Fernando Kallás compartilhou paixão pelo Atlético de Madrid com os filhos e fez o mesmo com o BotafogoArquivo pessoal
O início do vínculo, porém, envolveu o rival Real Madrid. Sua mulher, assim como toda a família, torce para os Merengues e, quando desembarcou na capital espanhola, o jornalista foi ao Santiago Bernabéu assistir a uma partida. À época, o clube vivia a era dos Galácticos, com Ronaldo, Zidane, Beckham, Figo e companhia. Mas isso não encheu os olhos do brasileiro.
Com raízes nos tempos do saudoso Estádio Caio Martins, em Niterói, e do Maracanã, foi fácil para ele perceber que não haveria identificação.
"O primeiro jogo que fui no Bernabéu, quando tudo ainda era mais acessível e barato, foi aquele em que o Ronaldinho Gaúcho arrebentou pelo Barcelona e saiu aplaudido do estádio, em 2005. Era a época dos Galáticos, mas o clube não estava legal, apesar das estrelas. E eu ia muito ao estádio, mas não sentia aquela conexão, ainda mais vindo da cultura do futebol brasileiro. Aquilo era uma torcida de teatro, não encaixava", disse Kallás ao DIA.
Após a experiência, lembrou de um colega de sua mulher que o "perturbava" para acompanhar de perto o Atlético de Madrid. Apesar de relatar que não conhecia bem o clube colchonero, decidiu dar um voto de confiança e foi ao Vicente Calderón.
A conexão aconteceu logo de cara. Antes de entrar no estádio, viu um clima familiar. Dentro, ficou encantado com a atmosfera das arquibancadas. Tais momentos foram fundamentais na decisão de adotar o Atleti para torcer no país antes mesmo de a bola rolar.
"Eu nem sabia quem era o Atlético de Madrid, sempre odiei o Simeone. Nunca passou pela minha cabeça (torcer por eles). É um time que, pra mim, nem existia, era pequeno. E eu fui ao estádio, vi famílias chegando juntas, tambores, bandeiras. Tem um clima, uma coisa sul-americana. A torcida canta. Foi amor à primeira vista. Virei sócio, era barato na época", relatou.
'O Botafogo da Espanha'
O cenário pós-jogo era trágico no Vicente Calderón. Em meio ao clima ruim, Kallás chegou a uma conclusão: "É o Botafogo da Espanha". A torcida para o Atlético de Madrid era uma forma de relembrar e matar a saudade do que viveu nos jogos do Alvinegro, no Rio de Janeiro.
"Quando eu vi aquele drama, aquele sofrimento, eu falei: 'Isso é muito Botafogo'", brincou.
Amor incondicional

Depois da histórica e memorável vitória por 1 a 0 sobre o PSG, na última semana, no Mundial de Clubes, nos Estados Unidos, o brasileiro destacou um momento difícil em família: "Liguei para o meu filho mais velho e o vi meio triste, com o conflito interno de querer estar feliz pelo Botafogo, mas triste porque percebeu que só pode passar um e o Atlético está numa situação muito complicada. Por outro lado, o mais novo, que tem dez anos, estava radiante porque ainda tem essa inocência infantil".
"Eu nunca imaginei que o Botafogo fosse capaz de tamanha façanha, principalmente depois de parecer tão desorganizado contra o Seattle. Foi o jogo perfeito e, talvez, uma dessas atuações catárticas que unem um vestiário e que transformam o trabalho de um técnico", analisou.
Palpite e presente especial
Porém, há um motivo para sorrir independentemente do resultado da partida. Uma das estrelas da equipe espanhola, Antoine Griezmann prometeu ao botafoguense uma camisa do jogo. "Vai ser uma bonita lembrança, quem sabe de uma bonita surpresa", brincou. Para seguir fazendo história e conquistar a vaga no mata-mata, a equipe de Renato Paiva pode perder por até dois gols de diferença nesta segunda-feira (23), às 16h (de Brasília), no Rose Bowl Stadium, em Pasadena, na Califórnia.
A classificação pode até não acontecer, mas para o jornalista, um daqueles botafoguenses que soube sofrer, viver o atual momento no Mundial de Clubes já é uma satisfação imensa. Do Brasil à Espanha, a chama pelo Glorioso nunca se apagou. E nem vai se apagar. "Não há nada que abale o sentimento de quem foi escolhido", reforçou.
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