e o aquecimento da construção civil de forma geral foram os principais impulsionadores.
Já o ramo de saúde, envolvendo redes de clínicas e farmácias, por exemplo, registrou uma demanda maior por estar diretamente ligado à pandemia. Além disso, o desejo de bem-estar, a procura por procedimentos estéticos e o redirecionamento de recursos que seriam utilizados para outros fins, como viagens e outras atividades sociais restritas nesse período, contribuíram para o crescimento de Saúde, Beleza e Bem-Estar.
No entanto, em termos absolutos a maior variação em 2021 foi de Entretenimento e Lazer, alta de 21,2%. Um dos mais afetados pela pandemia, este segmento começou a se recuperar de forma mais tardia, principalmente nos últimos três trimestres de 2021, mas ainda não retomou patamares de 2019. Hotelaria e Turismo teve uma recuperação mais disseminada ao longo do ano passado, fechando 2021 com alta de 19% e sendo o segmento que mais cresceu no quarto trimestre (+15,8%). A retomada das viagens, alguns eventos e do movimento nos aeroportos muito relacionado ao avanço da vacinação contribuíram com este movimento.
O segmento de Moda cresceu 15,2%, sendo impulsionado pela retomada do movimento nos shoppings, pela maior maturidade dos canais digitais e pela retomada gradual dos hábitos dos consumidores. Limpeza e Conservação registrou uma elevação de 14,7%, alavancado pela maior demanda por serviços sanitizantes e serviços de forma geral. Com uma elevação de 12,5%, Alimentação, Comércio e Distribuição se beneficiaram pela maior demanda por itens básicos e os recursos injetados pelo auxílio emergencial.
Por fim, ainda acima da média do setor, temos Serviços e Outros Negócios, com alta de 11,1%. Influenciaram estes resultados o crescimento do mercado de serviços de forma geral e serviços de logística. É importante ressaltar que estes dois últimos segmentos apresentaram bons resultados também no 4º trimestre de 2021, com altas de 9,9% (Serviços e Outros Negócios) e 8,3% (Alimentação -- Comércio e Distribuição).
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