Valentim da Silva e Rita Cristina observam os preços do bacalhau no Cadeg, na Zona Norte do RioCleber Mendes/Agência O Dia

Os itens que compõem a mesa de almoço da Páscoa registraram um aumento médio de 3,93% em comparação com o ano passado. Apesar dessa taxa ter ficado abaixo da inflação acumulada entre abril de 2021 e março deste ano pelo IPC-M da FGV, que foi de 9,18%, alguns produtos subiram até 21,50%. A pesquisa foi divulgada nesta segunda-feira, 4, pelo Instituto Brasileiro da Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE). 
Entre os que mais subiram, destacam-se os relacionados a hortifruti, proteínas e importados: couve (21,50%), batata-inglesa (18,43%), sardinha em conserva (16,44%), azeite (15,63%), azeitona em conserva (14,38%) e bacalhau (11,50%).
“Em 2020/21, vivíamos uma tempestade perfeita para essa cesta especificamente, problemas climáticos e forte desvalorização cambial afetavam tanto a produção nacional do campo como os importados. No entanto, o novo problema de monções em 2022 e o fim da seca generalizada fizeram os hortifrutis assumir o protagonismo da inflação e permitiram ao arroz devolver boa parte do aumento sofrido no ano anterior”, disse Matheus Peçanha, economista e pesquisador do IBRE/FGV.
A pesquisa também aponta para o aumento da cebola (6,41%), ovos (9,89%), pescados frescos (8,33%), atum (3,59%) e vinho (6,12%). No caso dos doces, o bolo pronto registrou alta de 7,49%, bombons e chocolates tiveram aumento de 3,92%. 
No caso do arroz, houve um recuo do preço em 12,20% em relação ao ano passado, sendo o principal responsável pela desaceleração da cesta como um todo. Caso o item fosse retirado da cesta, a inflação dos itens de Páscoa seria de 9,79%, ligeiramente acima da inflação registrada no IPC.
Nos próximos dias, o consumidor deve ficar atento em relação aos preços praticados. O economista indica que um reajuste pode ser praticado pela chegada da Semana Santa. “A pesquisa não mostra, em definitivo, a elevação dos itens de Páscoa que o consumidor vai encontrar. Só medimos o que aconteceu com os preços dessa cesta específica nos últimos 12 meses, até março deste ano. Além do aumento já registrado de 8,33% do pescado fresco e 9,89% dos ovos, os preços desses itens tradicionais pode subir mais ainda, dada a pressão sazonal da demanda às vésperas da Semana Santa. Além disso, itens não contemplados no escopo do IPC, como os ovos e colombas de Páscoa, devem sofrer igualmente com essa pressão de demanda pela tradição”, afirmou Peçanha.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que mede a prévia oficial também já indicou que a taxa de vários itens ficou em 0,95% em março deste ano, sendo a maior alta de preços para o período desde 2015 (1,24%).
Desta forma, o valor do chocolate já pode ser percebido em diferentes cidades do país, com ovos que chegam a custar até R$ 100 ou mais. O aumento está relacionado ao preço do cacau, do açúcar e do leite, por exemplo, assim como a variação do dólar. Apesar disso, o setor varejista está otimista, já que, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas do varejo voltadas para a Páscoa devem totalizar R$ 2,16 bilhões, um crescimento de 1,9% em relação ao mesmo período do ano passado. No caso do bacalhau e outros itens presentes na ceia, a pesquisa destacou que estão até 7% mais caros que em 2021 - maior alta desde 2016 (+10,3%).
Para quem deseja economizar, sem deixar a tradição de lado, a educadora financeira e fundadora do Instituto Soaper, Aline Soaper, dá algumas dicas. Segundo ela, quem não quer deixar de presentear amigos ou familiares com os tradicionais ovos de Páscoa precisa definir um valor fixo a ser gasto com esses mimos. "Esse valor precisa ser definido com base na realidade de cada família e dividido pela quantidade de pessoas que serão presenteadas. Além disso, é fundamental evitar os parcelamentos, porque apesar das parcelas serem pequenas, elas podem se acumular com outras que já foram feitas anteriormente”, explica Aline Soaper.

Outra dica da educadora financeira é pesquisar e usar a criatividade na hora das compras. “Para quem está com um orçamento apertado, trocar as marcas mais famosas por outras que estão chegando no mercado, com preços mais acessíveis, é uma boa forma de economizar sem deixar de presentear”, aconselha a educadora financeira. E se os ovos de Páscoa estão fora do orçamento, Aline Soaper indica os bombons e as barras de chocolate, além das opções feitas em casa, como forma de manter a tradição da troca de doces nesse período sem gastar muito. 
No Cadeg, Mercado Municipal do Rio, em Benfica, na Zona Norte do Rio, consumidores já estão à procura de itens para a Páscoa. É o caso de Rita Cristina, de 55 anos, ela disse que já fez uma pesquisa e encontrou o melhor preço por lá. "Eu fiquei procurando, porque está apertado para fechar as contas, mas nunca faltou o bacalhau e não pode ficar de fora. Aproveitei comprando porque vi o melhor até agora", disse ela. 
Já Valentim da Silva, de 62 anos, ainda não comprou o bacalhau. "Fui procurar frutas e aproveitei para conferir outros itens, inclusive o bacalhau, que obviamente está com o preço muito alto, face a inflação existente no mercado. Agora é fazer pesquisas até comprar o peixe", afirmou.
Direitos do consumidor
Por conta disso, a presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Municipal, Vera Lins (PP), pede atenção redobrada ao adquirir esses produtos, evitando assim que os consumidores acabem comprando gato por lebre. "Antes de mais nada é preciso que o consumidor observe o prazo de validade do produto e sua procedência. Além disso, os ovos com brinquedos em seu interior, que tanto chamam a atenção dos pequenos, precisam conter em sua embalagem e, em local de fácil visualização, o selo de certificação do Inmetro", disse.
Vera lembra ainda que outro item muito procurado nessa época é o bacalhau. Além do preço salgado, o consumidor precisa verificar a validade do produto e ficar de olho no peso, já que todo cuidado é pouco na hora de comprar produtos embalados. Ela lembra que o peixe precisa estar com sua cor natural branca e firme. Se ele estiver com uma cor alaranjada, rosada ou se desfazendo pode ser um sinal de fungos. 
Dessa forma, é importante reclamar imediatamente ao gerente do estabelecimento e, em caso de negativa, ligar para os órgãos de defesa do consumidor. Já em caso de desconfiança do peso de qualquer produto embalado, o consumidor pode pedir para utilizar uma balança.
"Se a diferença for muito grande, mesmo com uma balança do próprio mercado, é possível verificar se há irregularidade. Basta retirar o produto da embalagem e pesá-lo separadamente. Se ele apresentar peso
igual ao informado na embalagem, é sinal de que há algum problema, pois o peso da embalagem deve ser descontado do total", explicou.
O consumidor que quiser reclamar ou denunciar um direito violado, pode fazê-lo através do Facebook, no endereço https://m.facebook.com/ComissaoMunicioalDeDefesaDoConsumidorRJ e registrar sua reclamação. Ele também pode encaminhá-la pelo e-mail consumidor@camara.rj.gov.br, e postá-la no site www.camara.rj.gov.br clicando no “reclame aqui” do link da Defesa do Consumidor, ou através do 0800 285 2121.