Edifício-Sede do Banco Central em BrasíliaMarcello Casal Jr/Agência Brasil
A decisão desta quarta-feira, 16, foi a nona alta consecutiva da Selic - após a taxa chegar à mínima histórica de 2% - acumulando 9,75 pontos de ajuste. A última vez que houve nove aumentos seguidos (completando um ano de aperto) foi entre abril de 2013 e abril de 2014.
Mas, naquela época, o avanço foi mais modesto, de 7,25% para 11,00%, ou 3,75 pontos porcentuais, nas vésperas da campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Já o choque de juros deste ciclo já é o maior desde 1999 quando, durante a crise cambial, o BC aumentou a Selic em 20 pontos porcentuais de uma vez só.
A decisão era esperada pela maior parte do mercado financeiro. Conforme pesquisa do Projeções Broadcast, 44 das 53 instituições consultadas esperavam alta da Selic de 1,00 ponto porcentual, para 11,75% ao ano. Oito apostavam em aumentos maiores, seis de 1,25 pp, a 12,00%, e dois de 1,50 pp, a 12,25%. Havia ainda uma estimativa de elevação de 0,75 pp, a 11,50%.
No Copom de fevereiro, o BC havia indicado a intenção de reduzir o ritmo de alta dos juros básicos, citando o estágio avançado do ciclo. Mas a reviravolta causada pela invasão da Ucrânia pela Rússia embaralhou o cenário, com fortes efeitos inflacionários também no Brasil, a exemplo do megarreajuste dos combustíveis.
No Boletim Focus, a estimativa para o IPCA, índice de inflação oficial, de 2022 (6,45%) indica que a meta deste ano (3,50%, com tolerância de 2% a 5%) está praticamente perdida, após o desvio de quase 5 pontos em 2021, quando o IPCA foi de 10,06%. A projeção de 2023 (3,70%), foco principal de política monetária, também se afasta do objetivo principal do BC no ano que vem (3,25%, com banda de 1,75% a 4,75%).
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
Juro real
Com os nove últimos aumentos da Selic, o Brasil se consolidou como sede de uma das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do mundo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 7,10% ao ano. O País possui o segundo juro real mais alto do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes.
O Brasil só fica atrás da Rússia que, encurralada pelas sanções decorrentes da invasão à Ucrânia, precisou elevar sua taxa nominal de juros de 9,5% para 20% e estabelecer o controle de capitais no fim de fevereiro. A taxa real russa está em 30,07%.
Vale salientar que as incertezas relacionadas ao arcabouço fiscal de longo prazo têm contribuído para essa conjuntura, com aumento da percepção de risco que, por conseguinte, compromete a retomada da confiança dos empresários e investidores.
Nesse contexto, mesmo diante de um cenário internacional adverso, o país deve evitar medidas compensatórias que piorem o já abalado quadro fiscal brasileiro. Além disso, para a solidificação de alicerces para o crescimento econômico sustentável, é impreterível o resgate da credibilidade fiscal com a aprovação de reformas capazes de sinalizar a boa conduta no caminho da sustentabilidade das contas públicas.
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