Diogo Abry Guillen, diretor de Política Econômica do Banco CentralRaphael Ribeiro/ BC
BC está mais confiante com modelo do que estava em 2022, afirma diretor
Segundo Diogo Guillen, banco 'voltou a funcionar como deveria, após erros de projeção da pandemia'
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta quarta-feira, 10, que a autoridade monetária está mais confiante em seu modelo atualmente do que estava em 2022, passada a pandemia, quando ainda se tratava de um período com muitas dúvidas sobre os reais impactos do surto sobre a economia. "Vejo que o modelo do BC volta a funcionar como deveria, após erros de projeção da pandemia", afirmou, em evento virtual promovido pelo JPMorgan.
O diretor ponderou que ainda há algumas surpresas, como no setor de serviços, por exemplo, mas que elas já não são mais tão grandes.
Ele mencionou também que os preços das commodities caíram mais que o esperado no primeiro estágio de desinflação.
Para tornar o modelo mais próximo da realidade, o diretor explicou que o BC ampliou o impacto do El Niño em seus dados. Questões relacionadas à sustentabilidade e preços têm sido bastante constantes nos discursos recentes de porta-vozes da autoridade monetária.
O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, já chegou a dizer que o número de calamidades tem aumentando em um ritmo exponencial e que isso tem e terá relação com o setor financeiro Portanto, defende ele, é um tema para o qual o BC deve olhar constantemente.
Países
O diretor de Política Econômica do Banco Central afirmou que os países têm lutado contra a inflação e que a maioria está voltando para intervalo das metas em 2024 e 2025. No evento virtual promovido pelo JPMorgan, ele comentou que, nos Estados Unidos, há um movimento de desinflação, mas ainda em níveis que não são compatíveis com a meta.
Guillen citou o cenário do mercado de trabalho no país, salientando que a questão do comportamento dos salários pode ser crucial para a formação de cenários futuros. Ainda sobre a economia americana, o diretor salientou que ainda há incertezas em relação ao ritmo de crescimento do país.
Também comentou sobre a queda dos juros futuros entre as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) de novembro e dezembro, citando especificamente as Treasuries com vencimento de 10 anos nos EUA. "Não há relação mecânica entre cenário externo e a política monetária", disse, mencionando os mecanismos de transmissão para o Brasil e defendendo que o BC tem sido transparente sobre esse tema.
Bens de consumo
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que o consumo de bens duráveis apresentou uma trajetória recente de queda, mas que outros setores de consumo continuam elevados. Há também, de acordo com ele, um movimento de "alguma acomodação" no segmento de serviços.
No evento virtual promovido pelo JPMorgan, Guillen disse que o BC vê alguma redução nos índices de confiança na margem. Ele comentou também que pode haver pressões inflacionárias por parte dos investimentos, mas apenas em alguns setores e não de forma generalizada.
O diretor voltou a dizer que, em relação ao crescimento no Brasil, o setor agrícola foi responsável pela surpresa positiva do Produto Interno Bruto (PIB).
Guillen comentou também que o consumo interno foi forte no segundo trimestre do ano passado e que o Copom começou a se questionar sobre os motivos que teriam levado a esse quadro. "Citamos na comunicação do Copom possíveis motivos para resiliência da demanda doméstica", disse, acrescentando que houve uma grande surpresa na primeira metade de 2023, mas uma desaceleração vista mais para o final do ano, o que era um movimento esperado.
O diretor lembrou que, apesar de ter havido revisões significativas para o crescimento do PIB em 2023, as mudanças foram mais tímidas para os anos de 2024, 2025 e 2026. Sobre o mercado internacional, Guillen comentou que os juros ainda estão em nível restritivo na maioria dos países.
Precatórios
Diogo Guillen avaliou ainda que o pagamento de precatórios tem pouco impacto inflacionário. No fim do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o governo a quitar um estoque de cerca de R$ 93 bilhões desse tipo de dívida.
"Acompanhamos o pagamento de precatórios, mas é diferente de outros choques fiscais", disse o diretor.
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