Spoleto é uma das marcas do Grupo Trigo, o maior de franquias no segmento alimentação no PaísAlexandre Woloch/Divulgação

O Rio de Janeiro conquista maior destaque no cenário das franquias, seja de marcas locais ou de grupos sediados em outros estados. Durante a ABF Franchising Expo 2024, realizada em São Paulo no fim de junho, o interesse por ampliar a base de atuação no mercado fluminense foi a tônica entre os expositores. O cenário econômico favorável a novos negócios desperta o interesse por investimento em um segmento que cresceu nos últimos anos, mesmo nos momentos em que o varejo e o setor de serviços apresentavam desempenho fraco.
Para o presidente da seccional Rio da Associação Brasileira de Franchising (ABF Rio), Clodoaldo Nascimento, o mercado fluminense — o segundo maior do País — dá sinais de crescimento robusto e sustentável. Ele cita os dados referentes a 2023, quando o setor registrou alta de 10% em faturamento e número de operações. Nascimento destaca que, além da Região Metropolitana, cidades do interior do Estado revelaram potencial acima das expectativas para as franquias.
“A Região Metropolitana já é um mercado consolidado e continua crescendo. No interior, posso citar Maricá como um case de sucesso. A expansão no franchising no município surpreendeu. Mas há outras cidades que se destacam, como Volta Redonda e Angra dos Reis, por exemplo. Não é à toa que vemos marcas fluminenses e de outros estados investindo pesado em operações em municípios do interior”, explica.
Em 2024, os números mantêm a tendência de crescimento. Segundo dados da ABF Rio, o primeiro trimestre do ano teve expansão de faturamento na casa dos 15% em comparação com o mesmo período de 2023. A entidade estima que as vendas devem registrar alta de cerca de 10% em 2024.
“A economia dá sinais de crescimento, o desemprego teve queda, o poder de compra da população aumentou. Essas condicionantes dão maior tranquilidade e estimulam o desejo de empreender”, esclarece.
O setor de franquias emprega no Estado cerca de 250 mil pessoas. Contudo Nascimento destaca que cada vaga formal no mercado de trabalho gera nove empregos indiretos. “Estamos falando de cerca de 2 milhões de postos de trabalho indiretos, o que é um dado importante”, frisa Nascimento.
Entre os nichos com maior potencial de crescimento para as franquias, o presidente da ABF Rio cita, além do segmento de alimentação, negócios nas áreas de estética, saúde e cuidados para idosos. “As perspectivas são excelentes para esses negócios”, frisa.
Grupo carioca em expansão
Fundado no Rio de Janeiro, o Grupo Trigo — que reúne as marcas Spoleto, Gurumê, Gendai, China in Box, Koni Store, LeBonton e Asa — tem 25 anos de experiência no mercado de franquias, com lojas espalhadas por todo o território fluminense e em várias regiões brasileiras, ocupando o posto de maior franchising de comida do País. Mário Chady, um dos fundadores da empresa, diz que a expansão de unidades franqueadas obedece a um rígido processo de controle, o que ajuda a garantir o sucesso dos empreendedores.
“Não basta sair abrindo lojas. É preciso que o empreendedor seja apaixonado pelo negócio. De cada dez interessados em abrir uma franquia, três não desistem. Isso porque fazemos questão de mostrar que não basta ter os recursos para investir no negócio; é preciso dedicação. O candidato a franqueado faz uma espécie de imersão no cotidiano da loja. Ele passa um dia acompanhando a dinâmica do negócio, o trabalho cotidiano de acompanhamento de tudo o que envolve a operação do negócio. Aquele que pensa que vai apenas colocar o dinheiro e esperar o retorno financeiro logo percebe que não funcionamos assim. Para esses, é melhor aplicar o dinheiro em CDB”, brinca.
Isabel Medeiros, diretora de Expansão do Grupo Trigo, detalha os planos de ampliação das marcas. Em 2024, a empresa vai expandir a rede de restaurantes Spoleto na Região Sul do País. Já a marca Gendai, que tem faturamento forte no mercado paulista, pretende crescer no Rio de Janeiro e no Nordeste. Para o China in Box, os planos apontam o mercado nordestino como o mais propício à expansão. O Asa, especializado na venda de açaí com três lojas no Rio de Janeiro, abrirá unidades em Campinas (SP) e Recife.
“Temos um plano de expansão consistente. O grupo não ‘vende’ franquias. Ele busca operadores de um negócio, um parceiro da marca. Por isso fazemos uma seleção tão rígida dos nossos parceiros. Estamos ao lado dele no dia a dia da loja, identificando problemas e antecipando soluções. Nossos mercados mais fortes são, além do Rio, São Paulo e Brasília. A meta agora é crescer nas demais regiões, porém sempre mantendo essa relação de parceria com o franqueado”, esclarece a diretora.
A tecnologia é um importante aliado no projeto de expansão do grupo. Ferramentas de inteligência artificial monitoram todas as etapas do funcionamento das lojas, desde o correto aproveitamento dos insumos nas cozinhas até o tempo médio para a limpeza da mesa em um restaurante. Para o diretor digital do grupo, Luiz Marcelo Costa Correia, ter a informação em tempo real permite melhorar o atendimento ao cliente, além de aprimorar a operação nas unidades franqueadas.
“Temos diversos sistemas que nos auxiliam a aprimorar o atendimento e corrigir eventuais falhas, mesmo que elas sejam pontuais. Um exemplo é o sistema de câmeras nas unidades. Elas nos mostram quanto tempo uma mesa ficou vazia, quanto tempo o garçom demorou para fazer o atendimento, se os funcionários estão usando os equipamentos de proteção na cozinha... Tudo isso foi pensado para que tenhamos o melhor atendimento possível e para que o franqueado obtenha resultados positivos. Há ainda uma série de ferramentas que processam as informações da nossa base de clientes, o que nos permite criar promoções e ofertas direcionadas aos variados perfis de consumo”, explica.
Mercado sênior
Um dos segmentos com maior potencial de crescimento é o de serviços voltados para a população com mais de 65 anos. Fatores como perfil demográfico e poder aquisitivo tornam o Rio de Janeiro um mercado extremamente atrativo para as empresas que atuam no setor. Este é o caso da Terça da Serra, empresa especializada em oferecer espaços para moradia de idosos. Engana-se, contudo, quem imagina que a proposta é a de uma casa de repouso.
O economista Pedro Moraes e a médica Joyce Duarte Caseiro, proprietários da empresa, criaram um modelo de residência — conhecido como built-to-suit — dotado de infraestrutura e pessoal capacitado para suprir as necessidades dos locatários, tais como cuidadores, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e equipes de apoio (cozinha, limpeza e lavanderia). Unidades da franquia já operam em Barra Mansa, no Região Sul Fluminense, em Petrópolis, na Região Serrana, e na Barra da Tijuca, na Zona Oeste carioca.
O modelo de negócio prevê o funcionamento da unidade em uma casa com 800 metros quadrados de área construída e capacidade para até 50 leitos — todos com vista para a área externa —, cujas adaptações arquitetônicas são especificadas e acompanhadas pela empresa. Para Joyce, o modelo de locação de espaço tem como diferencial a proposta de ser um espaço de convivência, e não apenas funcionar como uma “casa de idosos”.
“Esta é uma proposta que visa principalmente ao bem-estar da pessoa que vai viver na casa. O franqueado precisa compreender que não é um asilo nos moldes tradicionais. É um conceito diferente, que é o de coliving. Cada morador tem o seu espaço, mas compartilha a companhia de outras pessoas”, explica.
O mercado carioca entrou no radar da empresa após mudanças nas regras de zoneamento para a atividade. Com isso, novas unidades surgirão em breve. A do Recreio, na Zona Oeste, deverá ser inaugurada até o fim do ano. Para 2025, serão abertas franquias no Flamengo e em Jacarepaguá. Em Niterói, a empresa já fechou com um franqueado, que atualmente busca um imóvel com as características necessárias para o negócio.
A Terça da Serra pretende ampliar sua rede de franqueados no País, atingindo até o fim do próximo ano 150 unidades, totalizando 2.500 leitos. “Neste processo de expansão, o Rio de Janeiro ocupa uma posição especial. As questões demográficas e econômicas tornam o Estado atrativo para empreender nessa área”, afirma Moraes.
Para além da franquia
Quando se fala em franchising, a imagem que surge é a do investimento na abertura de uma loja franqueada. Contudo o mercado vai além disso. Há empresas que atuam na viabilização de empreendimentos na área. É o caso do Carrefour Property, empresa do grupo varejista francês. Ela se especializou em desenvolver projetos de ocupação de espaços ociosos em hipermercados por franqueados de marcas de diversos segmentos.
A CEO da empresa, Liliane Dutra, explica a importância do mercado de franchising para o negócio.
“Nossa atividade é otimizar a utilização de grandes espaços nas lojas do grupo Carrefour. Criamos galerias de lojas acopladas ao hipermercado ou ao estacionamento da unidade. Com isso, oferecemos ao nosso cliente um espaço multiuso. Ele faz as compras para casa, mas pode aproveitar o tempo para levar a roupa para a lavanderia ou usar os serviços do salão de beleza que funciona na área de fora. Neste contexto, o franqueado é o nosso cliente. O empreendedor tem um fluxo constante de consumidores do Carrefour a dois passos dos seu produto ou serviço”, diz.
Liliane explica que a estratégia conta com a participação de parceiros como a Leroy Merlin, especializada em materiais de construção, e a Decathlon, do segmento de artigos esportivos. A executiva frisa que o conceito de espaço multiuso conta com a força da marca francesa, cujos hipermercados funcionam como âncoras para as galerias.
"O franqueado sabe que terá o peso da marca Carrefour atraindo potenciais clientes. O nosso trabalho é colocar a força dessa marca como alavanca para o negócio dele; isso sem os custos elevados da locação de espaço em um shopping, por exemplo", conclui.