Novo presidente da PetrobrasArquivo pessoal

O Ministério de Minas e Energia comunicou na tarde desta segunda-feira, 4, o desconhecimento sobre a desistência de Adriano Pires para a presidência da Petrobras. A informação é contrária ao que Pires havia informado para nomes da estatal. 
"O Palácio do Planalto e o Ministério de Minas e Energia não receberam nenhum comunicado oficial do Senhor Adriano Pires nesta segunda-feira, 4", diz a assessoria de imprensa da pasta.

No início da tarde desta segunda-feira, Pires havia comunicado sobre a desistência em assumir o comando da estatal depois de o governo receber informações de que o nome do indicado não seria aprovado pela política de governança da empresa.

O escolhido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), é sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), que tem contratos de longo prazo com petroleiras e empresas de gás, como a Cosan, o que poderia configurar conflitos de interesse. Diante disso, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) ingressou com pedido para que o economista não assumisse a presidência antes de uma investigação. 
A escolha foi após o chefe do Executivo demitir Joaquim Silva e Luna da presidência. Incomodado com os constantes aumento dos combustíveis pela estatal, o último reajuste teria sido o estopim para que Bolsonaro pedisse pela saída do atual presidente. Ele foi indicado pelo governo como o terceiro presidente da Petrobras.
A Petrobras pratica a chamada paridade de preços, ou seja, paga pelo produto o preço cobrado no mercado internacional e, por isso, repassa eventuais altas para refinarias, o que leva ao aumento de preços para o consumidor final.
No mês passado, diante do aumento na cotação do petróleo no mercado internacional, reflexo da guerra na Ucrânia, a Petrobras reajustou em 18,8% o valor da gasolina e em 24,9% o diesel. No dia seguinte, o Congresso aprovou e Bolsonaro sancionou um projeto que faz alterações na tributação sobre os combustíveis para tentar aliviar a alta de preços. Para Bolsonaro, o impacto da aprovação do projeto foi "mitigado" porque a Petrobras fez o anúncio do mega-aumento antes.
Desistência
Segundo fontes, Pires achou que daria simplesmente para passar para o filho, o que não é permitido pelas regras de governança da estatal. Com o impedimento, ele decidiu abrir mão do comando da Petrobras.

A checagem do nome de dirigentes por empresas de fora da Petrobras é uma obrigação das regras da estatal, que tem ações na Bolsa.

Com o alerta da Petrobras apontado conflito de checagem, os patrocinadores da indicação de Pires no governo foram retirando o apoio. "O cara é um conflito ambulante", resumiu uma fonte do Palácio do Planalto.

Alinhado com o ministro das Minas e Bento Albuquerque, a indicação de Pires também é vista com restrições por integrantes da equipe econômica que participaram das negociações da lei do gás.

Na votação da Medida Provisória que permitiu a privatização da Eletrobras, Pires se aproximou de lideranças do Centrão, entre eles, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que teria pavimentado o acesso dele e de Pires ao gabinete de Bolsonaro.

Em reuniões com representantes do Ministério da Economia, Pires defendeu os interesses das empresas ao patrocinar os "jabutis" (medidas estranhas ao projeto, como a exigência na contratação de térmicas) que foram colocados na nova legislação, o que irritou os negociadores do Ministério da Economia. É muito lembrado com ironia artigo escrito por ele que diz tratar de um completo equívoco técnico chamar de "jabutis" as modificações feitas pelos parlamentares, porque as mudanças mais se pareciam com "corujas", que representam sabedoria, inteligência e visão.

Na época da escolha de Pires para o comando da Petrobras, o sentimento foi de perplexidade no time do ministro da Economia, Paulo Guedes. O maior conflito de interesse de Pires é a ligação com o empresário Carlos Suarez, dono de distribuidoras de gás, e Rubens Ometto, da Cosan.

Após decisão de Pires, funcionários da Petrobras comemoram a desistência com a avaliação de que a governança estava sendo suficiente para impedir nomeações que possam complicar os rumos da empresa.
*Com informações do Estadão Conteúdo