Eduardo Paes aposta na concorrência com a B3 paulista para consolidar a nova Bolsa de Valores do RioPrefeitura/Divulgação
A notícia foi anunciada na última quarta-feira, 3, pelo prefeito Eduardo Paes, quando sancionou a lei que reduz de 5% para 2% o Imposto Sobre Serviços (ISS) cobrado para o setor financeiro. A medida viabilizou a retomada da Bolsa de Valores carioca. O Americas Trade Group (ATG), empresa do fundo árabe Mubadala, vai instalar na cidade a sua plataforma de negociações eletrônicas para o mercado de capitais. Com isso, a Bolsa carioca vai concorrer diretamente com a de São Paulo — a B3 —, atualmente a única em operação no País.
A Bolsa do Rio vai negociar ações, contratos de derivativos, câmbio e commodities. Além disso ela será a primeira Bolsa Brasileira de Crédito de Carbono. Mas a pergunta que fica: qual será o impacto para a economia da cidade e do Estado?
O Rio de Janeiro sedia atualmente 4 mil dos 57 mil fundos de investimento em operação no Brasil. Sob a gestão dos fundos fluminenses estão R$ 2,2 trilhões. Além disso, o Estado tem 1,1 milhão de investidores, todos utilizando a B3 para a realização de negócios. A reabertura da Bolsa do Rio pode representar a manutenção de um imenso volume de recursos financeiros na cidade.
Arrecadação de impostos
De acordo com a Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento, entre os anos de 2021 e 2023, o setor financeiro foi o quarto maior pagador de Imposto Sobre Serviços (ISS) à Prefeitura do Rio, algo em torno de R$ 1,5 bilhão — 9,1% da arrecadação total da Prefeitura. Com a reabertura da Bolsa, o valor tende a crescer exponencialmente. Além disso, o setor financeiro emprega 68,5 mil pessoas no Rio de Janeiro, cuja média salarial está na faixa de R$ 9,5 mil. A geração de postos de trabalho qualificados também tende a ser ampliada.
Paes destaca que a Bolsa carioca vem para competir com a rival B3. O prefeito comemorou a retomada com um vídeo na rede X (antigo Twitter) no qual brinca com os paulistas. Ele diz ainda que a iniciativa vai impulsionar o mercado de capitais não só no Rio de Janeiro, mas também no Brasil.
“A volta da Bolsa de Valores é a ponta do iceberg. O setor privado percebeu que tem uma concorrência a ser feita com São Paulo. Começamos a criar um ambiente econômico, um conjunto de atrativos, de novos mercados quer surgirão”, frisou.
Virei paulista Faralimer Meu! SQN!
— Eduardo Paes (@eduardopaes) July 3, 2024
A BOLSA DE VALORES DO RIO TÁ CHEGANDO, MEU!
Alô condado, @FariaLimaElevat @Arthuritofaria1 e @Ofaustocarvalho , chega aí que aqui o beach tennis é na praia de verdade!
Agradeço ao presidente @CarloCaiado e vereadores da @camarario que… pic.twitter.com/Q1dzVdOILj
Já o CEO do ATG, Claudio Pracownik, classificou a volta como um marco para e retomada do protagonismo do Rio de Janeiro no mercado de capitais, gerando desenvolvimento econômico e atraindo novos investidores para o Brasil.
“A nova bolsa terá sua sede administrativa localizada no Rio de Janeiro. Isso é muito importante para a cidade e para o Estado. O Rio voltará a ser um grande centro de negócios, atraindo investidores, e isso tem uma relevância enorme. Nós esperamos que este seja o marco inicial do renascimento do mercado financeiro no Rio de Janeiro”, explicou o CEO.
Pracownik destaca ainda o momento econômico vivido pelo País. Segundo ele, a entrada em operação de uma segunda bolsa de valores demonstra “a maturidade do mercado de capitais no Brasil”, além de ser um atrativo adicional para os investidores estrangeiros. O executivo aponta como consequências diretas da competição com a B3 a redução dos custos de listagem em bolsa cobrados pelas empresas; o incentivo à abertura de capital e a busca por recursos por novas companhias; a menor cobrança de taxas de negociação e a maior movimentação de liquidez de capitais.
O ATG aguarda agora a emissão da documentação pelo Banco Central (BC) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para iniciar os preparativos para a entrada em operação da Bolsa.
Do apogeu à queda
Durante décadas, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro foi o epicentro do mercado de capitais no Brasil. Aqui eram realizados a maioria dos negócios envolvendo ações, com a Bolsa de São Paulo desempenhando um papel secundário. No entanto essa realidade começou a mudar em 9 de junho de 1989. Naquele dia a maior investidor da Bolsa, o egípcio radicado no Brasil Naji Nahas, depositou um cheque sem fundos no valor de 39 milhões de cruzados novos (moeda da época), criando um caos no mercado de capitais.
A corretora que recebeu o cheque sem fundo deixou de pagar outras corretoras, que não puderam honrar compromissos com os investidores. Nahas, que chegou a ser o maior acionista pessoa física da Petrobras, causou a quebradeira generalizada de corretoras, prejudicando de forma irreversível o funcionamento da Bolsa carioca.
A partir daí, o que se viu foi o esvaziamento acelerado da Bolsa do Rio de Janeiro. Os negócios foram rareando. Nos primeiros meses após o “calote” de Nahas, o volume de negócios caiu de 1 bilhão para 250 milhões de cruzados novos. Ou seja, perda de 75% da movimentação financeira.
Na época, chegou-se a especular que teria acontecido a interferência da Bolsa de São Paulo para gerar a crise e causar o esvaziamento do mercado de capitais carioca, porém a versão jamais foi confirmada. O fato é que em abril de 2000 houve o último pregão no prédio da Praça XV. Dois anos depois, a BVRJ foi incorporada pela rival paulista.
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