Selic causa impacto direto na economia e influencia diferentes setores do mercadoReprodução

Quando se fala em economia, há alguns termos frequentemente mencionados, porém pouco conhecidos. A taxa Selic, por exemplo, é uma dessas expressões do "economês". Fixada em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, ela impacta a atividade econômica. Mesmo assim, poucos brasileiros entendem sua importância e como ela interfere no cotidiano da população.

A taxa representa os juros básicos da economia brasileira. Os movimentos da Selic influenciam todas as taxas praticadas no país — sejam as que um banco cobra ao conceder empréstimos, financiamentos e até de retorno em aplicações financeiras.

A Selic tem esse nome por conta do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, administrado pelo BC. Nele, são negociados títulos públicos federais. A taxa define, por exemplo, quanto o consumidor pagará por um empréstimo ou, ainda, o valor que um investidor vai receber.

"Quando a gente escuta nos noticiários que a Selic é a taxa básica, na verdade o que a torna básica ou referência, é porque ela é a taxa mínima de remuneração. Nesse conceito, se você aplicar o seu dinheiro no Tesouro Selic, vai receber hoje 13,75% ao ano livre de riscos. Isso é o que a gente chama de 'custo do dinheiro'. A taxa é o custo do dinheiro porque é quanto o Tesouro Nacional precisa pagar para captar esse dinheiro para o caixa do governo", explica Carla Beni, economista e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Como um dos elementos centrais da estratégia de política monetária no Brasil, a Selic se baseia em um sistema de metas de inflação. A taxa estabelece o compromisso do país em adotar medidas para manter a inflação dentro de uma faixa fixada periodicamente pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), composto por ministros e pelo presidente do Banco Central.
O objetivo é assegurar a estabilidade da economia e evitar descontroles de preço, que causam a perda do poder de compra da moeda.
Com a taxa mantida em 13,75% ao ano pela sétima vez consecutiva, considerado alta e alvo de críticas recorrentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — além outras figuras importantes do governo e do mercado de empreendedorismo —, a ata do Copom, divulgada no dia 27 de junho, sinalizou uma possível redução dos juros em agosto.
Os oito membros que participaram da reunião avaliaram que a continuidade do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança para iniciar uma queda.
"A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião", diz a ata.
Para Janine Pessanha de Carvalho, analista de Estudos Econômicos da Firjan, o recente alívio nos preços e a contínua redução das expectativas inflacionárias para 2023 e 2024 são fatores que indicam haver espaço para que a queda na taxa aconteça.
"O cenário doméstico tem contribuído para a redução da percepção de risco-país. A aprovação do novo arcabouço fiscal e o avanço da discussão sobre a reforma tributária são elementos que reduzem as incertezas e abrem espaço para uma queda crível na taxa de juros", aponta.
"Além disso, após a atividade econômica surpreender no início do ano e crescer 1,9%, indicadores de atividade de curto prazo já apontam queda da atividade econômica no segundo trimestre. Nesse cenário, a recuperação da confiança do setor produtivo exige uma política monetária mais moderada, urgentemente", acrescenta.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também afirmou que espera "sensibilidade técnica" do Banco Central para a redução dos juros. De acordo com o ministro, "a retomada de um patamar adequado começa em agosto". Ainda segundo Haddad, essa é a expectativa de "todo mundo, do governo ao mercado", e que "há espaço para um corte até maior do que o 0,25 ponto porcentual na Selic".
Carla Beni afirma que a Selic "já era para ter sido reduzida" no primeiro semestre. "Todo está mundo colocando a ficha que na próxima não escapa. (...) O Banco Central é extremamente conservador, acredito que meio ponto percentual pode ser uma aposta genérica. Sair de 13,75% para 13,25% ou 13%. A ideia é que se encerre o ano a 12,5% mais ou menos", avalia a economista e professora da FGV.
Efeitos demorados
A eventual queda da taxa Selic não afetará imediatamente as taxas de empréstimos para o consumidor. Há defasagem entre a decisão de redução e o momento em que os bancos repassam essa redução para as taxas de juros cobradas.
"Quando o ciclo de redução da Selic (14,25%) começou em agosto de 2016, a taxa básica da economia já havia diminuído pela metade em dezembro de 2017 (7,0%), levando um pouco mais de um ano. No entanto, as taxas de empréstimos para consumidores e empresas não diminuíram na mesma proporção. Levou quase quatro anos para que a taxa média de empréstimos para empresas fosse reduzida pela metade, passando de 30,5% em agosto de 2016 para 15,8% em abril de 2020", ressalta a analista de Estudos Econômicos da Firjan.
De acordo com Carvalho, os bancos e instituições financeiras precisam ajustar suas políticas de crédito e avaliar os impactos das mudanças nas taxas de juros. "Além disso, fatores como concorrência no setor financeiro e condições econômicas gerais podem influenciar a velocidade com que as taxas de empréstimos são ajustadas", explica.
Já para o governo federal, como a taxa Selic é o custo básico do dinheiro para a União e tem impacto nos gastos governamentais com juros da dívida pública, manter a taxa em alta implica em mais gastos e pode prejudicar o orçamento público.

Segundo dados oficiais, entre dezembro de 2022 e maio de 2023, o estoque da dívida pública como proporção do PIB aumentou de 72,9% para 73,6%, principalmente devido ao pagamento de juros nominais.
"Conforme cálculos do Banco Central, cada aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic por um ano resulta em um gasto adicional significativo para o governo de R$ 40 bilhões. Portanto, a redução da taxa Selic é uma oportunidade para o governo reduzir seus gastos com juros e direcionar recursos para outras áreas, beneficiando a população", explica a analista da Firjan.
Como é definida?
A taxa Selic é determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), um órgão do Banco Central formado pelo seu presidente e por alguns diretores, que se reúne a cada 45 dias para analisar o cenário econômico e decidir sobre possíveis alterações na taxa.

As reuniões seguem um calendário definido no ano anterior e, em geral, duram dois dias. Normalmente, segundo o Banco Central, em cada um desses encontros os participantes assistem a apresentações técnicas, discutem sobre as perspectivas para a economia brasileira e também global, avaliam as condições de liquidez e o comportamento dos mercados.
Os membros do Copom votam sobre os rumos da Selic "meta" somente depois de receber e analisar todas essas informações, além de considerar os principais riscos e potencialidades do cenário macroeconômico à frente. O resultado é divulgado no mesmo dia, por meio de um comunicado na internet.
Embora todos saibam de imediato qual foi a decisão do Copom sobre os rumos da Selic sempre que uma reunião acontece, o detalhamento das discussões só é conhecido mais tarde. Na ata, o Copom explica e contextualiza a decisão que foi tomada. Normalmente, ela apresenta uma análise da evolução recente e também as perspectivas para a economia brasileira.
Histórico da taxa Selic 2022/2023
Data da reunião Taxa Selic
02 de fevereiro de 2022 10,75%
16 de abril de 2022 11,75%
04 de maio de 2022 12,75%
15 de junho de 2022 13,25%
03 de agosto de 2022 13,75%
21 de setembro de 2022 13,75%
26 de outubro de 2022 13,75%
07 de dezembro de 2022 13,75%
01 de fevereiro de 2023 13,75%
22 de março de 2023 13,75%
3 de maio de 2023 13,75%
21 de junho de 2023 13,75%
 
Para que serve e qual é a importância?
A Selic Meta é a taxa básica da economia nacional que serve como parâmetro para outras taxas praticadas no mercado. Além de ser a menor taxa na economia, a Selic é importante por diversos fatores. De acordo com a pesquisa Monitor Global da Inflação, realizada pelo Instituto Ipsos, 82% da população tem a percepção de que uma taxa Selic elevada contribui para aumentar o custo de vida no Brasil.
Segundo Janine Pessanha de Carvalho, analista de Estudos Econômicos da Firjan, no curto prazo, por exemplo, a Selic em nível elevado tende a desestimular a economia, impactando negativamente o comércio, a indústria e os serviços, reduzindo a demanda por produtos e gerando menor crescimento econômico.
"Com juros mais altos, os empréstimos e financiamentos se tornam mais caros, desencorajando as pessoas a adquirirem bens. Quando a Selic saltou de 2,0% em 2021 para o patamar atual, as taxas de juros cobradas do cartão de crédito e de veículos, por exemplo, dispararam, saindo de 61% para 106% e de 20% para 28%", disse.
No movimento contrário, quando a Selic baixa, ela acaba provocando um aquecimento na economia ao estimular o consumo. Com uma possível redução, as taxas de juros cobradas pelos bancos também tendem a reduzir, tornando o crédito mais acessível e atrativo. Isso pode impulsionar o consumo, aumentando a demanda por produtos e serviços, fator indispensável à retomada do crescimento econômico.
Com juros reduzidos, as pessoas que possuem empréstimos ou financiamentos podem renegociar suas dívidas em condições mais favoráveis, reduzindo o valor das parcelas e aliviando o orçamento.
"Um indivíduo que estava adiando a compra de um imóvel devido às altas taxas pode encontrar condições mais favoráveis de financiamento, o que torna a aquisição do imóvel mais viável. Além disso, em um cenário de juros elevados, o custo do crédito torna difícil o pagamento de dívidas, sobretudo das famílias, que atualmente encontra-se bastante elevado, com endividamento de cerca de 48%", explica a analista de Estudos Econômicos da Firjan.
Já no médio prazo, a dificuldade de acesso ao crédito e a redução do consumo devido aos juros elevados podem levar à queda da atividade econômica e ao aumento do desemprego. "Empresários têm menos recursos para investir e expandir seus negócios, o que resulta em menor contratação de trabalhadores", aponta Janine.
O presidente do Sebrae, Décio Lima, ressalta que manter a taxa no valor atual é "falta sensibilidade" com os pequenos empresários e empreendedores. "Tem dinheiro para emprestar no mercado, mas se forem pegar emprestado com essa taxa que está aí, já era, vão falir, será uma questão de tempo. Assim acho que o BC está jogando contra a retomada do crescimento do país, só pode ser", afirmou.
A longo prazo, a Selic em patamar elevado pode desestimular investimentos produtivos. "Com juros mais baixos, as empresas têm acesso a financiamentos mais baratos para investir em expansão, modernização e inovação. Isso pode aumentar a produtividade e a competitividade das empresas, favorecendo o crescimento econômico sustentável e potencializando a geração de emprego", disse.
Próximas reuniões do Copom 
Reunião do Copom Divulgação da ata
1º e 2 de agosto 8 de agosto
19 e 20 de setembro 26 de setembro
31 de outubro e 1º de novembro 7 de novembro
12 e 13 de dezembro 19 de dezembro