Muitos brasileiros mantêm uma relação íntima com o dinheiro em espécie e rejeitam as novas formas de pagamentoTânia Rêgo/Agência Brasil
Assim como Gonçalves, muitos brasileiros mantêm uma relação íntima com o dinheiro em espécie e rejeitam as novas formas de pagamento. Isso se repete com diversos dos passageiros do taxista. "O pessoal mais idoso prefere o dinheiro. Alguns têm dificuldade com o cartão. Com o Pix, então, nem se fala", conta.
De acordo com o relatório "Global Payments Report", 26% das transações financeiras que ocorrem quando um cliente realiza uma compra ou efetua um pagamento em um estabelecimento comercial no momento da compra foram feitas com dinheiro vivo no Brasil em 2022. O percentual representa uma queda brusca em relação aos 52% de 2018, antes da entrada em vigor do Pix, mas ainda indica que uma em cada quatro compras é feita em papel moeda no país.
Para Rogério Albuquerque, head de marketing e produtos da Card, empresa de distribuição de serviços digitais e maquininha de cartão de crédito, o percentual de pessoas que ainda usa dinheiro vivo mostra que uma parcela importante da população ainda não aderiu ao uso de bancos digitais e movimentações financeiras realizadas pela internet, mesmo diante dos avanços tecnológicos registrados nos últimos anos.
"Se por um lado grande parte da população aderiu ao uso de bancos digitais e movimentações financeiras realizadas pela internet, existe uma outra parcela da população que possui dificuldade para esse acesso", diz Albuquerque. "Além do Pix, outras tecnologias como o Real Digital estarão em circulação em breve no país. Mas, antes de se apresentar uma completa mudança na cultura de pagamentos do brasileiro, é necessário entender as peculiaridades e diferenças que uma nação de tamanho continental, como o Brasil, apresenta", destaca Albuquerque.
A grande novidade do setor no Brasil foi o Pix, modalidade de pagamentos instantânea desenvolvida pelo Banco Central e lançada em 2020. Sua principal característica é a velocidade das transferências e pagamentos, que acontecem em questão de segundos, 24 horas por dia, incluindo fins de semana e feriados. Mesmo assim, o volume de cédulas e moedas em circulação tem apresentado aumento nos últimos anos no país.
Segundo o Banco Central, em 2020 houve um crescimento atípico do volume de dinheiro em circulação. Isso se explica, em parte, pelos efeitos da pandemia de Covid-19, quando o governo federal criou um auxílio mensal para ajudar as pessoas mais vulneráveis durante a crise sanitária. Atualmente, a quantidade de cédulas e moedas em circulação se encontra ainda acima do valor que alcançaria caso houvesse mantido o mesmo crescimento médio observado no período anterior à pandemia, segundo o BC.
O dinheiro em circulação aumentou em R$ 3,3 bilhões em 2022, variando de R$ 339 bilhões para R$ 342,3 bilhões. Mesmo com o crescimento, o Banco Central destaca que é prematuro fazer projeções de longo prazo. "Apesar do surgimento de novos meios de pagamento, como o Pix, apresentar impactos sobre os hábitos de uso dos meios de pagamento anteriormente existentes, será necessário algum tempo para que a evolução desses impactos possa ser claramente mapeada", afirma a autoridade monetária por meio de nota.
Para o estudante universitário Jean Henrique, de 19 anos, usar dinheiro em espécie é uma preferência por questões de segurança e de controle financeiro. "É um hábito que me dá uma sensação de segurança e me ajuda a controlar as minhas finanças", diz. No entanto, apesar das vantagens de manter dinheiro em espécie, um dos desafios é a questão do troco. "Principalmente com motoristas de aplicativos, que muitas das vezes não andam com cédulas e moedas no carro", diz..
Mudanças no comércio
"A utilização do Pix como forma de pagamento está ganhando força e popularidade no Brasil. Tanto o Pix quanto o cartão são os principais protagonistas nas compras no comércio atualmente", destaca Gonçalves. Ele observa que a tendência é que essa preferência cresça ainda mais, pois o Pix oferece agilidade e segurança tanto para quem efetua o pagamento quanto para quem recebe. "O comércio está satisfeito com essa evolução, pois, quanto mais facilidade nos meios de pagamento, melhor para o comércio, para a sociedade e para a economia como um todo."
Os supermercados também têm acompanhado a mudança na forma de pagamento dos consumidores nos últimos anos. Para o GPA, grupo que detém as redes Pão de Açúcar e Extra, a principal forma de pagamento adotada pelos clientes atualmente é o cartão de crédito. Já no e-commerce das marcas, o Pix tem crescido muito.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.