Especialistas dão dicas para deixar o mundo dos endividadosReprodução

Ter dívidas é a realidade de mais de 72 milhões de brasileiros. Independente de como é contraída, quitá-la não é tarefa fácil. Diante deste cenário, o DIA procurou especialistas para entender as melhores estratégias contra a situação.

Edmundo Lopes, professor de Ciências Contábeis da Anhanguera de Niterói, explica que o primeiro passo para quem está endividado é se organizar. "O ideal é listar todas as dívidas e colocá-las em ordem de importância, priorizando aquelas com os juros mais altos", recomenda.

Ele sugere que, uma vez identificadas as dívidas prioritárias, o consumidor deve tentar um acordo de parcelamento que se ajuste ao orçamento. "Caso não consiga um parcelamento, a alternativa é poupar as sobras mensais e esperar por uma oportunidade de quitação à vista, aproveitando os descontos oferecidos pelos credores", acrescenta o especialista, que também enfatizou importância de evitar novas dívidas até que as anteriores sejam quitadas.

Consultado, o Serasa reforçou a fala sobre a escolha por juros mais baixos. "Por mais que inicialmente a dívida possa não ter um valor expressivo, com a incidência de juros altos o valor aumenta e pode se tornar bola de neve irreversível. Dessa forma, busque fechar acordos com parcelas que realmente cabem no seu bolso".

A organização também lembrou que oferece condições para renegociação de dívidas através do Serasa Limpa Nome. Para isso, basta acessar o site, consultar as ofertas de negociação, escolher uma das opções e iniciar o pagamento.

O especialista em finanças pessoais, João Victorino, lembrou que é importante negociar com plataformas como Serasa e SPC, além de ficar atento aos feirões 'Limpa Nome'.

"Participar de feirões 'Limpa Nome' é uma oportunidade para conseguir melhores condições de pagamento, uma vez que são oferecidas possibilidades especiais para a renegociação de dívidas, incluindo descontos significativos sobre juros e multas, parcelamentos facilitados e maior flexibilidade nas negociações. É preciso elaborar um plano de pagamento, possivelmente com a ajuda de um consultor financeiro, para evitar reincidências".

A dívida realmente caduca?

Após cinco anos, o nome não pode mais ser negativado nos serviços de proteção de crédito, como Serasa e SPC. Contudo, a dívida continua existindo e essa informação fica atrelada ao CPF no Banco Central. Isso significa que, se antes de conceder crédito, a instituição realizar apenas uma pesquisa nos birôs de crédito, não verá o nome negativado. No entanto, uma pesquisa no Banco Central revelará que o CPF possui uma dívida.

João Victorino destaca que limpar o nome pode envolver diversos gastos, que variam conforme a negociação e a dívida. Os mais comuns são o valor principal da dívida, os juros e as multas pelo atraso, os honorários de advogados em caso de ações judiciais e as taxas administrativas cobradas por algumas empresas.

Quinze milhões de beneficiados

O governo lançou, no ano passado, o programa de renegociação de dívidas Desenrola. Nele, milhões de brasileiros que recebem até dois salários mínimos ou estão no Cadastro Único puderam renegociar seus valores pendentes.

Foram renegociados débitos negativados em órgãos de proteção ao crédito entre os anos de 2019 e 2022 de até R$ 5 mil, podendo ser parcelados em até 60 meses com juros mensais de 1,99%. Também puderam ser acordados pagamentos à vista de dívidas entre R$ 5 mil e R$ 20 mil.

De acordo com o Ministério da Fazenda, foram negociados R$ 53,07 bilhões e o programa beneficiou 15,06 milhões de pessoas.

E se eu for negativado indevidamente?

A especialista em Direito do Consumidor, Cátia Vita, aponta que a negativação indevida acontece quando o consumidor pagou a dívida e a empresa reguladora não providenciou a retirada do nome do cadastro restritivo.

"Quando o consumidor não concordar com a negativação, deverá entrar em contato com a empresa que negativou e realizar a reclamação, anotando o protocolo da reclamação. Caso a empresa dê continuidade à negativação indevida, o consumidor poderá ajuizar uma ação para requerer a imediata retirada e ainda indenização por danos morais", contou.

Sobre os danos causados pelo problema, Luís Eduardo de Jesus, professor de Direito da Anhanguera, em Niterói, citou alguns pontos que podem trazer prejuízo para o negativado.

"Isto é difícil de precisar, mas geralmente qualquer forma de negativação é prejudicial a honra e a imagem da pessoa. Mas, exemplificando, isto pode interferir na participação de concursos públicos, compra da casa própria e na obtenção de crédito em instituições financeiras".

Dicas para ficar no azul
Uma vez que as suas dívidas já foram controladas e renegociadas, como fazer para não voltar ao mesmo lugar de inadimplência? O especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias, falou sobre alguns conceitos básicos que todos que não querem se endividar devem seguir:

"Para evitar contrair dívidas, é fundamental adotar uma abordagem preventiva em relação às finanças pessoais. Isso inclui viver dentro das suas possibilidades, ou seja, gastar menos do que se ganha, e evitar o uso indiscriminado de crédito. Criar um orçamento mensal detalhado, que contemple todas as receitas e despesas, é crucial para manter o controle financeiro".

Ele também alerta para a necessidade de se criar uma reserva de emergência e construir novos geradores de renda. Já o professor Edmundo Lopes dá dicas sobre o controle na hora das compras.
"Em relação às compras por impulso, a dica é se estiver tentado a comprar algo, não compre naquele momento, aguarde pelo menos um dia para tomar a decisão. Dessa forma, o consumidor poderá refletir se o que queria comprar é realmente necessário", explicou.

Empresário enfrenta desafios para voltar aos trilhos

O DIA também conversou com o empresário Thalles Helmold, de 35 anos, que compartilhou sua experiência sobre o assunto e aconselha quem estiver em uma situação financeira mais apertada.

"Tenho meu negócio de quentinhas fitness. Depois de um mês de turbulência eu deixei de retirar o meu salário da empresa e utilizei meu cartão de crédito, acreditando que a situação melhoraria no mês seguinte. No entanto, a loja não rendeu como eu esperava e novamente não retirei meu salário, assim não tive como pagar o cartão", explicou.
Thalles é dono de uma empresa de quentinhas fitness - Arquivo Pessoal
Thalles é dono de uma empresa de quentinhas fitnessArquivo Pessoal


Ele diz que, para a conta não ficar no vermelho, optou por negociar com o seu banco para pagar o valor do cartão de crédito de forma parcelada. No entanto, Thalles não recomenda o procedimento. "Jamais, em qualquer hipótese, parcele o valor do cartão de crédito. São juros abusivos e que, em determinado momento, são impagáveis. Parcelar jamais", contou.

Sobre a estratégia para realizar o pagamento, o empresário é enfático. "Eu cortei alguns gastos e a empresa está se recuperando do momento ruim. Tudo indica que eu terei a renda que eu tinha antes e poderei normalizar a situação".