Levatamento da Abrasel aponta que 42% dos restaurantes ainda faturam menos que no pré-pandemiaMarcelo Camargo/Agência Brasil

Ainda em recuperação dos efeitos da variante Ômicron, as atividades terciárias devem apresentar preços pressionados pelo reajuste de tarifas, segundo análise da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A estimativa da entidade é que, com a maior permanência dos juros mais altos, o volume de receitas do setor de serviços apresente queda de 0,9% neste ano, enquanto o de turismo deve registrar aumento de 1,6%.
A projeção leva em consideração os dados da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) de janeiro de 2022, divulgada hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontou recuo no volume de vendas do setor de serviços, na comparação com dezembro de 2021. Já em relação ao mesmo mês do ano anterior, o segmento registrou crescimento de 9,5%, a 11ª expansão mensal consecutiva.
Sobre a retração, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, lembra que o mês de janeiro foi marcado pela retomada do isolamento social, em consequência do avanço da variante Ômicron. “A circulação de pessoas havia apresentado clara tendência de avanço desde a segunda onda da pandemia, mas o cenário se modificou de 2021 para 2022, prejudicando o nível de atividades do setor e interrompendo a sequência de dois meses de avanço no volume de receitas.”
Dos cinco grupos de atividades avaliados, três apontaram quedas mensais, destacando-se negativamente os serviços de informação e comunicação (-4,7%) e os prestados às famílias (-1,4%). O setor de serviços, no entanto, é o único a apresentar um nível de atividade econômica acima do verificado às vésperas da crise sanitária, com um volume de geração real de receitas 7% superior ao registrado em fevereiro de 2020.
Prejuízo no turismo
O segmento de turismo, por outro lado, ainda apresenta significativa perda relativa, no mesmo período, de 11%. Em janeiro, a diferença entre a geração efetiva de receitas e o seu potencial mensal registrou perda de R$ 11,8 bilhões. Segundo levantamento da CNC, com base nos dados do IBGE, o turismo brasileiro já acumula um prejuízo de R$ 485,1 bilhões desde o início da crise sanitária, com destaque para os Estados de São Paulo (R$ 210,9 bilhões) e Rio de Janeiro (R$ 61,7 bilhões), que concentram 56% da perda nacional.
A expectativa da CNC é que, em 2022, o segmento apresente um crescimento no volume de receitas de 1,6%, percentual bem mais modesto do que os 22,1% registrados no ano passado. O economista da entidade responsável pela análise, Fabio Bentes, estima que os preços das atividades turísticas tendem a ser impactados não somente pela retomada da demanda, mas também pelos preços de custos, como reajustes nos transportes (especialmente, passagens aéreas) e alimentação fora do domicílio.
Da mesma forma, após crescer 10,9% no último ano, o setor de serviços deverá apresentar maiores dificuldades, apesar de o reajuste nos preços dos serviços estar aquém do IPCA, dada a alta taxa de difusão de alta dos preços nos últimos meses. “O aperto monetário poderá se prolongar por um período maior que o anteriormente esperado, em razão de resiliência inflacionária impulsionada pelo conflito no leste da Europa”, avalia o economista. Atualmente, a taxa de inflação anualizada no setor de serviços (+5,9%) é a maior desde março de 2017.