Cesta básica da cidade do Rio ficou em R$ 1.020,92 no mês de janeiro de 2025Arquivo / Agência Brasil

Ir ao supermercado tem se tornado um desafio para muitos brasileiros. Com os preços cada vez mais elevados e o poder aquisitivo reduzido, os consumidores buscam maneiras de controlar o orçamento familiar. Na cidade do Rio, o impacto é ainda maior, com a cesta básica mais cara do país em janeiro de 2024, conforme dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
Apesar de uma leve redução de 1,2% no preço da cesta básica em relação a dezembro de 2024, a cidade do Rio lidera a tabela de preço médio mais alto entre oito capitais, com R$ 1.020,92 em janeiro. Em segundo lugar ficam as cidades de São Paulo (R$ 1.012,66) e Fortaleza (R$ 837,94).
Preços médios da cesta de consumo básica por capital em janeiro de 2025 - Arte
Preços médios da cesta de consumo básica por capital em janeiro de 2025Arte
Já o produto com maior variação de preço da cesta básica na cidade do Rio é o café em pó e em grãos, que teve uma alteração de 3,2% no mês de janeiro de 2025.
Produtos com maiores elevações nos preços médios da cesta de consumo básica nas capitais em janeiro de 2025 - Arte
Produtos com maiores elevações nos preços médios da cesta de consumo básica nas capitais em janeiro de 2025Arte
Embora recentes, os aumentos nos preços da cesta básica não são exclusivos dos últimos meses. De acordo com dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica (PNCB), realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), nos últimos quatro anos, a maior variação acumulada em 12 meses no município do Rio foi registrada em 2022, seguida por 2021, 2024 e, por último, 2023, que apresentou uma variação de -1,88%.
Variações acumuladas em 12 meses nos preços dos produtos da Cesta Básica no município do Rio de Janeiro - Arte
Variações acumuladas em 12 meses nos preços dos produtos da Cesta Básica no município do Rio de JaneiroArte
O que causa o aumento dos alimentos?
O especialista Edson Kawabata, sócio-diretor da Peers Consulting + Technology, destaca que diversos fatores contribuem para o aumento nos preços dos alimentos, como a variação dos valores das commodities no mercado internacional, a valorização do dólar, o equilíbrio entre demanda e oferta no mercado interno e a inflação dos custos de produção, incluindo insumos e logística.
Edson Kawabata, sócio diretor de novos negócios da Peers Consulting + Technology - Arquivo pessoal
Edson Kawabata, sócio diretor de novos negócios da Peers Consulting + TechnologyArquivo pessoal
Outro fator importante é a mudança climática. Kawabata ressalta que variações climáticas extremas afetam a produtividade agrícola e, em casos mais graves, podem resultar na perda de safras, reduzindo a oferta de determinados produtos e pressionando a inflação.
"Em particular, um estudo publicado na Revista Nature no ano passado concluiu que, devido à elevação das temperaturas médias projetadas até 2035, a inflação de alimentos seria impactada em 0,9% a 3,2% ao ano, dependendo da variação das premissas sobre emissões de gases de efeito estufa, modelos climáticos e outras especificações empíricas", afirma Kawabata.
Café e ovo
O café e o ovo, dois itens essenciais na dieta dos brasileiros, têm gerado preocupação nos consumidores. De acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o principal vilão na hora das compras foi o café torrado e moído, que teve um aumento de 8,56% apenas em janeiro de 2025.
A entidade também chamou atenção para o aumento no preço dos ovos, que chegou a ter uma alta de 40% na segunda quinzena de janeiro.
O especialista Kawabata destaca que, no caso do café, a alta é ocasionada, principalmente, em função do aumento de demanda, que dobrou na China na última década, além da valorização da taxa do dólar em 27,34% e a redução da produção do grão no Brasil em 0,5% em 2024.
Já a economista, professora e pesquisadora da PUC Cristina Helena Mello explica que o aumento no preço dos ovos é causado pelo custo da energia e pelo aumento da ração para as galinhas. Outro fator importante é o mercado externo. A gripe aviária nos Estados Unidos ampliou a demanda global pela importação do produto, o que reduziu a oferta no mercado nacional.
Cristina Helena Mello, Economista, Professora e Pesquisadora em Economia da PUC-SP - Arquivo pessoal
Cristina Helena Mello, Economista, Professora e Pesquisadora em Economia da PUC-SPArquivo pessoal
"Agora a gente vai no mercado e com R$ 70 reais você só consegue comprar um café e uma caixa com 30 ovos", diz a analista de marketing Giovanna Di Fluri, de 26 anos, moradora da cidade do Rio de Janeiro.
Mudanças na rotina
Giovanna comenta a diferença de preço da proteína animal. "Acho que todos estão sentindo esse aumento. Antigamente, diziam para substituirmos a carne pelo frango ou o frango por outra proteína animal, mas agora tanto a carne quanto o frango estão caros. Precisamos recorrer ao ovo, que também encareceu. Daqui a pouco, não teremos mais nenhuma alternativa de proteína animal", reclama.
Giovanna comenta que sentiu muita diferença de preço na proteína animal - Arquivo pessoal
Giovanna comenta que sentiu muita diferença de preço na proteína animalArquivo pessoal
Por conta do aumento nos preços, Karollyna Braz, de 31 anos, moradora der Niterói, diz que precisou fazer mudanças nas idas ao mercado. Além de substituir a carne vermelha por ovos, frango e peixe, Karollyna alterou sua forma de comprar café.
Karollyna Braz diz que passou a consumir café na rua  - Arquivo pessoal
Karollyna Braz diz que passou a consumir café na rua Arquivo pessoal
"Passei a consumir mais café na rua do que em casa, porque o preço do pingado na padaria não mudou, teve apenas uma pequena alteração. Hoje, para mim, é mais vantajoso tomar na rua do que comprar e preparar em casa", explica.
A moradora de Niterói ressalta que, além do aumento nos preços, percebeu que os ovos estão cada vez menores. "Foi uma percepção que eu tive por andar em vários mercados. Não sei se a qualidade diminuiu, ou a escassez está fazendo isso."
O aumento no preço dos alimentos também influencia a rotina dos trabalhadores que precisam comer fora de casa. O dono dos restaurantes Bar Brasil, na Lapa, e do Carioca Deutsch, na Tijuca, Gustavo Marins, de 45 anos, ressalta que percebeu uma mudança na forma como os consumidores escolhem os pratos.
Gustavo Marins diz que percebeu uma mudança na forma como os consumidores escolhem os pratos - Arquivo pessoal
Gustavo Marins diz que percebeu uma mudança na forma como os consumidores escolhem os pratosArquivo pessoal
"A gente percebe que as pessoas deixam de consumir alguns produtos mais caros, porque, se já está caro comprar e fazer em casa, no restaurante os custos são ainda maiores, e elas acabam evitando pedir, dando preferência às opções mais baratas”, explica. “Muita gente que trabalha na rua almoça fora. Esse é o forte do Bar Brasil, o almoço, com clientes que trabalham na região. E essas pessoas tendem a procurar os restaurantes mais baratos ou os pratos mais acessíveis no cardápio", complementa.
Gustavo comenta que, além das carnes, os produtos de hortifrúti e os cereais tiveram um aumento nos preços:
"Arroz e feijão, por exemplo, eram coisas muito baratas. A gente nem se preocupava muito com o custo disso, e hoje temos que nos preocupar bastante. E, nesse caso, não tem para onde correr. Por exemplo, batata era um produto que, no fornecedor, um saco de 25 quilos, a gente pagava por volta de R$ 50, R$ 60, e hoje está R$ 150."
Dicas para economizar
A economista Cristina Helena Mello afirma que há algumas formas de tentar driblar o aumento nos preços.
"É fundamental pesquisar preços e 'gastar' sola de sapato para comprar em diferentes pontos de venda aproveitando as variações de preço", aponta.
Mello também destaca que hábitos antigos, como compartilhar promoções em grupos, são bem-vindos, além de saber quais são os produtos sazonais com melhores preços para fazer as substituições necessárias.
A economista pontua que fazer compras em grande quantidade também pode ser um caminho. "Compras coletivas podem reduzir os preços se acessarem mercados por atacado ou diretamente do produtor", explica.