Juros altos podem dificultar o pagamento da dívidaMarcelo Camargo/Agência Brasil

Com contas acumuladas e a pressão para manter os pagamentos em dia, muitos brasileiros enfrentam uma escolha difícil: recorrer ao cheque especial ou concentrar seus gastos no cartão de crédito, correndo o risco de apelar para o rotativo. A decisão pode trazer consequências graves. Um estudo recente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revelou que o cartão de crédito é a principal causa da inadimplência, respondendo por 31% das dívidas em atraso, enquanto o cheque especial representa 15%.
A especialista em finanças e CEO da Double Check Consultoria, Daniela Pederneiras, explica as principais diferenças entre o endividamento no cartão de crédito e no cheque especial.
Especialista em finanças e CEO da Double Check Consultoria, Daniela Pederneiras - Arquivo pessoal
Especialista em finanças e CEO da Double Check Consultoria, Daniela PederneirasArquivo pessoal
“O cheque especial geralmente apresenta juros mais altos. Embora existam instituições financeiras que ofereçam um período para a utilização do cheque especial sem a cobrança de juros, após esse tempo as taxas podem ultrapassar 215% ao ano”, explica. “Já o cartão de crédito possui taxas menores para quem paga a fatura integralmente. Mas, o crédito rotativo pode ter taxas ainda mais altas, chegando a impressionantes 400% ao ano”, pontua a especialista.
Os juros altos podem dificultar o pagamento da dívida. A carioca Mara Santos, de 49 anos, explica que recorreu ao cartão de crédito e ao cheque especial para abrir um salão de beleza. Sua sócia deveria ter dado metade do valor, o que não ocorreu.
"Foram passando os meses e ela não me pagou. Pagava uma parte, depois não pagava a outra. Acabei gastando uns R$ 8 mil reais para comprar as coisas e ela não me devolveu”. Depois de um período, Mara conseguiu quitar a dívida e diz que aprendeu com a experiência. “Nunca mais na vida entrei em cheque especial; aprendi a lição”.
Daniela Pederneiras conta que hoje, no País, há mais cartões de crédito do que pessoas. “Segundo o Banco Central, o Brasil tem em média 212 milhões de cartões de crédito ativos, contra uma população de 203 milhões”, destaca.
O especialista em finanças e investimentos Hulisses Dias explica que os principais motivos que levam as pessoas à inadimplência com o uso do cartão de crédito ou do cheque especial incluem a falta de planejamento financeiro adequado e o uso excessivo dessas linhas de crédito para cobrir despesas diárias.
Especialista em finanças e investimentos, Hulisses Dias - Arquivo pessoal
Especialista em finanças e investimentos, Hulisses DiasArquivo pessoal
“Muitas vezes, o crédito é utilizado como uma extensão da renda, o que pode gerar um descontrole financeiro, especialmente quando não há um acompanhamento rigoroso do orçamento”, pontua Dias. “O fácil acesso ao limite do cheque especial e ao crédito rotativo pode gerar a falsa sensação de que há dinheiro disponível, levando ao acúmulo de dívidas que, somadas aos altos juros, se tornam difíceis de pagar”, diz.
Para quem precisa usar o cartão de crédito ou o cheque especial, Hulisses Dias destaca que primeiro é necessário saber o que envolve a decisão. “As pessoas precisam entender as taxas envolvidas, os prazos de pagamento e os custos de atrasos. O uso consciente exige controle do orçamento para evitar entrar em dívidas que possam se tornar impagáveis”, afirma.
Ao jornal O DIA, o Procon RJ afirmou que “é direito do consumidor ter acesso às informações sobre o valor da dívida, sua planilha evolutiva e a todos os termos da nova negociação”. Em caso de cobrança abusiva, o Procon orienta que “o consumidor efetue uma denúncia aos órgãos de proteção e defesa do consumidor”.
Para saber se os juros estão mais altos que o normal, Bruno Rocio, assessor da Raro Investimentos, explica que o primeiro passo é comparar a taxa cobrada com a média do mercado. “Se houver uma discrepância muito grande, pode ser considerado abuso de juros”, afirma.
Assessor de Investimentos da Raro Investimentos, Bruno Rocio - Arquivo pessoal
Assessor de Investimentos da Raro Investimentos, Bruno RocioArquivo pessoal
Dicas para quem está endividado
Se você já contraiu uma dívida pelo cartão de crédito ou pelo cheque especial, os especialistas dão dicas de como você pode resolver o seu problema. 
Bruno Rocio afirma que, para quem já está endividado, é essencial adotar estratégias como renegociação, priorização de dívidas e ajustes no orçamento.
“O primeiro passo é entender a real situação financeira. Listar todas as dívidas, incluindo valores, taxas de juros, prazos e credores. Isso ajuda a ter uma visão clara da gravidade do problema e por onde começar. Além disso, é importante avaliar sua renda mensal e todas as despesas fixas e variáveis, para saber exatamente quanto pode destinar ao pagamento das dívidas”, destaca.
“Em um segundo momento, deve-se focar nas dívidas mais caras, como o cartão de crédito rotativo e o cheque especial, pois essas têm as maiores taxas de juros”, diz. “Se conseguir, deve entrar em contato com os bancos ou instituições financeiras para negociar a dívida. Muitos credores oferecem condições mais favoráveis, como redução de juros, descontos à vista ou parcelamento, quando percebem que o consumidor está disposto a resolver o problema”, afirma Rocio.
Em caso de dívida no cartão de crédito, o especialista afirma que, em quase todos os casos, parcelar a fatura é uma opção melhor do que o rotativo. “Isso porque o parcelamento da fatura tem juros muito menores do que o rotativo, o que evita que a dívida cresça de forma descontrolada. Além disso, com o parcelamento, você sabe exatamente o valor que pagará a cada mês”, enfatiza. Bruno aponta que o rotativo só é uma opção viável se a pessoa estiver esperando uma entrada de dinheiro em, no máximo, 30 dias e puder quitar a dívida integralmente antes do vencimento.
Por último, o especialista ressalta que “é importante também analisar as despesas e ver o que pode ser cortado temporariamente para liberar mais recursos para o pagamento das dívidas. Reduzir gastos com lazer, compras não essenciais e serviços desnecessários pode ajudar a focar na quitação”.
* Matéria da estagiária Alexia Gomes, sob a supervisão de Marlucio Luna