José Carlos Fonseca não pretende parar de trabalharArquivo pessoal

Depois de uma vida toda dedicada ao trabalho é hora de descansar e curtir sem se preocupar com horário de acordar e com as contas a pagar todos os meses. Essa deveria ser a realidade da maioria dos trabalhadores do país, mas é uma utopia. Pesquisa realizada, neste ano, pela Serasa, revela que seis de 10 pessoas aposentadas precisam trabalhar para compor a renda e não conseguem 'pendurar as chuteiras’.
Pelo contrário, muitas fazem malabarismo para conseguir um novo emprego e para chegar ao fim do mês sem dívidas. Economista e professor do IBMEC, Gilberto Braga, de 63 anos, afirma que é necessário tomar algumas providências financeiras antes de a pessoa parar de trabalhar. "Deve-se buscar formar uma reserva financeira para a aposentadoria, podendo ser um fundo de previdência, por exemplo. O ideal é começar a fazer isso o mais cedo possível quando a pessoa alcança a idade produtiva".
Trabalhadores, muitas vezes, se questionam o porquê do achatamento dos salários e o profissional explica. "Dependendo da regra de reajuste do valor das aposentadorias e benefícios em vigor ao longo do período de aposentadoria, só tem garantido o valor piso como sendo o do salário mínimo, havendo reajuste inferiores para os valores mais elevados, o que faz com que essa relação de quantidade de salários mínimos vá diminuindo".
Além disso, o economista faz uma explanação sobre o Instituto Nacional de Seguridade Social. "O INSS não é somente destinado à aposentadoria, mas para a previdência social de forma ampla, incluindo seguros-desemprego, benefícios para necessitados e carentes, licenças médicas, auxílio natalidade, auxílio funeral, dentre outros. Além disso, há descompasso entre as contribuições e as alocações de uso, havendo déficit. Na previdência pública há garantia da lei de que o servidor se aposenta com o último salário da ativa, incorporando vários benefícios".
De acordo com Gilberto Braga, quando o trabalhador chega aos 60 anos há um estímulo natural para que se aposente, a fim de garantir o seu direito adquirido, diante do temor de que mudem a lei e as regras. "Sempre que isso acontece, a mudanças são para pior, para que a pessoa precise trabalhar mais tempo e, ou, seu valor a receber fique menor. Entretanto, considerando as condições de vida atual e a longevidade da população, pode-se dizer que o trabalhador nessa fase de idade se aposenta na plenitude da sua capacidade intelectual, sendo uma perda para sociedade. Infelizmente, muito não conseguem retornar ao mercado de trabalho, o que caracteriza o conceito que hoje chamamos de etarismo (preconceito com pessoas idosas)".
Reinserção no mercado de trabalho
De etarismo, a mestre em Administração pelo IBMEC-RJ, especialista em Gestão e Recursos Humanos pela PUC-RJ e Fundadora e Diretora da Acalme Terapias Integradas, Centro para Desenvolvimento de Adultos 60+, Eliana Motta, entende bem. Ela trabalha na reinserção de pessoas mais velhas no mercado e a tarefa não é das mais fáceis, mas possível. Eliana explica que não existe uma estatística única sobre a porcentagem exata de profissionais maduros que conseguem se recolocar no mercado de trabalho em 2024 no Brasil.
"Muitos vão trabalhar como empreendedores ou autônomos por necessidade. Existem estudos (Cattho e Talento Sênior) indicando que apenas cerca de 18,5% dos brasileiros com 60 anos ou mais estão empregados, o que mostra uma alta taxa de exclusão desse grupo no mercado de trabalho". A profissional reitera que os salários também são menores. "Quando conseguem se recolocar, ainda pode-se perceber que é para cargos bem abaixo de suas competências, nada estratégicos e para ganhar menos. Isso reflete um grande desafio para os profissionais mais velhos, que enfrentam barreiras como preconceito etário e dificuldades de adaptação às novas tecnologias".
Segundo Eliana, esses profissionais maduros hoje foram formados na sociedade brasileira que não incluía em seu sistema de ensino a Educação Financeira e, portanto, muitos, mesmo com a experiência e habilidades acumuladas ao longo dos anos, precisam de renda extra por não possuírem reserva financeira. "Eles precisam buscar formas alternativas de se manterem ativos, como o empreendedorismo ou trabalhos temporários, para driblar a falta de oportunidades formais de emprego. Para enfrentar esses desafios, é importante que os profissionais maduros invistam em atualização constante e adaptação às novas demandas do mercado, enquanto as empresas precisam reconhecer o valor que esses profissionais trazem e combater o etarismo".
Deslumbramento, desilusão e depressão
Aposentadoria é um dos temas abordados no livro ‘Propósito de vida da pessoa idosa’ (Summus Editorial) que a fisioterapeuta, professora e doutora em Gerontologia Cristina Cristovão Ribeiro organizou. Ela é autora com mais 13 especialistas na área da gerontologia. A obra foi lançada no dia 10 de agosto deste ano,  durante o Meeting InterFISIO em Gerontologia, no Centro do Rio de Janeiro. Cristina Ribeiro conta que é comum ver pessoas que passam a vida sonhando com a aposentadoria e quando chega a hora não sabem o que fazer com o tempo que tem.
"Gosto de comentar sobre os três ‘Ds’ da aposentadoria: – DESLUMBRAMENTO, ‘nossa não vejo a hora de me aposentar’, depois a DESILUSÃO, quando a pessoa se aposenta e percebe que não é tudo aquilo que pensava’. Acha difícil ocupar aquelas 30/40 horas por semana que usava para o trabalho, não sabe o que vai fazer com esse tempo. E por último a DEPRESSÃO, por não saber o que fazer, se sentir perdida, improdutiva. É muito comum eu ter contato com pessoas que eram superprodutivas, mas o que norteava a rotina delas era o trabalho e depois que se aposentaram se desorganizaram e elas comentam ‘antes eu era cheia de compromissos e não tinha tempo para nada e agora que eu tenho tempo não sei o que fazer com ele" , finaliza a especialista.
Desafio é viver com o que se ganha

Engenheiro aposentado, José Carlos Fonseca, de 71 anos, passou a receber pensão do INSS aos 55, mas nunca parou de trabalhar e nem pretende. "Tive empresa, fui autônomo e hoje sou assessor de investimentos credenciado a XP e sócio do Saron Investments. Ganho de aposentadoria R$ 3,200 e isso é pouco porque não paga as despesas do mês. O negócio é procurar uma ocupação que te dê dinheiro, satisfação pessoal, horário flexível e ter tempo disponível para viajar. Minhas habilidades, além de assessoria de investimentos, são nas áreas de vendas, Perícia Judicial, gestão empresarial e gerenciamento de TI. Assim eu faço a minha agenda".
No passado, ele fez um fundo de pensão, mas gastou mais do que deveria. Para José Carlos, para ter uma velhice tranquila é preciso planejar, poupar, investir e fazer proteção patrimonial, de preferência com ajuda profissional, durante a fase laboral, sempre pensando no futuro. "O desafio do aposentado é viver com o que ele ganha, independente do salário recebido. A pessoa precisa fazer os gastos caberem no orçamento. Tem que viver com a renda que você tem".
Sem glamour na lida diária

O aposentado Juarez Osório Corrêa, de 74 anos, nunca parou de trabalhar. "Seria o ideal, mas não dá. Já trabalhei em banco, tive bar, agência de turismo, fábrica de salgado, lojas de artigos de presentes. Fui motorista do Brizola (Leonel Brizola - governador do Rio de Janeiro em 1983-1987 e 1991-1994) e me aposentei como autônomo há 20 anos. Mas não parei".
Para Juarez, essa situação acontece desde a época do então presidente Getúlio Vargas. "Sempre foi assim. O problema é que a pessoa se aposenta com 12 salários e vai passando o tempo, ela passa a ganhar cinco. Antes da Covid, eu era diretor dos guias de turismo do Pão de Açúcar, mas depois saí. Atualmente sou um táxi guia para passeios", diz ele, que não vê glamour em continuar na lida diária. "Eu trabalho por necessidade. Não está dando nem para pagar o plano de saúde. Nessa época é quando você mais precisa de dinheiro por causa da idade e os remédios são caros. A aposentadoria deveria ser um merecimento, não um sofrimento para compor a renda", avalia.
Conforto a mais para a família

Há um ano aposentado por idade, Carlos Antonio do Monte, de 67 anos, resolveu reativar sua matrícula para trabalhar no Porto do Rio na função que já exercia: a de chefe dos consertadores para dar um conforto a mais para sua família. "Quanto mais dinheiro para ajudar na aposentadoria, melhor", conta Carlos Antônio, que já foi treinador e jogador de futebol e viajava muito pelo país, sem poder dar a devida atenção aos familiares. "Fiquei muito tempo trabalhando longe da minha família. No Porto, eu consigo dar mais atenção a minha esposa, filhas e netos. Ganho R$ 4 mil de aposentadoria e o trabalho no Porto ajuda a complementar".
Necessidade de planejamento familiar

Em entrevista ao jornal O DIA, Washington Mendes, educador financeiro, especialista em finanças e CEO, da WMO Digital, fala como as pessoas devem ser organizar para uma aposentadoria mais tranquila.
O DIA: O que as pessoas devem fazer para que no futuro não se tornem uma dessas seis que não podem descansar depois de toda uma vida trabalhada?
WASHINGTON MENDES: A realidade financeira do brasileiro tem uma variação ampla e isto faz que o planejamento se faça necessário especialmente a quem está no mercado de trabalho celetista ou autônomo. Portanto se você hoje é jovem e, no futuro, almeja ter tranquilidade para apenas curtir sua melhor idade (aposentadoria), é preciso compreender que vive num país no qual deve se aproveitar os investimentos financeiros com juros a seu favor e não jogando no time da maioria: pagando juros tão somente. Para você desfrutar como celetista ou autônomo ou até mesmo servidor público, deve seguir três passos:

       1) Projete o futuro – O jargão da vida para as pessoas da melhor idade é que o tempo passou e não fora sentido por eles, então jovens sentem, coloquem em seu caderno onde querem estar em cinco anos e revisem a rota de cinco em cinco anos. A projeção te fará ter foco para não gastar por exemplo mais que ganha, porque o que te faz alcançar e atrair resultados é seguir para um alvo que está alinhado com um propósito de vida. A mentalidade é mais importante que você apenas querer algo sem saber para onde ir.
       2) Adicione uma renda extra – Na maioria das vezes por vivermos em um país que a taxa de juros e o custo Brasil serem elevados é você, além de sua renda formal, entender outra habilidade que tenha e prestar um serviço ou vender algo, como bolo, salgados, consertar coisas para os outros, cortar um cabelo de alguém e ser pago por estas habilidades.
       3) Pague seu presente e o futuro – A maioria daqueles que não alcançam uma vida saudável na melhor idade são os que estão imersos apenas no presente e se esquecem que um dia suas forças vão se esvair e aí o tempo já passou. A única forma, mesmo recebendo aposentadoria, será voltar ao mercado de trabalho.Quando for separar seus proventos, pegue uma pequena parte como algo em torno de 3% a 20% e jogue para o futuro com investimentos inteligentes, e uma parte que tem variação entre até 10% para o seu presente. O desfrutar sempre precisa lhe dar satisfação nos dois tempos: presente e futuro. Sua motivação será elevada quando visualizar que está desfrutando no presente e que terá algo extraordinário lhe esperando também no futuro.
O DIA: Sabemos que nosso Sistema Previdenciário é complicado. Por que os aposentados do INSS não conseguem ter paridade como grande parte dos servidores públicos?
WASHINGTON MENDES: Temos um teto a ser cumprido em nosso país para trabalhadores celetistas e autônomos diferentemente dos servidores públicos. Atualmente, o teto está em R$ 7.786,02. Você pode estar ganhando hoje um salário de R$ 10 mil e se estivesse contribuindo com o teto máximo e tivesse que se aposentar hoje receberia como celetista ou autônomo o valor do teto e não os R$ 10 mil atuais. Por este motivo, muitos fazem uma previdência privada (pagamento de um valor para complementar a renda e ficar igual ao que recebe na ativa ou até maior dependendo do plano que escolher e puder pagar).

O DIA: Por qual motivo as pessoas se aposentam com 12 salários mínimos, dando um exemplo, e com o passar dos anos passam a receber quatro ou cinco?
WASHINGTON MENDES: A previdência possui algumas regras para aposentadoria como por idade, por tempo de contribuição além de seus desdobramentos de transição e seus respectivos “pedágios” que variam entre 50% e 100%. Tomando como exemplo alguém que ganhava em torno de 12 salários mínimos e está ganhando agora na aposentadoria algo em torno de 4 ou 5 salários podemos talvez dizer que esta pessoa pode ter sido enquadrada em uma destas 2 situações abaixo:
          1) Aposentadoria por tempo de contribuição – Transição pedágio 50% - Nesta regra o contribuinte receberia até 50% do valor do benefício no qual têm direito cumprindo algumas regras como:
             a)Tempo de Carência (180 meses de contribuição)
             b)Idade (Atualmente de acordo com a *EC 103, 33 anos de idade) *Existe uma variação considerável porque os governos sempre revisam e criam emendas a cada tempo, por isto é importante não parar de contribuir.
         2) Aposentadoria por tempo de contribuição – Transição pedágio 100% - Neste caso você recebe 100% cumprindo os 180 meses de carência, tendo 55 anos e 26 dias de contribuição, e ter 60 anos de idade, mas lembrando que receberá apenas o teto da previdência da época atualmente no Brasil ficaria em R$ 7.786,02.

O DIA: As pessoas precisam trabalhar para compor renda, mas muitas têm mais de 60 anos e o mercado é cruel. Como você vê esse quadro no país?
WASHINGTON MENDES: Em um passado recente os seniores sempre foram muito bem-vindos ao mercado de trabalho porque sua experiência profissional era compartilhadas de maneira primordial aos trainees, e outros profissionais das organizações, hoje com a amplitude da internet as informações estão mais difundidas, porém não organizadas. É importante que os aposentados que buscam o mercado de trabalho possam criar uma metodologia de trabalho e oferecer suas habilidades com treinamentos em alguns casos seja de quaisquer esferas profissionais.