Lesados cediam limite do cartão de crédito e recebiam milhas em trocaMarcello Casal Jr/Agência Brasil
Donos de cartões de crédito recorrem à Justiça depois de calote de fintech
VirtusPay utilizava limite para financiar compras parceladas de quem está com nome sujo.
São Paulo - Boa parte das pessoas que cediam limites de seus cartões de crédito para a VirtusPay passaram a madrugada em claro: na noite da última quinta-feira, a fintech comunicou que não realizaria os pagamentos das faturas, que deveria ter ocorrido ontem. Foi o que aconteceu com a engenheira de software Pollyana Oliveira, de 30 anos.
Cliente desde 2021, ela "emprestou" inicialmente R$ 3 mil. Como foi paga e recebeu os benefícios — no caso, as milhas —, o marido passou também a fazer empréstimos. Hoje, ele tem R$ 65 mil em limites de créditos cedidos em cartões do Itaú, Banco do Brasil e C6.
"Estamos todos surtados no grupo (de Telegram, que reúne mais de 900 pessoas)", diz Pollyana. "Parece que estamos todos sozinhos e desesperados atrás de uma saída." Ela conta que há pessoas no grupo que conseguiram liminares para que a empresa realize o pagamento. É uma corrida para tentar bloquear os cartões, pedir estorno aos bancos e fazer barulho nas redes sociais. "O Itaú e o BB concederam crédito de confiança (espécie de pré-estorno que depende de confirmação posterior junto às bandeiras de cartão), mas é impossível falar no C6", diz ela, que mora em Campo Grande
Uma das administradoras do grupo, Pollyana conseguiu falar com um dos sócios do VirtusPay por telefone, na manhã de ontem. "Ele disse que não era um golpe e sugeri que pelo menos eles se comunicassem melhor: pode não ter sido golpe no início, mas agora é", diz.
Outro cliente, que mora no Rio de Janeiro e é técnico em mecânica, preferiu não se identificar, mas diz que pretende entrar com uma ação individual contra a VirtusPay. Ele e a mulher têm R$ 42 mil a receber, em quatro cartões de diferentes instituições financeiras. "Se eu tivesse investigado um pouco mais os problemas que eu poderia ter no futuro, talvez não entrasse (no negócio)", diz ele.
O negócio
Criada há cinco anos, a VirtusPay tem como principal atividade fazer o parcelamento de compras realizadas no comércio eletrônico em boletos para quem não tem crédito. Com os limites dos cartões cedidos, a empresa comprava cédulas de crédito bancário e usava esses recursos para financiar as compras.
Já a pessoa que "emprestava" o limite recebia como benefício milhas, além de estreitar o relacionamento com seu banco. Um dia antes de a prestação do cartão vencer, a VirtusPay depositava o dinheiro para que o portador quitasse a fatura do cartão. No fim de junho, ela interrompeu os pagamentos para a maioria dos cedentes.
Procurada, a VirtusPay disse, por meio de um comunicado, que "está comprometida com seus clientes para resolver todos os problemas em curso o mais breve possível. A expectativa era de finalizar todo o processo até o final desta semana. Porém, alguns trâmites ainda estão em processo de conclusão e, portanto, não foram finalizados até a data prevista".
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