Quase três meses após a contratação da assessoria financeira Laplace, a Light entregou nesta sexta-feira, 12, seu pedido de recuperação judicial. A companhia informou que as obrigações financeiras eventualmente poderão ser renegociadas por meio da recuperação judicial e somam cerca de R$ 11 bilhões.
A Light, que fornece energia para 4 milhões de clientes em 31 municípios do Rio de Janeiro, diz que avaliou alternativas e empreendeu esforços na busca por uma solução, "inclusive mediante tratativas com certos credores no âmbito de procedimento de mediação devidamente instaurado e em curso na presente data". No entanto, a empresa cita que a situação se agravou, "embora siga avançando nas negociações".
O pedido segue-se a uma tentativa de mediação forçada com credores, levada à Justiça pelos escritórios Salomão, Kaiuca, Abrahão, Raposo Cotta e pelo Galdino & Coelho, que também suspendia as cobranças por 30 dias. O prazo expirou na quinta-feira, 11. A pretensão da Light era, não só avançar numa conversa com seus credores, mas também com a Aneel, órgão regulador, para antecipar à renovação da concessão em termos financeiros melhores aos que a companhia tem hoje.
Uma das dificuldades que a Light enfrentou para avançar nas negociações era o fato de que alguns grupos não quiseram assinar acordos de confidencialidade que lhes permitiria ter acesso a informações mais completas sobre a companhia. Sem a formação de um grupo sólido disposto a aderir a alguma alternativa possível, se tornou inviável a construção de uma solução.
A entrada do empresário Nelson Tanure no grupo de acionistas relevantes da Light também ampliou os ruídos. Ele realizou na semana passada uma reunião com credores mostrando disposição para aportar mais de R$ 1 bilhão na empresa, por meio de um aumento de capital, além de sugerir a convocação de uma assembleia geral extraordinária (AGE) para pedir a troca de conselheiros e mudanças na diretoria.
A companhia chegou a ter reuniões com a Aneel e o Ministério das Minas e Energia para discutir as atuais condições de prestação do serviço e a sustentabilidade econômica da distribuidora. Entre potenciais ações que foram colocadas à mesa esteve revisão tarifária extraordinária para trazer maior fôlego à companhia. A Light tem um problema grave de receitas com tarifas e custos, agravados por "gatos" nas regiões de milícias do Rio de Janeiro.
As agências de rating, cuja função é auxiliar os investidores a avaliar os riscos de aplicar em alguma empresa, vem rebaixando a nota da Light para os patamares que indicam insolvência desde fevereiro. Na mais recente ação de rating, em abril, a Fitch estimou que o grupo precisará de até R$ 1,8 bilhão em financiamentos em 2023 e pelo menos R$ 1,5 bilhão em 2024.
A Light, terceira maior distribuidora de energia do país, atua no Rio de Janeiro desde 1905. Ela foi responsável pelo processo de eletrificação da então capital federal, além de estender os serviços para a Baixada Fluminense e a região do Vale do Paraíba. Inicialmente, a companhia era privada e com capital estrangeiro. Em 1979, foi adquirida pela Eletrobras. Em 1996, passou pelo processo de privatização.
Em nota, a Light afirmou que o pedido de recuperação não acarretará nenhum impacto nos serviços prestados à população do Rio. E que o pagamento de fornecedores, prestadores de serviços, colaboradores, impostos e demais obrigações setoriais estão preservadas.
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