Mayra Carvalho tem 29 anos e começou a conta no Instagram para fazer as vendas quando era universitáriaReprodução

Com o avanço da tecnologia e das redes sociais, o conhecido método da venda de porta em porta, ou a venda direta, ganhou novos rumos para conectar o cliente a produtos e serviços. Esse tipo de demanda é baseada na ligação entre o vendedor e o comprador, sem a necessidade de um estabelecimento para intermediar a relação — como as vendas de cosméticos por meio de revistas. Por conta da pandemia, o social selling — que é o comércio direto feito pelas mídias sociais, whatsapp, aplicativos e sites — se tornou a principal frente desse mercado. 
Especialista em vendas e marketing digital, Diogo Hudson explica que o sistema de venda porta em porta foi abalado nos dois últimos anos por conta de lockdowns e quarentenas causados pela covid-19. "A pandemia impactou muito esse tipo de negócio, porque o calor humano é fundamental para que ele aconteça", explica. A saída encontrada pelos empreendedores foi buscar novas estratégias para chegar até o consumidor. O social selling foi uma delas.
Segundo um levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (ABEVD), 57,8% do setor é formado por mulheres. Mayra Carvalho, de 28 anos, faz parte desse grupo de comerciantes. Dona de um brechó on-line, a assistente social administra uma conta no Instagram, por meio da qual vende peças usadas 
"Eu comecei o brechó porque estava na faculdade e precisava de dinheiro para passagem, porque meu gasto com transporte era alto. Até hoje lembro do dia que eu fiz a primeira venda: foi uma blusa de R$ 5, que entreguei na rodoviária de Campo Grande. Quando a cliente me pagou, eu já peguei o ônibus com aquele dinheiro", lembra.
Mayra conta que passou a usar o Instagram como ferramenta para atingir um público mais amplo e converter seguidores em clientes. "Notei que era bom ter horário certo para postar, que era horário de pico. Vi que eu podia comprar uma sacola diferente [pra entrega das encomendas], escrever um recadinho para as clientes. Comecei com um preço bem baixo, mas depois consegui aumentar. Investi em detalhes que fazem a diferença. Por exemplo, comprei essência para lavar e passar as roupas. Elas ficam quase novas", explica.
A empreendedora diz que o uso da plataforma, o relacionamento direto com o cliente e a possibilidade de administrar a conta na rede social abriram-lhe novas perspectivas em um momento de dificuldade financeira. "Por causa do brechó, conheci várias pessoas. Conseguia pagar minha passagem para a faculdade e ia para o estágio, que não era remunerado", conta. Ela hoje mantém o negócio como fonte de renda extra. "Mas, durante muito tempo, foi o brecho a minha principal forma de ganhar dinheiro", ressalta. 
Uma pesquisa do Sebrae, divulgada no último dia 20, aponta que cerca de 67% dos pequenos negócios do Rio de Janeiro seguem com o faturamento reduzido, se comparado ao período anterior a pandemia. Michael Lopes D’Ávila, especialista em vendas e negociação da Universidade de Negócios Tânia Zambon, explica que a melhor maneira de atingir o público nessa nova realidade é entender como tirar proveito de ferramentas virtuais.
"As principais dicas para o empreendedor nesse novo cenário são melhorar seu material visual, entender o seu cliente para enviar textos melhores sobre o seu produto e usar as ferramentas on-line a seu favor. Utilize vídeos para as plataformas virtuais e entenda como elas funcionam", explica D'Ávila. 
D’Ávila explica que um dos maiores atrativos da venda direta é a economia de tempo, já que o vendedor vai até o cliente. O mundo digital apenas sofisticou essa relação.  Independentemente do porte da empresa, as estratégias de venda por meio das redes sociais precisam ser avaliadas com  atenção.  "As empresas precisam de uma pessoa que fique nas redes sociais, entrando em contato com os clientes por essas plataformas. Com certeza, esse é o profissional do futuro", detalha o especialista.
Capacitação
Para estimular o empreendedorismo feminino neste nicho de negócios, a ABEVD promoverá o evento on-line e gratuito “Elas Fazem a Diferença nas Vendas Diretas”, voltado para a capacitação de mulheres que atuam no setor. Ele acontece na próxima terça-feira, 28, a partir das 18h, e contará com palestrantes, executivas de grandes empresas e empreendedoras de sucesso, que compartilharão suas experiências. Para fazer a inscrição e conhecer a programação completa, a interessada deverá acessar o site https://www.abevd.org.br/elas-fazem-a-diferenca/.
“A ABEVD e a venda direta possuem um compromisso com as mulheres, que sempre foram a inspiração e a força motriz do setor, desde quando revendiam produtos de beleza para complementar a renda do lar. Hoje, a venda direta se modernizou e quebrou barreiras, com os mais diversos produtos sendo revendidos pelo canal de forma presencial e/ou digital”, explica a presidente executiva da ABEVD, Adriana Colloca.