Rio - Flamengo e Vasco se reencontram em uma final de Campeonato Carioca após dez anos. A última decisão estadual entre os dois foi cercada de rivalidade: os nervos estavam à flor da pele. Para aquecer o clima para as finais deste ano, que começam neste domingo, personagens marcantes de 2004 relembram aquele campeonato.
A final de 2004 teve emoção e polêmica de sobra: provocação, técnico mandando "chutar o tornozelo de rival", gol aos dois minutos de jogo, expulsão, adversário espião e atacante balançando a rede três vezes e garantindo a taça de campeão para o Fla.
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Entre polêmicas e bola rolando, Vasco e Flamengo marcaram a história do Carioca em 2004 e agora, depois de uma década, reeditam a grandeza do Clássico dos Milhões no Estadual. Relembre momentos marcantes da última decisão entre os rivais.
Polêmicas antes de a bola rolar
A semana da decisão de 2004 já começou agitada. Então presidente, Eurico Miranda chegou a afirmar que já havia comprado chope para comemorar o título do Vasco no Carioca. O fato repercutiu e gerou a revolta dos rubro-negros. Outro fato inusitado esquentou ainda mais o clima. Em um dos treinos, o técnico Geninho foi flagrado gritando:
"Ficou parado, chuta o tornozelo dele". O episódio apimentou o ambiente e "persegue" o treinador. Ele garante que a instrução não passou de uma brincadeira. "Não era aquilo que noticiaram e isso me deixou muito chateado. Levaram para um lado muito errado essa questão do Felipe. Ninguém mandou machucar o cara. Era um treinamento nosso, cheio de brincadeiras, de palhaçadas. Acabaram pegando uma frase minha e interpretaram dessa maneira. Quem me conhece sabe que eu não faria isso e acho que nenhum profissional treinaria um time com esse objetivo", disse o técnico, que mesmo com a derrota ressalta um lado positivo em ter ido à final.
"Guardo uma recordação muito boa de ter levado o Vasco para a final. Ficamos com o título da Taça Rio, mas tivemos esse lado chato da decisão. Foi um trabalho bem realizado", disse.
Jogo começa com bola na rede e ânimo do Vasco
O segundo jogo da final do Carioca de 2004 começou da forma que todo vascaíno sonhava. Depois de perder a primeira partida por 2 a 1, o Vasco entrou em campo precisando vencer por dois gols de diferença para faturar o título (triunfo por um gol levaria a decisão para os pênaltis). Logo aos dois minutos, Valdir aproveitou cobrança de escanteio e completou de cabeça para o fundo da rede, enchendo a torcida cruzmaltina de esperança.
"O gol no início foi justamente o que nós pretendíamos. Nosso projeto era sair na frente para poder começar do zero. Quando fiz o gol estávamos fazendo o que tínhamos combinado. Saímos bem e fomos para dentro. Tudo começou como planejado, mas os caras conseguiram aproveitar as melhores chances e mudaram tudo", afirmou.
Coutinho é expulso e Vasco tenta manter jogo disputado
Foi no segundo tempo que as coisas ficaram ainda mais complicadas para o Vasco. O placar já apontava 1 a 1 quando o volante Coutinho, responsável por marcar Felipe e pivô da polêmica "instrução" de Geninho, foi expulso após fazer falta dura no meia do Flamengo. O fato fez o Rubro-Negro ir mais para o ataque e sacramentar de vez o título carioca. Para Geninho, mesmo com um a menos o time da Colina fez uma grande atuação, deixando o jogo bem disputado.
"Este clássico é sempre assim, muito disputado. Fez-se um oba-oba muito grande. O Felipe, muito inteligente, forçou uma jogada em cima do Coutinho que gerou a expulsão, mas foi uma grande partida. O Vasco conseguiu se portar muito bem. Acho que a rivalidade é tão grande que as coisas sempre se igualam", disse o técnico, que prevê equilíbrio na final deste ano:
"Hoje, o Flamengo talvez viva um melhor momento, mas o Vasco vem crescendo muito. Não há favorito", destaca o técnico.
Cão de guarda, Douglas Silva acompanha Beto até o banco de reservas
Para esquentar ainda mais o clima da partida, o volante Douglas Silva foi até o banco de reservas do Vasco para escutar as instruções de Geninho para Beto. Na ocasião, o lance inusitado serviu praticamente como uma provocação, mas o rubro-negro afirmou que não teve intenção de desrespeitar os adversários.
"Foi um momento espontâneo. Beto é meu amigo, foi meu companheiro no Bangu, e o Geninho foi meu treinador no título brasileiro pelo Atlético-PR. Lembro que foi algo bem natural. O Abel Braga (técnico do Flamengo naquele ano) tinha pedido para eu fazer uma marcação especial no Beto, então aproveitei o lance e fui atrás dele quando o Geninho o chamou para dar instrução. Fiz até um gesto no rosto para brincar com o momento. Mas na hora nem foi como provocação nem nada", relembrou Douglas, que aproveitou para analisar a importância do momento vivido há dez anos e dar um palpite para a decisão atual.
"Para mim foi um jogo muito especial. Tinha acabado de chegar ao Flamengo e logo na minha estreia (Flamengo 1 x 2 Vasco) o Abel falou que seria titular nas finais. Foi um momento incrível, com uma importância maravilhosa. Eu, como bom flamenguista, não posso dizer que será diferente. Vai dar Mengão. Vasco sempre será freguês e meus amigos ficam até nervosos."
Jean dá show de gols e decide para o Fla
Em 2004, um atacante se eternizou na história do Clássico dos Milhões. Jean, revelado pelo Flamengo, foi peça fundamental no título rubro-negro ao balançar a rede três vezes no jogo decisivo. O atacante relembra a partida que considera a mais importante de sua carreira.
"Foi uma coisa marcante na minha vida, na minha carreira, por ser flamenguista, começar no Flamengo, ter 15 anos de Gávea na época. Na base, a gente sempre sonhava em fazer o gol do título pelo clube. Acabou que Deus me abençoou, consegui fazer uma coisa que poucos jogadores fazem numa final: marcar três gols no Vasco", recordou.
Herói em 2004, Jean destaca o potencial dos artilheiros atuais de Flamengo e Vasco, mas considera difícil o feito de alguém marcar três gols num mesmo jogo se repetir: "Tem grandes jogadores, Hernane, Alecsandro e o Edmilson. Nós sabemos que os três têm potencial, mas é muito difícil fazer três gol em uma final entre Flamengo e Vasco. É quase impossível. Mas com a qualidade que eles possuem, existe a possibilidade. Espero que seja um belo espetáculo e que vença o melhor."
