Superintendência da Receita Federal, em BrasíliaMarcelo Camargo/Agência Brasil

A demora da Receita Federal em liberar cargas importadas pode levar a um aumento do preço do pão francês e fazer faltar nas prateleiras sabão em pó e amaciante. Diversos setores da economia dizem estar sendo prejudicados pelo movimento dos auditores fiscais, entre eles os de alimentos, higiene e limpeza, bens de consumo, automóveis e varejo.
De acordo com o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla), Paulo Engler, há relatos de empresas associadas que esperam a liberação pelo Fisco de insumos que chegaram ao Brasil há meses
Um grande fabricante de produtos de limpeza que pediu anonimato aguarda a liberação de matéria-prima há 83 dias. "Já há partes da produção paradas, parte dos reagentes, parte dos laboratórios Estamos com receio de que poderemos ter problemas em toda a linha de produção. O atraso está grande demais e acendeu uma luz no setor, que pode sofrer interrupção se não houver liberação rápida", afirmou.
O vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh, conta que há 38 mil toneladas estocadas em Santos (SP), o equivalente a 27% da quantidade moída em um mês no Estado de São Paulo.
Insumo para farinha de trigo, pães e massas, há cargas do grão paradas há 14 dias, segundo ele, enquanto a liberação ocorria em até 48 horas antes da operação-padrão. "Isso começa a comprometer o estoque dos moinhos. Neste momento, ainda não tem desabastecimento, mas não posso afirmar que não vai ter porque não tenho nenhuma previsão da Receita de quando a carga será liberada", disse.
Saigh alerta que a capacidade de armazenamento nos silos está no limite e há cinco navios chegando nos próximos dias. Sem conseguir descarregar, as embarcações ficam paradas em Santos, o que causa um prejuízo de R$ 210 mil por dia aos importadores.
"Não tem como não repassar isso para os preços. Nós já vínhamos defasados, o preço do trigo aumentou 40% em função da guerra, o frete dobrou. A indústria fez o seu papel, se programou, fretou navio. Agora, precisamos de uma atenção da Receita Federal."
Inevitável
O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), Isac Falcão, disse que o movimento é "inevitável" diante da decisão do governo federal de cortar em 50% o orçamento da Receita neste ano.
Apesar das filas nas aduanas, ele diz que o governo segue "fechado ao diálogo". "Dizem coisas genéricas, que entendem nossos pleitos como importantes, justos, razoáveis. Mas não dão prazo para resolver os problemas", completou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.