Presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos NetoMarcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta segunda-feira, 12, que, independentemente de quem seja seu sucessor no comando da autarquia no ano que vem, o BC terá um compromisso "inequívoco" de trabalhar para levar a inflação à meta.
"Temos tido mensagem inequívoca e consensual de que o BC fará o que precisar para trazer inflação para meta", frisou Campos Neto em palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo. "Isso está bem sedimentado no grupo que temos hoje e no debate que fazemos", acrescentou.

Na avaliação de Campos Neto, o BC tem se esforçado para externalizar esse compromisso e que, por isso, o prêmio de risco que trouxe volatilidade ao ambiente interno tende a diminuir à frente.

EUA

Apesar de a inflação nos Estados Unidos estar convergindo à meta, o juro norte-americano pode ficar mais alto por mais tempo, disse o presidente do Banco Central.

Ele frisou que existem elementos que apontam para uma desaceleração da economia nos EUA, com arrefecimento do ritmo da inflação e do próprio Produto Interno Bruto (PIB).

Uma recessão nos EUA, porém, ainda "não parece provável", segundo ele. "Existe a possibilidade, mas não é o mais provável", apontou.

Campos Neto ressaltou, porém, que existem alguns elementos dentro da dinâmica norte-americana que apontam para algum risco inflacionário, como, por exemplo, a eleição. Para ele, a tendência para uma política fiscal expansionista está presente no discurso dos principais candidatos que disputam a eleição e que por isso existe, no mercado, a percepção de que, independentemente do vencedor, não deverá haver uma política austera nos EUA.

Na avaliação do presidente do BC, esse debate talvez faça com que a "ficha caia" para alguns agentes de mercado de que "é difícil" o mundo voltar a ter juros baixos no nível de antes da pandemia de covid-19.

Ambiente global

Em relação ao ambiente global e a realidade da maioria dos países, Campos Neto destacou que houve um aumento da dívida desde a pandemia, que os juros estão mais altos e, por isso, o custo para rolagem dessa dívida está também mais alto.

Entre os países emergentes, Campos Neto citou que a inflação cheia e a média de núcleos começou a cair. Na América Latina, contudo, ele destacou uma elevação recente nos preços de energia Já em relação à Índia, Campos Neto citou que tem havido uma desaceleração na inflação de serviços. "No geral, a convergência está bem lenta", frisou.

Japão

As chamadas operações de carry trade envolvendo empréstimos no Japão e aplicação em outros países estão aos poucos sendo "desarmadas", disse o presidente do Banco Central.

Ele destacou que houve recentemente uma mudança no diferencial de juro do Japão e dos Estados Unidos, o que trouxe volatilidade a essas operações. "Quando a gente olha o índice Nikkei, índice do mercado de ações da Bolsa de Valores de Tóquio, tivemos a maior queda dos últimos 20 anos", destacou.

Segundo Campos Neto, cerca de "dois terços" das operações de carry-trade envolvendo o Japão já foram "desarmadas".

China

Na avaliação do presidente do Banco Central, está havendo um crescimento do sentimento de competição de alguns países em relação à China, especialmente no segmento de eletrificação, o que ajuda a explicar em algum grau a volatilidade de alguns países emergentes.

"Vemos que o padrão da China muda de consumo interno para a exportação, e tem uma exportação muito grande para essa parte de eletrificação. Então vemos que muitos países do mundo colocam tarifas grandes nessa parte de carros importados", detalhou o banqueiro central.

Assim, acrescentou Campos Neto, a situação da China hoje é um caso de desaceleração, mas com risco de ter "algum sobressalto", a depender da reação do mundo, especialmente com relação às tarifas aos produtos chineses.