Diretor da Ibram lamentou recente decisão do STF que trouxe impactos para a tributação do setor minerárioJosé Cruz/Agencia Brasil
De acordo com o balanço apresentado, o faturamento no ano foi de R$ 250 bilhões. O resultado foi justificado sobretudo pelo desempenho do mercado de minério de ferro. Houve redução da demanda chinesa pela commodity e também desvalorização no preço praticado em âmbito internacional. Entre janeiro e dezembro de 2022, a cotação recuou 24,8%. O minério de ferro respondeu por 61% de todo o faturamento do setor em 2021, abaixo dos 74% em 2021.
Investimentos
Segundo ele, os investimentos deverão somar US$ 50 bilhões nos próximos cinco anos. Desse total, US$ 6,5 bilhões envolvem projetos socioambientais, o que inclui, por exemplo, a descaracterização de barragens, a adoção de outros métodos de disposição de rejeitos mais sustentáveis e desenvolvimento de inovação.
Dos oito minérios mais exportados pelo Brasil, a China aparece entre os cinco principais compradores para sete deles: minério de ferro, manganês, nióbio, cobre, pedras ornamentais, alumínio e caulim. Os maiores estados produtores reduziram sua participação no total do faturamento do setor. Minas Gerais caiu de 42% para 40%, enquanto o Pará foi de 43% para 37%.
Diante desse desempenho, houve impacto no recolhimento dos diversos tributos em 2022. No caso da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), considerado o royalty da mineração, a arrecadação de R$ 7,08 bilhões é 31,8% menor do que em 2021.
Por outro lado, quatro estados se destacaram com aumento de faturamento: São Paulo (31%), Mato Grosso (8%), Bahia (7%) e Goiás (5%). Entre os minerais, foram registradas altas envolvendo o calcário dolomítico (39%), o granito (23%) e a bauxita (8%).
Taxa
Garimpo ilegal
O diretor-presidente do Ibram também defendeu uma certificação do ouro, que deveria ser observada pelas joalherias. "E temos um outro desafio que é muito mais complexo. Boa parte das pessoas que entram nessa cadeia da ilegalidade é porque falta alternativa de renda e de sobrevivência. Então precisamos de projetos de desenvolvimento sustentável para a Amazônia", acrescentou.
Em vigor há quase 15 anos, a Lei Federal 11.685 de 2008, conhecida como Estatuto do Garimpeiro, estabelece que o garimpo pode ser realizado de forma legal por qualquer pessoa ou cooperativa desde que seja obtida permissão da Agência Nacional de Mineração (ANM). As únicas exceções envolvem as terras indígenas e áreas maiores que 50 hectares.
Na legislação, portanto, o garimpo se diferencia da mineração por estar limitada a uma extração feita em pequeno volume e com baixo impacto ambiental. Porém, a atividade se desenvolveu ao longo do tempo. Se no passado, o garimpo era associado a pessoas que usavam técnicas manuais rudimentares ou artesanais, hoje há grupos operando na Amazônia de forma cada vez mais profissional, agressiva e em escala industrial, mobilizando equipamentos caros, embarcações robustas e retroescavadeiras.
Enquanto as empresas mineradoras podem refinar, fundir e exportar os minerais extraídos, o garimpeiro recebe da ANM apenas autorização para extração local e venda às chamadas Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVMs). São instituições autorizadas pelo Banco Central e funcionam como a porta de entrada do ouro e de outros minerais para o sistema financeiro, para o mercado internacional ou para joalherias.
O ouro extraído de áreas ilegais geralmente é levado para regiões em que há atuação do garimpo legal, onde intermediários locais realizam a venda às DTVMs. Pela legislação, o garimpeiro deve autodeclarar o local onde foi realizada a extração e sua palavra é considerada de boa fé.
Segundo Jungmann, há cinco DTVMs associadas a 90% dos indícios de compra de outro ilegal e uma denúncia contra elas foi apresentada pelo Ibram. "Hoje, um garimpeiro que produz ouro ilegal vai até uma DTVM e registra como se fosse legal", lamentou Jungmman. O Ibram vai organizar em agosto a Conferência Internacional Amazônia & Bioeconomia, na qual pretende fazer do assunto um dos principais temas das discussões. O evento acontecerá em Belém (PA) e deverá reunir autoridades políticas, pesquisadores, empresários e gestores públicos.
A preocupação com o aumento do garimpo ilegal cresceu nas últimas semanas devido aos problemas relacionados com a crise humanitária na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Mas instituições públicas e organizações não-governamentais já vinham alertando para o cenário nos últimos anos.
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