Momento em que o réu, de blusa azul, deixa a 67ª DP, em Guapimirim, e é colocado à disposição do sistema penitenciárioFoto: Divulgação

Guapimirim – Um homem de 20 anos, identificado pelas iniciais J. W. M. C., foi preso em Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na tarde desta sexta-feira (1), por torturar quatro enteados, inclusive obrigando-os a beber da própria urina e por ter passado fezes no rosto deles. A captura foi feita por policiais civis da 67ª DP (Guapimirim) em cumprimento de mandado de prisão preventiva expedido pela Vara Criminal da Comarca de Guapimirim. O DIA conta essa história em primeira mão.
As vítimas são duas meninas de 10 e 5 anos e dois meninos de 9 e 4 anos. São frutos de relacionamentos anteriores da mãe deles. Os nomes deles serão preservados em razão do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), que proíbe divulgar identidade de menores de 18 anos em situação de violência e/ou de vulnerabilidade social.
Segundo as investigações, J. W. M. C. tinha proibido os enteados de saírem de casa na sexta-feira passada (25). Elas o desobedeceram. No entanto, ele não chamou atenção deles, porque nesse dia a mãe deles voltaria para casa. A genitora trabalha no Rio, sai de Guapimirim nas madrugada de segunda-feira e só retorna às sextas-feiras. Ela tinha um relacionamento de dois anos com o réu.
Já na última segunda-feira (28), por volta das 4h da manhã, assim que a esposa saiu para o trabalho, o padrasto acordou as quatro crianças, as trancou no quarto para que não pudessem fugir e mandou-as ficar nuas, apesar do frio intenso daquela madrugada. O agressor, então, começou a bater nos enteados com um cabo de vassoura até que este se quebrasse.
Ainda segundo as investigações que tramitam na 67ª DP (Guapimirim), depois do cabo de vassoura se partir, o padrasto começou a espancar as crianças com um pedaço de madeira. Na ocasião, ele quebrou dois dedos do menino de 9 anos e deu mordidas no outro menino de 4 anos.
Por conta da dor e do sofrimento, as crianças urinaram e defecaram no chão. O criminoso obrigou a menina de 10 anos e o menino de 9 anos, no caso os dois mais velhos, a lamberem a urina, até que secassem o chão, e depois passou fezes no rosto deles como forma de punição, por considerá-los responsáveis pela desobediência de terem saído para a rua no último dia 25 de agosto.
Devido às marcas de espancamento e com medo de as crianças contarem para alguém o ocorrido, elas foram proibidas de ir à escola durante a semana, o que chamou a atenção da avó materna delas, que foi visitar os netos na última quarta-feira (30) para ver o que estava acontecendo.
A avó foi impedida de entrar no domicílio pelo padrasto, que disse estar tudo bem. Os vizinhos contaram que as crianças tinham sido agredidas na quarta-feira (30) pela manhã. Esse era mais um episódio de tortura. A parente praticamente invadiu a casa e encontrou os netos em situação deplorável. A avó perguntou ao genro – no caso, o padrasto – o que tinha acontecido, e ele disse que as crianças caíram da escada. Ela, então, as resgatou e as levou para a sua casa.
Já na madrugada dessa última quinta-feira (31), o pai das crianças mais velhas saiu de Petrópolis, na Região Serrana, onde mora, e foi até a 67ª DP, em Guapimirim, para denunciar as torturas cometidas contra os filhos.
Em depoimento gravado na delegacia, as duas crianças mais velhas, de 10 e 9 anos, contaram que as agressões por parte de J. W. M. C. eram constantes, mas nunca como essa recente. Para encobrir os atos de violência praticada contra os enteados, o padrasto os obrigava a ir para o colégio com calça comprida e blusa de manga longa para que ninguém desconfiasse. As crianças mais novas também confirmaram os episódios de tortura, inclusive sobre lamber a urina e sobre as fezes no rosto, mas não conseguiram falar muita coisa, já que só têm 5 e 4 anos.
Na delegacia, o réu confessou ter “perdido a cabeça” e agredido os enteados com pedaço de madeira, mas negou que tivesse mordido o menor de 4 anos.
Casos como o dessas crianças instam as mães ou pais biológicos a refletirem sobre quem colocam em suas casas ou em quem confiam deixar seus filhos e ficar tanto tempo longe deles, mesmo que seja para trabalhar.
J. W. M. C. foi preso com base na Lei nº 9.455/1997 – que trata dos crimes de tortura – na forma da Lei Henry Borel (Lei nº 14.344/2022). Esta última tem tal nome em alusão ao menino Henry Borel, de 4 anos, morto em 2021 e cujos suspeitos são o padrasto, o ex-vereador Dr. Jairinho, e sua mãe Monique Medeiros.