Comitê de Política Monetária do Banco Central divulgou a ata da última reuniãoRafa Neddermeyer/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) disse, na ata da sua última reunião, que a indicação de alta de 1 ponto percentual (pp) na Selic em março, o que elevaria a taxa de juros dos atuais 13,25% para 14,25% ao ano, segue apropriada. O indicativo para a próxima reunião é a última sinalização feita pelo colegiado, que optou por deixar em aberto as decisões da política monetária a partir do encontro do mês de maio.

Essa decisão é justificada pela análise de cenário. "O Comitê avaliou que os determinantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, e os determinantes de médio prazo, como o hiato do produto e as expectativas de inflação, seguem exigindo uma política monetária mais contracionista", afirmou o texto, acrescentando que esses indicadores também foram determinantes para a elevação de 1 pp decidida na última semana.

"Para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", disse o colegiado.
Estouro da meta contínua de IPCA em junho
O Copom também disse que, devido ao cenário adverso para inflação no curto prazo, as projeções no cenário de referência indicam o estouro da meta contínua do IPCA em junho.

"Foi destacado, na análise de curto prazo, que, em se concretizando as projeções do cenário de referência, a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos. Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas", alertou o BC.

Como o Broadcast mostrou ainda em novembro do ano passado, a trajetória da inflação já ameaçava a gestão de Gabriel Galípolo a ter de se justificar por um eventual descumprimento da meta nos primeiros seis meses. Com a mudança para o sistema de meta contínua de inflação a partir deste ano, o cumprimento da meta é apurado com base na inflação acumulada em 12 meses.
Se a taxa ficar acima ou abaixo do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, o Banco Central terá descumprido o alvo. A meta é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

A avaliação do colegiado é de que, no curto prazo, o cenário de inflação é adverso. "Os preços de alimentos se elevaram de forma significativa, em função, dentre outros fatores, da estiagem observada ao longo do ano e da elevação de preços de carnes, também afetada pelo ciclo do boi. Esse aumento tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira", analisou o Copom.

O Comitê também ponderou que, em relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens e sugere maior aumento em tais componentes nos próximos meses. "Por fim, a inflação de serviços, que tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica e acelerou nas observações mais recentes", completou a ata.
Crédito
O Copom apontou que o mercado de crédito se manteve pujante, principalmente por causa do dinamismo do mercado de trabalho e da atividade econômica.

A avaliação prossegue e mostra que, considerando o cenário de aperto de condições financeiras e elevação de prêmio de risco, o crédito bancário tem apresentado alguma inflexão no período mais recente, especialmente nas linhas de baixo risco para pessoas físicas.

"Por outro lado, o mercado de títulos privados segue com crescimento de volume acima do esperado e compressão de spreads. Antecipa-se então um cenário multifacetado, marcado por elevado comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida, concomitante a um dinamismo no mercado de títulos privados", diz o documento.
Atividade doméstica
O comitê afirmou que a atividade doméstica surpreendeu positivamente e manteve o dinamismo, apesar da política monetária contracionista.
"Em particular, o ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo evidencia uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso", destacou o documento.

A avaliação do Copom é de que a conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito amplo tem dado suporte ao consumo e à demanda agregada. O colegiado também observou que, ao longo dos últimos trimestres, o mercado de trabalho também se mostrou aquecido, e citou as mensurações da taxa de desocupação, do nível de ocupação e do número de desligamentos voluntários.
"Os rendimentos nominais crescem em patamar elevado, embora se observe alguma moderação no ritmo de crescimento real de salários", ponderou.