Os carros elétricos estão revolucionando a mobilidade urbana e redefinindo o mercado automotivo global, e o Brasil segue essa tendência. Em 2024, o mercado alcançou o melhor desempenho histórico do segmento, com 155.724 veículos licenciados até novembro, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Foram 17.413 unidades emplacadas só em novembro, um recorde. Em relação às expectativas para o fim de dezembro, as vendas devem ultrapassar 170 mil carros eletrificados, o que supera em 80% o crescimento do ano passado.
Baseados em motores alimentados por baterias recarregáveis, esses veículos oferecem uma alternativa sustentável, econômica e eficiente em relação aos modelos a combustão. Além de eliminarem a emissão de gases poluentes, apresentam custos de manutenção menores e proporcionam uma condução mais silenciosa, características que vêm atraindo cada vez mais consumidores.
Para o universitário Bruno Pessoa, de 22 anos, a sustentabilidade e o desempenho dos carros elétricos foram os fatores que mais chamaram a atenção ao comprar o veículo. "Além da economia ao abastecer, comprei um carro elétrico por proteger a natureza e pelo tempo de resposta praticamente instantâneo do torque do acelerador", comenta.
Os carros elétricos apresentam uma série de vantagens que os colocam como uma opção cada vez mais relevante no mercado automotivo. Entre os principais benefícios estão o menor custo de manutenção, a sustentabilidade proporcionada pela ausência de emissões diretas, a condução silenciosa e eficiente, além da economia significativa em comparação aos combustíveis fósseis. Por outro lado, desafios como o alto custo inicial, a infraestrutura de recarga ainda limitada e o tempo de carregamento mais longo em relação ao abastecimento convencional são fatores que ainda geram dúvidas para muitos consumidores.
Embora o preço inicial de um carro elétrico ainda seja superior ao de um veículo tradicional, o investimento pode compensar no longo prazo. Em 2024, por exemplo, o Fiat Mobi, um dos modelos a combustão mais acessíveis do mercado, tem preço inicial de cerca de R$ 70 mil, enquanto o Renault Kwid E-Tech, versão elétrica, custa aproximadamente R$ 100 mil. Apesar dessa diferença inicial, a significativa economia com combustível e manutenção ao longo dos anos tende a compensar o investimento em um veículo elétrico, tornando-o uma opção mais vantajosa para o consumidor.
“É importante destacar que as pessoas não devem postergar a transição para os carros elétricos por receio das futuras evoluções tecnológicas. Mesmo que a tecnologia dos elétricos avance rapidamente, o custo de manter um carro a combustão — seja no abastecimento, seja na manutenção preventiva — é literalmente dinheiro queimado”, afirma Marcos Paulo Bebici, criador do perfil @diariodocarroeletrico, um canal especializado em testes de veículos eletrificados que conta com mais de 120 mil seguidores nas redes sociais.
Entusiasta desse segmento, Bebici destaca que os custos com manutenção preventiva e consumo de modelos tradicionais poderiam ser mais bem utilizados, como no financiamento de um carro elétrico, que proporciona uma economia expressiva no médio e longo prazo.
Como um carro elétrico funciona?
Os carros elétricos podem ser divididos em quatro categorias principais, cada uma com características únicas que atendem a diferentes necessidades. O híbrido (HEV) combina o motor a combustão com o elétrico, utilizando frenagem regenerativa para recarregar a bateria de forma eficiente. O híbrido plug-in (PHEV) funciona de maneira semelhante, mas permite recarregar a bateria conectando o veículo a uma fonte de energia externa. Já o carro elétrico a bateria (BEV) é totalmente movido a eletricidade, dependendo exclusivamente da energia armazenada em sua bateria, que pode ser recarregada por meio de tomadas ou carregadores específicos. Por fim, o carro a célula de combustível (FCEV) utiliza hidrogênio como fonte de energia, gerando eletricidade para alimentar o motor, sendo uma alternativa promissora para a mobilidade sustentável.
O funcionamento é baseado no uso de eletricidade como combustível, armazenada em baterias recarregáveis. Um inversor converte a corrente elétrica contínua em alternada, que alimenta o motor elétrico responsável por mover o veículo de forma silenciosa, eficiente e sem emissões diretas.
Na internet, é comum encontrar reclamações sobre a autonomia de eletrificados. Bebici comenta que os problemas em relação à carga da bateria são praticamente inexistentes hoje em dia. "No fim de 2021, quando comecei a viajar com carros elétricos, enfrentei desafios que hoje praticamente não existem", ele relembra. Sua primeira viagem foi de Guarapuava, no Paraná, até Cabo Frio, no Rio de Janeiro, percorrendo cerca de 1.300 km em cada trajeto, totalizando 2.600 km de ida e volta. "Naquela época, havia um receio constante de chegar a um eletroposto e ele não está funcionando", conta.
Ele afirma que esse problema foi praticamente superado, graças aos avanços tecnológicos e à conectividade dos eletropostos. Agora é possível verificar on-line, com antecedência, se o carregador está funcionando, se está ocupado ou disponível. "Essas informações tornam o planejamento muito mais confiável e eliminam o medo de não encontrar carregamento na chegada", explica.
A autonomia varia de acordo com o modelo e os padrões de teste. No Brasil, o Inmetro padronizou a medição da autonomia para veículos elétricos a bateria (BEVs), que podem percorrer entre 150 km e mais de 500 km por carga. O tempo de recarga depende do tipo de carregador e da capacidade da bateria. Carregadores de emergência, que utilizam tomadas comuns, oferecem recargas mais lentas. Carregadores portáteis, por utilizarem corrente elétrica mais alta, garantem maior velocidade. Além disso, soluções como mini wallboxes e eletropostos oferecem recargas ainda mais rápidas, adequadas tanto para uso residencial quanto público.
O carregamento da bateria é uma das maiores preocupações daqueles que planejam comprar um carro elétrico. Bebici explica que esse receio não é mais necessário atualmente: "Eles são suficientes para a grande maioria da população. Normalmente, ninguém roda mais do que 1.000 km por mês e isso representa uma carga por semana para um carro elétrico", esclarece.
Para entender as vantagens econômicas dos carros elétricos, é essencial calcular o custo de carregamento em casa, levando em conta a tarifa de energia elétrica, a capacidade da bateria (em kWh) e a frequência de uso. Em comparação com veículos a combustão, a diferença pode ser significativa.
Tomando como exemplo o BYD Dolphin Mini, um dos modelos elétricos mais vendidos, que possui uma bateria de 38 kWh, e considerando a tarifa média de R$ 0,754 por kWh no Rio de Janeiro, o custo para uma carga completa seria de aproximadamente R$ 28,65.
Por outro lado, abastecer um carro a combustão, como o Chevrolet Onix Plus 1.0 LT, pode custar R$ 265,32, conforme o preço médio da gasolina nos postos do mesmo estado, de acordo com dados recentes da Petrobras. Ao comparar os dois valores, a economia proporcionada pelo veículo elétrico chega a 89,2%, tornando o carregamento doméstico uma alternativa extremamente mais barata e vantajosa para o bolso do consumidor.
Investimentos para um futuro eletrificado
O mercado brasileiro de veículos eletrificados tem vivenciado uma expansão significativa, impulsionado por uma crescente onda de interesse por carros híbridos e elétricos. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os investimentos das montadoras no Brasil somam R$ 117 bilhões, configurando o maior ciclo de aportes no País, com destaque para a entrada de fabricantes chinesas como BYD e GWM. Esse movimento inclui a produção de híbridos flex, que utilizam etanol — um combustível mais limpo — antes mesmo de avançarem para modelos 100% elétricos, o que deve atrair investimentos bilionários até 2030.
Entre as iniciativas que incentivam essa transformação está o programa Mobilidade Verde (Mover), do governo federal, que concederá R$ 19,3 bilhões em créditos tributários até 2028. O programa busca descarbonizar a frota, promovendo a adoção de carros menos poluentes, e incentiva investimentos em pesquisa e desenvolvimento, tecnologias sustentáveis e a valorização da matriz energética de baixo carbono.
A Toyota anunciou o maior investimento de sua história no Brasil, destinando R$ 11 bilhões até 2030 para expandir a capacidade de produção de veículos e motores. A estratégia da montadora destaca o desenvolvimento de modelos híbridos flex, que integram combustíveis fósseis e eletrificação, reafirmando o compromisso da montadora com a inovação e a sustentabilidade na mobilidade.
Thiago Sugahara, vice-presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) avalia que a alta carga tributária ainda impacta o preço dos veículos elétricos no Brasil. "Desde janeiro de 2024, o imposto de importação para carros elétricos voltou a ser cobrado, começando em 18% e com previsão de atingir 35% até 2026." No entanto, ele destaca o avanço da produção local como um fator positivo: "Grandes montadoras já começam a planejar a fabricação de veículos híbridos, híbridos plug-in e elétricos no Brasil a partir de 2025 e 2026, o que deve reduzir os preços e ampliar a oferta de modelos no mercado."
Além disso, Sugahara elogia incentivos como a isenção do IPVA no Distrito Federal, que ajudaram a região a se consolidar como o segundo maior mercado de veículos eletrificados do País, atrás apenas de São Paulo. Ele cita também a capital paulista como pioneira em benefícios, como a isenção do rodízio e reembolso de IPVA para carros eletrificados, políticas que estão sendo discutidas para prorrogação até 2030.
A pesquisa Ipsos Drivers, realizada em março, reflete essa tendência, revelando que 16,1% dos entrevistados consideram muito provável a aquisição de um carro 100% elétrico em um futuro próximo. Para 55,5% dos participantes, o principal atrativo desses veículos é a ausência de emissões poluentes durante o uso. No entanto, barreiras como preços elevados (apontados por 48,3%) e a escassez de infraestrutura de recarga (mencionada por 34,8%) ainda representam desafios para a popularização desses veículos no Brasil.
Recorde de vendas
Os carros elétricos (BEV) seguem em crescimento no mercado brasileiro, representando 31,6% de todas as vendas do segmento de veículos eletrificados em novembro de 2024. O destaque vai para o BYD Dolphin Mini, que liderou as vendas com 2.294 unidades emplacadas no mês de novembro. Confira o ranking completo dos modelos mais vendidos:
Além dos BEVs, os carros híbridos (PHEVs) tiveram destaque, representando 40,4% das vendas do segmento. Em seguida, aparecem os híbridos leves (MHEV) com 11,2%, os híbridos plenos flex (HEV Flex) com 9,1% e os híbridos plenos a gasolina (HEV) com 7,8%. Novamente, a BYD (acrônimo, em inglês para Build Your Dreams) manteve sua liderança com o modelo Song Pro no topo das vendas. Veja:
Para Sugahara, vice-presidente da ABVE, os híbridos têm papel importante na transição para a eletrificação, pois unem motores a combustão e elétricos com eficiência. “Os veículos híbridos conseguem reduzir em até 30% o consumo de combustível e, consequentemente, a emissão de gases poluentes”, explica.
Ele destaca que, em situações urbanas, como o trânsito intenso de grandes cidades, os motores a combustão são altamente ineficientes, perdendo até 90% da energia em forma de calor. “Enquanto o motor a combustão tem eficiência média de 30% e cai para 10% em engarrafamentos, os motores elétricos atingem uma eficiência de 90% a 95%, o que os torna muito mais vantajosos no anda e para do trânsito urbano”, salienta.
Sugahara ressalta que os veículos híbridos priorizam o uso do motor elétrico nessas condições urbanas, garantindo um desempenho superior e uma condução mais eficiente em comparação com os modelos a combustão.
Com 8.047 unidades vendidas, a BYD se consolidou como a líder absoluta no mercado de modelos eletrificados em novembro. Logo atrás, aparecem a GWM com 1.384 unidades e a Toyota com 1.542 vendas no mês. A Fiat, impulsionada pelo lançamento dos modelos Pulse e Fastback, alcançou a quarta posição no ranking, registrando 1.099 exemplares vendidos.
A consolidação do mercado de veículos eletrificados no Brasil em 2024 reflete o avanço contínuo da mobilidade sustentável, com modelos híbridos e elétricos ganhando cada vez mais espaço nas ruas e no mercado automotivo nacional.
No mercado global, de acordo com dados da pesquisa Statista Market Insights, divulgados pela Stocklytics, as receitas das vendas de carros elétricos devem crescer 27% até 2028, ultrapassando US$ 1 trilhão, o que representa um aumento de dez vezes em relação a 2020.
Para 2024, estima-se que as receitas globais atinjam US$ 786 bilhões, um crescimento de 2,2% em comparação a 2023. Embora o aumento seja menor do que as taxas de crescimento anual de cerca de 60% observadas entre 2020 e 2023, impulsionadas pelos altos preços dos combustíveis, projeta-se que o crescimento anual dobre para 5,5% em 2025 e alcance 8% até 2029.
Até o fim de 2024, estima-se que 13,6 milhões de veículos elétricos tenham sido vendidos globalmente, um aumento de 280 mil unidades em comparação a 2023, representando 17% das vendas de carros no mundo. Os maiores avanços virão da China, Estados Unidos e Europa.
Até 2029, as vendas de veículos elétricos devem atingir 18,8 milhões por ano, um crescimento de 38% em relação a 2024. No mesmo período, o número de estações de recarga deve crescer 65%, passando de 2,5 milhões para 4,2 milhões globalmente.
Essa expansão, no entanto, levanta questões importantes sobre a acessibilidade desses veículos para a população em geral. Apesar do aumento significativo nas vendas e da maior oferta de modelos disponíveis, o alto custo inicial ainda é uma barreira para muitos consumidores.
"Querendo ou não, os carros elétricos ainda têm um custo elevado, tanto na aquisição quanto na infraestrutura necessária para seu uso. Apesar de haver muitos carregadores disponíveis, instalar um carregador residencial ainda representa um investimento significativo, tanto pelo custo do equipamento quanto pela obra necessária", afirma Pessoa.
Fato ou fake?
Nas redes sociais, usuários donos de veículos eletrificados se dividem entre melhores amigos ou inimigos desse modelo. Quem ama comenta positivamente da autonomia da bateria, da sustentabilidade e da economia. No time oposto, as reclamações são majoritariamente sobre o carregamento da bateria.
Sugahara explica que um dos principais desafios para a popularização dos carros elétricos no Brasil é a infraestrutura de recarga. A maioria dos usuários carrega os veículos em casa, geralmente à noite, utilizando carregadores do tipo wallbox. "Um carro elétrico com bateria praticamente zerada pode levar de seis a oito horas para uma carga completa, mas ao deixar carregando durante a noite, ele estará pronto no dia seguinte."
Porém, para viagens longas, o país ainda precisa expandir a rede de carregadores rápidos, especialmente nas rodovias. "O grande desafio é oferecer carregadores rápidos para que o motorista possa parar 20 a 30 minutos em um posto, tomar um café, e retomar a viagem com 60% da bateria carregada", comenta Sugahara. Ele destaca que o setor de infraestrutura está em crescimento, com grandes multinacionais e startups desenvolvendo soluções para facilitar o uso dos elétricos em viagens longas.
A infraestrutura de recarga no Brasil tem avançado de forma significativa, refletindo o crescente interesse pela mobilidade elétrica e os esforços para facilitar sua adoção no país. Segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), o Brasil superou, em agosto, a marca de 10 mil pontos de recarga públicos e semipúblicos, distribuídos por ruas, shoppings, estacionamentos e praças. Dados mostram que 89% desses carregadores são do tipo AC, de carga lenta (9.506), enquanto 11% são do tipo DC, de carga rápida (1.109), essenciais para viagens de longa distância.
Apesar do crescimento, os desafios permanecem nas principais rodovias das regiões Sudeste e Sul, onde a quantidade de carregadores ainda é limitada. Pessoa não tem dificuldade de achar pontos de recarga pelo Recreio e pela Barra, bairros da Zona Oeste do Rio. "Basicamente todos os shoppings, mercados e prédios da minha região tem carregadores elétricos, sejam pagos ou gratuitos", comenta.
Outro ponto positivo aclamado pelos consumidores é a redução da manutenção do carro elétrico. "Enquanto os carros a combustão exigem revisões a cada 10 mil km e trocas de óleo, os elétricos têm revisões mais espaçadas, a cada 24 mil km, sem a necessidade de trocas de filtros ou óleo", diz Sugahara.
Além da economia, ele destaca a experiência de dirigir um carro elétrico: “O motor elétrico entrega muito mais torque, proporcionando uma aceleração rápida e um desempenho mais eficiente.” O silêncio do motor também é uma característica marcante. "Os veículos elétricos são tão silenciosos que precisamos adicionar um som artificial para alertar os pedestres, que estão acostumados com o barulho dos motores a combustão", complementa.
Sugahara desmistifica os receios sobre os veículos eletrificados: "Muita gente pergunta se é difícil de carregar ou se vale a pena, mas, na verdade, dirigir um carro elétrico é uma experiência mais prazerosa e eficiente, com benefícios claros para o meio ambiente e para o bolso do consumidor".
*Matéria da estagiária Aline Fernandes, sob supervisão de Marlucio Luna
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