Estado do Rio é o quinto com a maior quantidade de pessoas na fila (168,8 mil) do INSS Arquivo/ Gilvan de Souza / Agencia O Dia

Rio - A fila de pessoas à espera pela concessão de aposentadoria, pensão ou algum outro tipo de benefício no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) atingiu o patamar mais alto já registrado na história. São mais de 2,8 milhões de pedidos de cidadãos aguardando uma resposta. Na aposentadoria, os requerimentos ultrapassam a marca de 220 mil. Disse do grande volume de pedidos, quadrilhas se aproveitam da angústia de trabalhadores para enganar e aplicar golpes, prometendo acelerar o processo. Por isso, O DIA conversou com especialistas sobre as formas de evitar cair em armadilhas e como denunciar.
Segundo os dados mais recentes do Portal da Transparência Previdenciária, o Estado do Rio é a quinta unidade da Federação com o maior número de pessoas na fila (168,8 mil). Mais de 18,8 mil esperam o resultado da tão sonhada aposentadoria.
De janeiro até agora, o número de novos pedidos de benefícios do INSS no Brasil cresceu 23%. A média mensal já chega a 1,3 milhão. Apesar da alta, o instituto argumenta que o tempo médio para a concessão de benefícios tem apresentado queda. Atualmente, esse período é de 35 dias.
O INSS reconheceu a crise da fila e criou um comitê estratégico para monitorar e propor soluções para reduzir o número de requerimentos de benefícios em espera. Além disso, desde o fim de novembro, passou a ser obrigatória a biometria para novos pedidos de aposentadorias.
Dados do INSS mostram que há 920 mil processos que podem ser resolvidos diretamente pelo instituto. Além desses casos, o novo comitê vai buscar "soluções e melhorias" para 1,9 milhão de pedidos que apresentam pendências externas, como aqueles casos com ausência de documentos e biometria.
Golpes
Nos últimos meses, o instituto tem emitido alertas sobre golpes nos pedidos de benefícios. Quadrilhas se aproveitam da necessidade e angústia dos cidadãos e prometem acelerar o tempo do processo de concessão.
Segundo o INSS, todos os serviços referentes ao instituto devem ser solicitados diretamente pelos interessados de forma simples, gratuita e segura, pelos canais oficiais. Mesmo assim, muitas pessoas contratam um intermediário, acabam perdendo dinheiro e colocam em risco à segurança dos seus dados e documentos.
"É possível pedir benefícios, acompanhar processos e esclarecer dúvidas sem pagar nada por isso. Ainda assim, muitas pessoas contratam um intermediário, acreditando que isso pode agilizar a análise do pedido. No entanto, a análise dos requerimentos de benefícios ou serviços do INSS segue uma ordem única de processamento e obedece a critérios legais. Ou seja, só recebe quem tem direito", ressaltou o instituto em nota.
Vale lembrar que a senha usada no Meu INSS é a mesma da conta Gov.br, que dá acesso a serviços de órgãos públicos federais, estaduais e municipais, como Receita Federal, Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Programa de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) e Justiça Eleitoral, por exemplo. Ou seja, com essa senha, golpistas podem prejudicar o cidadão em vários aspectos de sua relação com o poder público.
Entre as principais formas de golpes estão:
- Estabelecimentos privados, como lan houses, lojas, instituições financeiras e outros locais comerciais que alegam prestar serviços em nome do INSS.
- Pessoas que se apresentam como influentes ou "bem relacionadas", oferecendo vantagens e facilidades para agilizar pedidos ou liberar benefícios.
- Golpistas que se posicionam nas proximidades de agências, abordando as pessoas com a oferta de serviços simples, como emissão de senhas e consulta de extratos, mediante cobrança de valores.
Sarita Lopes, especialista em Direito Previdenciário, aponta que não existe forma legal de "furar a fila". Ela orienta o trabalhador a sempre desconfiar de intermediários que não são advogados especializados em Direito Previdenciário, despachantes sem registro ou pessoas que evitam fornecer contrato e recibo.
"Sempre confirme se o profissional está regular na OAB, desconfie de ofertas pelas redes sociais e nunca entregue documentos pessoais, senha do meu INSS e foto de reconhecimento facial sem garantia de quem está recebendo", alerta.
Sarita Lopes, especialista em direito previdenciário - Reprodução/ arquivo pessoal
Sarita Lopes, especialista em direito previdenciárioReprodução/ arquivo pessoal
Segundo o advogado Fernando Viggiano, a crescente sofisticação das fraudes digitais exige do contribuinte uma postura de vigilância contínua e informada. Ele destaca que a primeira medida consiste em desconfiar de qualquer comunicação que prometa facilidades, redução de prazos ou vantagens indevidas, sobretudo quando envolve aposentadoria, benefícios ou regularização fiscal.
"O cidadão deve observar sinais reveladores, como pedidos de envio de documentos por aplicativos de mensagem, compartilhamento de tela, links encaminhados por desconhecidos ou contatos que se passam por servidores públicos. Informações oficiais jamais são transmitidas por canais informais", avisa.
"A orientação segura é consultar exclusivamente os portais institucionais do governo federal e verificar atentamente os remetentes, datas e formatos das mensagens recebidas", acrescenta.
Advogado trabalhista Fernando Viggiano - Reprodução/ Arquivo pessoal
Advogado trabalhista Fernando ViggianoReprodução/ Arquivo pessoal
Os especialistas também recomendam que, caso o cidadão acabe sendo induzido ao erro, caindo em um golpe e sofra prejuízo, a resposta deve ser imediata. É importante registrar um boletim de ocorrência na delegacia o mais rápido possível e juntar documentos que ajudem a provar o crime, como mensagens, comprovantes de pagamento, nome ou contato.
"Também é preciso notificar a instituição financeira para bloqueio preventivo das movimentações suspeitas e
preservar todas as evidências do golpe, como conversas, comprovantes e registros de transações", orienta Viggiano.
"Depois, a vítima pode buscar ajuda no Procon e na Justiça, tanto no Juizado Especial quanto com apoio da Defensoria Pública ou advogado particular para entrar com ação para reaver o valor pago, com base em estelionato e danos materiais", acrescenta Sarita Lopes.
Os profissionais também orientam sobre o procedimento correto para quem busca se aposentar antes da projeção feita no aplicativo do INSS. De acordo com Viggiano, para o contribuinte que possui direito adquirido ou preenche requisitos que permitam o benefício antes da projeção estipulada pelo aplicativo, o caminho adequado exige rigor documental e procedimento formal. Para ele, a plataforma apresenta simulações, não decisões.
"É imprescindível reunir provas de tempo de contribuição, vínculos empregatícios, períodos especiais ou averbações pendentes, bem como apresentar requerimento administrativo fundamentado. Caso o INSS negue ou ignore o pleito, o segurado pode interpor recurso administrativo ou ajuizar ação judicial, no qual a análise é técnica e individualizada", afirma.
"A Justiça Federal tem reiteradamente reconhecido o direito de contribuintes cujos requisitos já estavam consolidados, assegurando a concessão imediata do benefício", completou.
Já Sarita Lopes aponta que o ideal é fazer um planejamento previdenciário para identificar quais regras de
aposentadoria podem ser aplicadas ao caso concreto, buscando o maior valor possível de benefício.
"Esse planejamento deve ser feito exclusivamente por advogados especializados em direito previdenciário, que atuam com causas contra o INSS. Caso a pessoa opte por fazer sem assessoria jurídica, é possível solicitar o benefício pelo site ou aplicativo", destacou. 
Os especialistas ainda ressaltam que o importante é nunca cair em promessas fáceis, e o que garante sucesso é um pedido bem feito e documentado. A dica é nunca dar entrada no pedido de aposentadoria sem antes fazer os cálculos para saber a melhor regra.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Federal (PF) para saber quantas pessoas já foram presas neste ano suspeitas de aplicar esses tipo de golpes e o prejuízo causado, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.
Agonia da vítima
Vivendo meses de agonia, um pedreiro de 68 anos, que não quis se identificar, relata que buscou ajuda de um estabelecimento comercial que prometia "furar a fila". Ansioso pela concessão do benefício, ele conta que perdeu cerca de R$ 700 com as promessas dos criminosos.
"Só fui descobrir que era um golpe quando contei para os meus filhos. Não queria dar mais trabalho e não aguento mais esperar. Eles falaram que a consultoria sobre o meu caso custava R$ 50. Depois pediram mais dinheiro para 'mexer os pauzinhos' lá dentro", conta.
"Eu não entendo dessas coisas, mas sei que é muito papel e que eles inventam de tudo para não dar o que é direito nosso. Eu acreditei quando ficavam me dizendo que tinha um problema ou outro, que iam precisar de mais dinheiro. Trabalhei a minha vida toda. Mesmo já velho, continuo fazendo uns trabalhinhos. Mas nunca achei que ia ser enganado desse jeito", desabafa.
O carioca também disse que percebeu que tinha algo errado quando encontrou o local fechado e que o número fornecido para atendimento não funcionava mais. 
"Liguei várias vezes e nem chamava. Resolvi contar para os meus filhos, porque achei que estava discando para o número errado. Eles queriam ir na delegacia, mas eu não quis. Fiquei com vergonha e, essas coisas, para a gente que é pobre nunca resolvem", concluiu.
Comitê para redução da fila
O colegiado será responsável por monitorar a evolução do estoque de processos, propor ações de otimização e articular as áreas técnicas para destravar os pedidos. O grupo apresentará relatórios quinzenais diretamente à presidência do INSS, com o objetivo de dar celeridade máxima à fila que pode ser gerenciada internamente.
O prazo final para os trabalhos é 30 de junho de 2026. A medida foca na análise dos 920 mil processos que estão sob a governabilidade da autarquia.
Na avaliação do INSS, a criação do comitê é um passo fundamental para organizar e acelerar as análises internas. Dos 2,86 milhões de requerimentos pendentes, 68% (1,94 milhão) aguardam ações de outros órgãos.
Canais oficiais de atendimento do INSS


- Meu INSS: principal canal de atendimento, disponível pela internet como aplicativo para celulares e na web.
- Central 135: oferece atendimento por telefone, com a possibilidade de esclarecer dúvidas com atendentes capacitados, de segunda-feira a sábado, das 7h às 22h.
- Agências da Previdência Social: oferecem atendimento presencial, em geral mediante agendamento prévio pelo telefone 135 ou pelo Meu INSS. É possível consultar o endereço e o horário de atendimento de cada unidade pelo Meu INSS, clicando em "Encontre uma Agência", sem precisar fazer login no sistema.