AgriculturaDivulgação: Secretaria de Agricultur do Estado/ Emater-Rio

Rio - O agronegócio é reconhecido como altamente competitivo e gerador de empregos, riqueza, alimentos, fibras e de bioenergia para o Brasil e para outros países. A atividade, que tem crescido no Estado, é uma das principais bases para sustentar a economia do interior fluminense. Segundo dados mais recentes da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio corresponde a 1% (R$ 9,493 bilhões) do PIB do Rio de Janeiro  — R$ 949,3 bilhões.
Agricultura é a prática econômica que envolve o cultivo de alimentos, como o plantio de grãos e a produção de frutas. Hoje, os produtores rurais são os grandes responsáveis pela produção de alimentos da população brasileira e mundial. Isso porque atuam na base do trabalho no campo e desempenham atividades essenciais para o bom funcionamento de todo o agronegócio, setor que deve gerar R$ 2,62 trilhões em 2023, o que corresponderia a 24,1% do PIB brasileiro, de acordo com o levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
No Estado do Rio de Janeiro, o agronegócio se caracteriza pela diversificação. Os produtos agrícolas produzidos no Estado podem variar, dependendo de condições climáticas, do tipo de solo e das características peculiares. Entre os principais produtos, destacam-se: 
- Cana-de-Açúcar;
- Hortaliças e vegetais: tomate, alface, cenoura, cebola, couve etc;
- Frutas: abacaxi, banana, maracujá, manga, goiaba;
- Café;
- Flores e plantas ornamentais;
- Leite e queijo;
- Pescado;
- Olericultura: pepino, pimentão e abobrinha.
Segundo o relatório anual da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio de Janeiro (Emater-Rio), o faturamento bruto das atividades agropecuárias foi de R$ 6.622.383.453,94 em 2022 — os dados referentes a 2023 ainda não estão disponíveis. As atividades com maiores percentuais foram a bovinocultura (29,6%), a olericultura (24,6%), pequenos e médios animais (13,1%), outras culturas (11,5%) e a fruticultura (8,8%), mantendo suas posições de evidências e importância para o desenvolvimento da economia do Estado.
Entre as atividades trabalhadas, a cafeicultura vem ganhando destaque pelos avanços obtidos no Estado. Comparado ao ano de 2021, o faturamento bruto dos produtores aumentou 129% — de R$ 151.678.670,80 para R$ 346.623.611,50 —, passando a ocupar o status da segunda cultura com maior área cultivada no Rio de Janeiro. 
Atualmente, o Estado do Rio tem mais de 91,7 mil produtores atuando no agronegócio. Desse total, há 2.597 produtores de café na agricultura fluminense. "É uma atividade tradicionalmente trabalhada pela família, com participação das mulheres e dos jovens. O Estado do Rio de Janeiro passa cada vez mais a investir na produção de cafés especiais com alta qualidade e valor agregado, atraindo visitantes e o turismo local e regional", diz o órgão.
Os elevados preços alcançados pela saca do café no mercado mais que duplicaram o faturamento bruto da cultura, alcançando a marca de R$ 346,6 milhões. A renda per capita bruta média anual dos produtores envolvidos na cafeicultura fluminense foi de R$ 134 mil.
Varre-Sai, por seu clima frio e altitude elevada, se destaca como maior produtor de café do Estado, sendo inclusive reconhecido pela Assembleia Legislativa (Alerj) como "Capital Estadual do Café". Além de concentrar o maior número de cafeicultores, responde por 44% do faturamento bruto do produto no Estado.
Caso de sucesso
Fidélis Rodolphi, de 32 anos, é filho, neto e bisneto de cafeicultores. Ele conta que, junto com o irmão mais novo, cresceu sob a influência do pai e do avô. "Naquele tempo, o amor pela cafeicultura foi crescendo dentro de nós. Ainda jovens, optamos pelo serviço da terra, pela cafeicultura e escolhemos ser produtores rurais", afirma. 
Em 2014, ele conheceu o universo dos cafés especiais, feitos livres de amargor, somente com grãos maduros e colhidos manualmente. Participou de um projeto, de concursos e ganhou premiações que o incentivaram a investir em uma nova linha.
"Conheci um projeto de um professor que ensinava a produzir cafés especiais. No final de 2015, foi realizado o Primeiro Concurso de Cafés Especiais do Noroeste Fluminense, com as premiações de Melhor Café e Melhor Produtor Eficiente. Para nossa alegria, mas sem muito saber o que significava aquele prêmio, fomos campeões nas duas premiações. E, dali em diante, meu irmão e eu resolvemos apostar nessa produção", explicou.
No ano seguinte, lançaram o Café Rodolphi e, logo depois, a marca Sítio Vai e Volta. "Nossa logomarca é a representação da casa sede do sítio, construída pelo nosso bisavô José de Oliveira em 1927. O Sítio Vai e Volta é o coração de tudo!", ressalta com orgulho o produtor.
Ele ainda explica que a produção no campo conta com a participação de toda a família. "Contamos com o apoio e o trabalho de nossas esposas. Juntos, cuidamos de todos os detalhes da produção, com muito carinho, para garantir que o café que chega na xícara de cada pessoa seja uma experiência sensorial única e que seja uma das melhores sensações do dia", explica Rodolphi.
Atividades 
As cidades fluminenses com maior presença do agronegócio são: Campos dos Goytacazes (Região Norte); São Francisco do Itabapoana (Região Norte); São José do Vale do Rio Preto (Região Serrana); Teresópolis (Região Serrana); Araruama (Baixada Litorânea); e São José de Ubá (Região Noroeste).
Em 2022, ocorreu aumento no faturamento bruto estadual em quase todas as atividades agropecuárias no Estado em relação ao ano de 2021 — com exceção da bovinocultura e fruticultura, que apresentaram, respectivamente, redução de 32% e 7%. Dada a importância dessas atividades, os resultados ocasionaram redução no faturamento bruto anual na agropecuária fluminense de 2%.
O principal motivo de redução do faturamento da atividade se deve ao decréscimo de 51% no faturamento bruto da bovinocultura de corte, impactando negativamente os resultados, apesar do aumento de 5% no faturamento bruto na bovinocultura de leite. A produção de leite foi responsável por 51% do faturamento bruto estadual, com o fornecimento de 373 milhões de litros de leite. Já a produção de carne respondeu por 49%, com 54 mil toneladas.
As regiões Norte, Noroeste e Sul fluminenses são as que apresentaram maior destaque na bovinocultura estadual. Juntas, concentraram o maior número de produtores, de rebanho, de produção e de faturamento bruto. Entretanto, cada uma delas, com suas características, apresentaram comportamentos distintos.
O Noroeste concentrou o maior número de produtores de leite (33%), enquanto o Norte destaca-se em relação ao percentual de rebanho no Estado, com 28%, abrangendo o município de Campos dos Goytacazes. A cidade apresenta a maior produção de leite (30.683.081 litros), seguida por Valença (27.194.713 litros), na região Sul — que atualmente é a maior bacia leiteira fluminense, responsável por 35% da produção, e 36% do faturamento bruto estadual.
Em relação à pecuária de corte, o Norte Fluminense concentra os maiores números para produtores,  rebanho, produção e faturamento bruto. A região é seguida de perto pela Noroeste.
"Apesar do grande destaque das regiões Norte e Noroeste na bovinocultura de corte do Estado, vale destacar a importante contribuição das demais regiões para a composição do faturamento bruto estadual. Como os municípios de Valença, na região Sul, Cantagalo na região Serrana e Silva Jardim na região Centro, que estão entre os dez municípios polos em produção de carne bovina no estado", aponta o relatório. 
Marco Mangaravite, de 60 anos, trabalha há mais de 44 anos em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, com gado e produção de leite, e sentiu esse impacto no setor de bovinocultura.
"A pecuária hoje está oscilando muito. São momentos bons e momentos difíceis. O preço do leite caiu muito, tem muita gente que chegou a sair da atividade por isso, mas eu não. (...) A carne, o boi por exemplo, baixou muito. Eu já cheguei a vender por R$ 320, hoje estou vendendo a R$ 200, uma queda de quase 50% no boi. O bezerro de pasto também baixou, mas estou otimista. Espero que volte ao que era antes", diz.
O produtor conta que trabalha no setor desde os 16 anos e aprendeu o ofício com o pai. Desde então, administra a fazenda Santa Tereza, gerando emprego e renda no campo. "Estou na área desde muito novo. Sempre acompanhei o meu pai. Fui criado na lida com o ele, trabalhando na roça. Eu conto com cinco a seis funcionários direto na fazenda. Nós temos pais, filhos e sobrinhos trabalhando juntos, além de amigos", disse. 
Segundo Mangaravite, a sua produtividade de leite varia de acordo com a venda do gado. "Na fazenda, quando eu faço leilão, antes de vender o gado tiro uma média de 1.300 a 1.500 litros de leite ao dia. Já depois da venda, essa produção cai para 150 a 200 litros. Agora eu já estou com quase mil litros, porque eu já vou para o 17º leilão esse ano. Em breve, chego a 1.500 de novo", explica.
Para 2024, o produtor aposta na melhora do mercado: "O leite já começou a subir esse ano, então estou otimista com o setor da agropecuária e agricultura no nosso estado. (...) O problema é a oscilação do mercado, que atrapalha muito e, às vezes, a gente acaba trabalhando no vermelho e tendo alguma dificuldade", comenta.
 Olericultura
De acordo com o documento da Emater-Rio, a bovinocultura e a olericultura estão presentes em quase todo o território fluminense. Dos 92 municípios, a primeira atividade ocorre em 89 cidades. Já a olericultura está presente em 85.
A olericultura é o segundo segmento do agronegócio em importância, contribuindo com 25% do faturamento bruto estadual, que totalizou R$ 6,6 bilhões em 2022. Ela gerou renda per capita bruta anual média de R$ 48 mil, destacando-se os olericultores do Sul Fluminense, com renda de até R$ 94 mil. 
A olericultura de frutos respondeu por 55% do faturamento bruto, e a de folhas e raízes responderam, respectivamente, por 29% e 16%. Foi uma das atividades que registrou aumento no faturamento, alcançando uma alta de 20% em relação ao ano anterior.
Paty do Alferes vem se destacando em sistemas de cultivo protegido com tomate e pimentão, onde 85% dos produtores utilizam o sistema de produção em estufas, contribuindo com 46% da produção municipal de tomate e pimentão.
Teresópolis, Sumidouro e Nova Friburgo responderam por 83% do faturamento bruto, e 82% da produção de folhosas do Estado. Em relação às olerícolas de frutos, os municípios que se destacaram quanto ao faturamento bruto estadual foram Sumidouro, Paty do Alferes e São José do Vale do Rio Preto — juntos, responderam por 44% do faturamento bruto neste segmento da olericultura.
Animais de pequeno porte
Já as criações de pequenos e médios animais, terceira maior atividade do agronegócio fluminense, participaram com 13,1% do faturamento bruto em 2022, alcançando aumento de 4% em relação ao ano anterior. Destaque para aves de corte, contribuindo com 78% do faturamento bruto neste segmento da pecuária, com 131 mil toneladas de carne no mercado.
Apesar da avicultura de corte contribuir de forma expressiva para o faturamento, são a apicultura (criação de abelhas exóticas) e a avicultura de postura (criação de galinhas para produção de ovos) as criações com maior ocorrência no território fluminense, estando presentes, respectivamente, em 77 e 75 municípios.  
"Cabe ressaltar a importância das criações dos Pequenos e Médios Animais na segurança alimentar e nutricional da população local, ofertando 16 milhões de dúzias de ovos, 320 mil toneladas de mel, 925 mil litros de leite e 137 mil toneladas de carne em 2022", destaca a Emater.
As atividades agrícolas que compõem as outras culturas (cana-de-açúcar, mandioca, louro, urucum, milho forrageiro e palmito) responderam por 11,5% do faturamento bruto agropecuário.
Campos dos Goytacazes e de Araruama lideraram o faturamento bruto estadual com cana-de-açúcar, respondendo por 86% do total. O município de São Francisco de Itabapoana se destacou por ser o maior produtor de aipim e de mandioca para a produção de farinha.
Frutas
A fruticultura foi a quinta atividade que mais contribuiu para o faturamento bruto estadual em 2022, apesar de apresentar redução de 7% no faturamento bruto comparado a 2021, participou com 8,8% do faturamento da agropecuária estadual.
Os destaques foram as frutas cítricas — como o laranja, abiu, acerola, ameixa, amora e caju — que participaram com 30% do faturamento bruto na fruticultura. A laranja respondeu por 19% do faturamento bruto com os citros em 2022. Na sequência, aparecem as culturas da banana e a do abacaxi.
"Nos principais indicadores da fruticultura por região administrativa do órgão, destacando-se a região Centro com 46% do faturamento bruto estadual, seguido das regiões Serrana e Norte, ambas com 23% do faturamento total. A região Centro também apresentou maior número de produtores, produção colhida e área colhida com frutíferas em 2022 no Estado do Rio de Janeiro", aponta o relatório.
Há seis anos longe do mercado frutífero, Renato Pereira Machado, de 66 anos, era produtor de abacaxi desde a década de 1990. Com a tendência de alta, resolveu retornar para a atividade.
"Eu comecei com o cultivo de abacaxi ha muitos anos, na década de 1990. Andei dando lucro, outras vezes prejuízo por conta de recebimento. Depois começou a ficar com o preço muito defasado. Fiquei desestimulado e parei. Este ano vou recomeçar, porque ano passado melhorou um pouquinho e decidi replantar", explica.
No período em que abandonou a produção de abacaxi, ele investiu em outros produtos, como cana-de-açúcar e leite. "A cana não dá prejuízo, no ano passado ela saiu a R$ 100 a tonelada. Já o leite, vende bem, (...) mas tivemos alguns prejuízos. Hoje o leite está defasado. No passado, nessa época, nós estávamos recebendo R$ 3,40 a R$ 3,50 pelo litro. Hoje está cerca de R$ 1,90, no máximo R$ 2. E o insumo continua alto", relata.
Machado também detalha um pouco sobre as dificuldades e mudanças na produção da fruta: "O abacaxi é resistente ao sol, mas por mais resistente que seja uma planta, ela precisa de água. Como a gente não tem tido um índice de chuva muito favorável ultimamente, às vezes você acaba sofrendo. Mas ele aguenta bem!".
O produtor ainda aponta a oscilação brusca no preço da fruta. "Alguns mercados fazem a compra por peso, mas a sua grande maioria é por unidade. Eu fiquei sabendo que, na região, foi vendido fruta de 2 kg por até R$ 4. Na safra passada, era R$ 2. Deu uma melhorada", avalia.

Mudança de vida
Há dez anos, o casal de produtores rurais de São João da Barra, no Norte Fluminense, Ana Paula Pereira da Silva, de 41 anos, e Jamilton Bento de Azevedo Júnior, de 47 anos, decidiram investir na produção leiteira. Eles nutriam o desejo de parar de trabalhar para outras pessoas e ter o próprio negócio. Os dois juntaram as suas economias, aproveitaram o conhecimento que já obtinham e deram os primeiros passos.

"Como meu marido trabalhava em fazenda e entendia do assunto, começamos com uma pequena produção. Eu trabalhava no setor administrativo e sai do meu serviço para trabalhar com ele e nossos animais. Com a ajuda da Emater local, aperfeiçoamos algumas coisas e fomos aumentando nosso rebanho", explica.

Segundo a produtora, a falta de espaço foi um dos seus maiores desafios no setor. "Nossa maior dificuldade foi cuidar de animais no pequeno espaço que temos, foi aí que vimos no confinamento a saída pra isso. Nosso gado hoje é totalmente confinado", explica.

"A Emater nos orientou a legalizar e fazer o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], que é um fundo do governo com juros baixos para o produtor investir no seu trabalho. Quando olho para trás e lembro que tirava 150 litros de leite na mão e vejo onde cheguei, é muito bom. Minha produção hoje é de mais de 1.500 litros dia, em um espaço de 2 hectares", comemora.

Ana Paula  destaca a conquista do 1º lugar no concurso leiteiro realizado em São João da Barra, no ano passado. Ela conta que também foi necessário superar algumas dificuldades para preparar os animais, como o clima, para conseguir a produção suficiente para o evento.

"Estávamos com muita chuva e preparar o animal para um concurso leiteiro é muito difícil, porque a produção diminui muito. Levamos dois animais na categoria de 25 kg. Foi uma conquista muito grande, mas com sacrifícios. Porque a gente tinha que tirar o leite e voltar para o evento, não podíamos deixar os animais sozinhos", explica.

A produtora espera a melhor no setor e aposta no conhecimento. "O mercado do leite realmente não está do jeito que nós produtores precisamos, a baixa do preço pago está difícil, mas a esperança é de melhorar. Nós, como produtores, temos que buscar conhecimento e soluções para isso. Uma das minhas opções hoje é o beneficiamento do nosso leite, pois assim vamos agregar valor no produto final", afirma.
Feira livre como forma de fomento da agricultura familiar
Embora o agronegócio seja um setor em franca expansão no Brasil, o pequeno produtor rural ainda enfrenta dificuldades, já que possui menos infraestrutura e capacidade de investimento. Um meio de superar esse obstáculo são as feiras livres. Elas fomentam a agricultura familiar e auxiliam nos desafios enfrentados pelos pequenos produtores na comercialização dos seus produtos.
As feiras escoam a produção de alimentos e geram renda, visando à melhoria das condições de segurança alimentar e nutricional. Esse é o objetivo da Emater-Rio com a implantação de uma feira livre no município de São Fidélis, no Norte Fluminense.
Todas as quartas-feiras, na quadra esportiva no Centro, cerca de 15 produtores rurais comercializam alimentos frescos, cultivados e tendo como mão de obra, essencialmente, o núcleo familiar. 
"Nessas feiras são comercializados produtos da agroindústria, da agricultura familiar, além de artesanatos. As feiras organizadas pela Emater são exclusivamente de agricultores familiares", afirma Luciano Carniello, supervisor regional Norte da Emater-Rio.
O fato de não haver um atravessador entre o produtor rural e o consumidor garante uma margem de lucro maior. Com isso, ele pode ter melhores condições para investir.
Rosinete da Silva Dias Valente, de 46 anos, conta que viu na produção rural uma oportunidade de trabalho e renda. Sem emprego, após decidir morar na zona rural da cidade, ela aproveitou o momento para realizar o sonho de ter uma horta.
"Meu sonho era ter uma hortinha em casa, mas não tinha espaço. Como eu fiquei sem nenhuma renda, decidi montar uma na roça e vender na comunidade. Iniciei plantando banana e aipim. Aqui o pessoal mexe muito com leite. Não estão nessa área de verduras e legumes. Algumas mulheres trabalham em escolas, postos de saúde e não têm tempo. Como eu já gostava de mexer com a terra, resolvi investir e vender para essas pessoas", disse. 
"Eu já tinha os meus contatos na cidade e resolvi oferecer, levava inteiros, ainda não processava. Aí a gente vai estudando, vendo outras possibilidades. Em seguida, comecei a processar, fazer couve picadinha, taioba, aipim e o próprio inhame", acrescenta.
Rosinete viu na feira da cidade a oportunidade de consolidar o seu trabalho como produtora rural. "Fui até a Emater e me informei. Com os próprios produtores da feira peguei outros produtos e fui variando o meu cultivo", relata.
A feira oferece diversos produtos, como abóbora, milho, alface, almeirão, laranja, abacate e banana. 
"Tem algumas pessoas que fazem as polpas das frutas que têm em suas propriedades. É uma grande variedade. Cada um produz na sua propriedade e acaba levando, de acordo com a sua época de plantio", explica Rosinete, que, além de feirante, participa da criação de uma associação de produtores rurais do município. "Tem também as meninas que fazem doces em compotas e bolos", acrescenta.
Comprar diretamente de quem produz fomenta a economia local, movimentando a economia de pequenas cidades.
"Para quem está comprando, é importante que os consumidores adquiram produtos mais frescos, produzidos em um local mais próximo, no próprio município", aponta Carniello, da Emater-Rio.
"A população tem comparecido, a cada semana é uma novidade, sempre aparecem pessoas diferentes. Tem aqueles que já são clientes mais assíduos, todas as quartas já estão lá, fazem pedidos adiantados", comemora Rosinete.
"A Emater-Rio, além de organizar e atuar na capacitação desses produtores, estimula a diversificação dos produtos para comercialização nas feiras. O excedente é realizado na venda convencional", explica Carniello.
Programas de incentivo ao produtor
No Estado, há 91.798 produtores rurais registrados. Destes, 34.612 foram assistidos por programas de incentivo da Emater-Rio. O órgão presta assistência e extensão rural aos agricultores familiares e suas organizações, com a finalidade de atender às demandas de comercialização, implantação e realização de feiras locais e regionais da agricultura familiar, promovendo a venda direta do agricultor ao consumidor.
Segundo a presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Solos), Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, é importante criar políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, principal modelo no Estado.

"A agricultura familiar é a que predomina aqui no Rio de Janeiro. Então, ela tem que trazer esse olhar diferenciado, ligar o urbano com o rural, trazer o ecoturismo e mais serviços ambientais", explica Maria de Lourdes.
Ainda sob essa perspectiva, ela ressaltou que a capacidade agrícola do Rio não é em quantidade, mas sim em qualidade. "Aqui não adianta produzir muito. Tem que produzir bem e de forma sustentável. Nós não vamos competir com o Centro-Oeste, por exemplo, mas podemos fazer produtos diferenciados", afirma.
O Agrofundo é o programa de fomento agropecuário e tecnológico da Secretaria Estadual de Agricultura que oferece aos agricultores fluminenses empréstimos a juros baixos. Ele atende produtores de frutas, flores, mel, leite, ovos, orgânicos e agroindústrias de base familiar, entre outros.
Outro meio de assistência ao setor é o projeto do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), uma iniciativa do governo federal com o objetivo de prestar atendimento diferenciado aos pequenos agricultores.
"O programa disponibiliza o financiamento para custeio e investimentos em implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção, beneficiamento, industrialização e de serviços no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais próximas, visando à geração de renda e à melhora do uso da mão de obra familiar", diz a pasta.
O Pronaf possui taxas baixas de juros dos financiamentos rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do país.