Dia da Poupança é comemorado nesta segunda-feira, 31Divulgação

Nesta segunda-feira, 31, comemora-se o Dia da Caderneta de Poupança. Aos 161 anos de existência, ela continua desempenhando o papel de porta de entrada para o mundo dos investimentos, principalmente por seu fácil acesso e segurança. Entretanto, segundo o Banco Central, no acumulado do ano o volume de saques superou o de depósitos em R$ 91,1 bilhões, ultrapassando o recorde de retiradas registrado em 2015 —quando R$ 53,8 bilhões deixaram as contas dos poupadores. Criada em 1861, "a poupança veio com o objetivo que facilitar o brasileiro guardar dinheiro por ser um investimento acessível", explica o analista financeiro, Victor Savioli.

Para Tiago Feitosa, analista e especialista em mercado financeiro, duas hipóteses podem explicar a movimentação. A primeira é que o dinheiro está saindo da poupança e migrando para investimentos mais rentáveis. "Desde 2020, a caderneta de poupança opera com o rendimento real e só agora está acima da inflação. Por isso, investidores têm procurado opções de maior retorno para colocar seu capital", explica.

A segunda suposição envolve a diminuição da renda média do brasileiro e o crescimento do endividamento das famílias. Uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revelou que, em setembro, 79,3% dos lares do país tinham contas em atraso e que a alta na inadimplência segue acelerada. “Pode ser que parte desse dinheiro tenha sido extraído da poupança para que as pessoas liquidassem suas despesas que são maiores que suas respectivas rendas”, explica Feitosa.

Apesar de a poupança ter apresentado ganho real nos últimos 12 meses, esse valor ainda não é expressivo para o investidor, pois ocorre apenas a reposição de perdas geradas pela inflação. "Estamos vivendo uma deflação circunstancial, causada pela redução de impostos, mas não há nenhum indicador que garante que ela continuará caindo, já existindo uma tendência de alta para os próximos anos", argumenta o especialista. "É preciso avaliar o comportamento da inflação neste final de ano e, principalmente, a partir de 2023, com o resultado das eleições presidenciais e as eventuais novas políticas econômicas", complementa.
Savioli explica que os principais incentivos da poupança são a facilidade de investir em qualquer banco, liquidez diária (é possível sacar a qualquer momento), isenção de imposto de renda e segurança.
"A poupança é considerada segura por dois motivos: é segurada pelo FGC (fundo garantidor de crédito) e é um investimento pós-fixado. Então o valor investido não varia para baixo (sem perda de dinheiro em termos nominais), apenas rende juros a cada mês", aponta. No entanto, para ele, atualmente não é vantagem apostar a poupança. "Hoje ela rende cerca de 8,4% ao ano, enquanto que um CDB de liquidez diária com características iguais, exceto a isenção de IR, rende cerca de 11,3% ao ano", afirma.
Mesmo com o crescimento de outras opções de investimento e o surgimento de novas tecnologias, os jovens ainda optam por guardar dinheiro na poupança. Este é no caso do estudante Vinícius Barros, de 23 anos, que escolheu a caderneta por não ter conhecimento sobre outros tipos de investimento. "Não é uma área que eu tenha muito conhecimento. Acabo não pesquisando, mesmo sabendo que é errado, mas eu sei que lá não tem perigo. Então, até ter um conhecimento melhor, prefiro não arriscar", explica.
Ele começou a colocar dinheiro na poupança por influência dos pais, quando iniciou em seu primeiro emprego. "Eles falaram para eu colocar na poupança e ai acabei deixando até hoje", conta Vinícius, que espera mudar um dia o tipo de investimento. 
Enquanto antigamente a poupança era usada para guardar recursos para um grande objetivo, como a compra de imóveis e veículos, hoje, ela é usada mais como reserva para casos de emergência. "Eu não tenho um objetivo claro. Eu vou guardando mais por segurança mesmo, se um dia precisar", diz Vinícius.
Seguindo a mesma linha, Yasmin Zoner, 24, poupa o dinheiro por influência dos pais. "Meu pai abriu a conta poupança pra mim há anos, e todo dinheiro que eu ganhava colocava lá", explica. "Agora eu deixo tudo lá sempre porque rende, né? E eu acho seguro. Não sou muito fã de investimento não", conta. Yasmin guarda recursos na poupança apenas para uma necessidade futura. Hoje, as mulheres representam 20% das investidoras, contra 15% em 2018.
Já Italo Brenno Galliza, 23, já abandonou a caderneta. "Eu sempre investi na poupança, mas estava achando o rendimento baixo e comecei a estudar sobre os meios de investimento  no meu banco. Percebi que o CDI era o mais adequado para o meu caso", conta. "Eu junto esse dinheiro para conseguir casar e ter minha casa. Com o rendimento mais alto, vou conseguir atingir esse objetivo de maneira mais rápida", explica.
O perfil dos investidores tem mudado rapidamente, aponta Vitor Savioli. Em relação à faixa etária, a média dos investidores tem 33,7 anos, contra 35 anos em 2018. "Pessoas que ganham até R$ 5.500 por mês representam 69,1% dos investidores. Eram 53,7% em 2018. Hoje, a classe social predominante nos investimentos é a C, com 27,7%, enquanto que em 2018 era a classe B2, com 39,4%", afirma.

Historicamente, o rendimento da poupança é menor do que o de algumas aplicações em renda fixa. Aquele que opta pela caderneta a longo prazo acaba perdendo dinheiro para a inflação. Veja os três pontos que o investidor deve avaliar antes de sair da poupança e ir para outra aplicação do mercado financeiro, de acordo com Feitosa:

1 – Familiaridade com outro investimento: "Não é razoável tirar o dinheiro da caderneta de poupança do investidor que se sente confortável nela e alocá-lo em um produto desconhecido. É necessário que o cliente entenda a dinâmica de outros investimentos e esteja tranquilo com relação a esse passo".

2 – As necessidades do investidor com o dinheiro poupado: "Se existe a intenção de usar esse dinheiro ou parte dele no curtíssimo prazo, em menos de 90 dias, provavelmente é melhor para o investidor ficar na caderneta de poupança porque nela não há incidência de imposto de renda. Caso ele tenha planejado que esse capital fique além de três meses, existem outras opções no mercado financeiro que trarão mais retorno".

3 – Prazo: Se o investidor não tem horizonte de tempo e não sabe quando vai usar o dinheiro, mas eventualmente sabe que pode precisar dele para uma necessidade — ou seja, está poupando para uma reserva de emergência —, é recomendado que aloque o capital em títulos pós-fixados. "Eles possuem um risco de mercado menor e a chance de surpreender o cliente negativamente é muito pequena", explica.