Iêmen - O mais alto dirigente político dos rebeldes no Iêmen, Saleh al Sammad, morreu na semana passada durante um ataque aéreo atribuído nesta segunda-feira pelos insurgentes à coalizão militar liderada pela Arábia Saudita nesse país em guerra.
Trata-se de um golpe muito forte para os rebeldes xiitas huthis que lutam contra o governo iemenita que desalojaram da capital, Sanaa, e de vários territórios, ajudado desde março de 2015 por essa coalizão militar de vários países dirigida pela Arábia Saudita, que responsabilizam pelo bombardeio em que o líder morreu.
Em um comunicado difundido pela assessoria de imprensa Saba, os rebeldes afirmaram que Al Sammad, chefe do gabinete político da rebelião, "morreu mártir" em 19 de abril em um ataque na província de Hodeida (oeste).
Por outro lado, dezenas de pessoas morreram e muitas ficaram feridas em um ataque aéreo contra uma cerimônia matrimonial, na noite de domingo no noroeste do Iêmen, indicaram nesta segunda-feira os serviços de resgate à AFP.
Balanços que variam de 23 a 33 mortos, e de 40 a 55 feridos, foram fornecidos por diferentes fontes médicas e pela administração local.
As circunstâncias exatas em que ocorreram os ataques de domingo à noite em Bani Qais, província de Hajja (nordeste de Sanaa), ainda não são conhecidas.
Os rebeldes huthis, que controlam a região, atribuíram o violento ataque em Bani Qais a coalizão liderada pelos sauditas.
A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) informou no Twitter que um hospital que dá apoio em Hajjah recebeu pelo menos 63 pacientes feridos nos ataques.
"As equipes médicas trabalham contra o tempo para atender as vítimas", apontou a organização. O canal de televisão Al Masirah, dirigido pelos huthis, havia indicado no Twitter que pelo menos 33 pessoas morreram e 55 ficaram feridas no bombardeio.
Acrescentou que entre os mortos havia crianças e mulheres, sem especificar dados, e que pelo menos 30 menores de idade foram feridos. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques nesta segunda-feira. O chefe da ONU "lembra todas as partes sobre suas obrigações pelo direito internacional humanitário em relação à proteção de civis e infra-estrutura civil durante conflitos armados".
O porta-voz da coalizão liderada pela Arábia Saudita, coronel Turki al Malki, até o momento não quis comentar sobre o ocorrido. A Arábia Saudita lidera uma coalizão de Estados árabes desde março de 2015 para combater os huthis, apoiados pelo Irã, e devolver o poder ao governo reconhecido internacionalmente no Iêmen.
Quase 10.000 pessoas morreram e 54.000 ficaram feridas desde o início deste conflito, que gerou o que as Nações Unidas considera a pior crise humanitária no mundo.
Irã, grande rival xiita da Arábia Saudita sunita e acusado de armar os huthis, condenou os ataques. "Os ataques contra os bairros residenciais e os alvos civis (...) são violações de princípios humanitários", segundo o ministério das Relações Exteriores.
'Novo crime'
A assessoria de imprensa Saba, controlada pelos huthis, classificou os ataques de "novo crime genocida dos sauditas".
Não é a primeira vez que festas de casamento no Iêmen são atingidos por bombardeios imputados à coalizão: em setembro de 2015, 131 pessoas morreram na região de Moja (sudeste) e 28 na província de Dhamar (centro) no mês seguinte.
Em outubro de 2016, um ataque aéreo deixou 140 mortos em uma ceremonia funerária em Sanaa. São frequentes os ataques contra este tipo de cerimônias. Em alguns casos, os casamentos reúnem homens armados que celebram disparando para o ar.
Em outros, os recém casados recebem a visita de rebeldes que os felicitam em cortejos de veículos militares.
Mísseis interceptados pela Arábia Saudita
Os veículos de mídia estatais da Arábia Saudita anunciaram a interceptação de dois novos mísseis balísticos lançados pelos huthis em direção a uma província de Jizan (sul).
A rede de televisão Al Massirah, controlada pelos rebeldes, afirmou que um míssil foi lançado contra a instalação da empresa petroleira saudita Aramco. O governo saudita não se referiu ao caso. Enquanto isso, confrontos em Taez (sudeste) causaram a morte de cinco soldados e 19 feridos em uma operação extremista, segundo uma fonte médica.
Esta operação foi lançada depois da morte neste sábado de um funcionário libanês do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) por disparos contra um comboio da organização humanitária. As autoridades locais suspeitam dos extremistas como autores do ataque.
Uma boa parte de Taez, terceira cidade do Iêmen, está nas mãos das forças pró-governamentais, mas as entradas da cidade são controladas pelos huthis.