Outdoor da organização AIDS Healthcare Foundation em Los Angeles com o texto 'Sífilis é sério' foi rejeitado em outras cidades - Frederic J. Brown/ AFP
Outdoor da organização AIDS Healthcare Foundation em Los Angeles com o texto 'Sífilis é sério' foi rejeitado em outras cidadesFrederic J. Brown/ AFP
Por AFP

Los Angeles - Em plena Sunset Boulevard de Hollywood, um anúncio publicitário faz a advertência dramática "Alerta: a gonorreia resiste aos antibióticos".

A doença não para de avançar na Califórnia, estado de maior população dos Estados Unidos.

E não é apenas a gonorreia. Outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), como clamídia e sífilis, também estão fora de controle no estado, que divulgou recentemente os números de 2017: pouco mais de 300.000 casos entre as três condições, um aumento de 45% em cinco anos.

Os dados nacionais mais atualizados são de 2016: um recorde de dois milhões de casos entre as três, com o sul da Flórida - uma região muito procurada nas férias e cenário de festas - como epicentro de contágio, de acordo com Michael Weinstein, presidente da ONG AIDS Healthcare Foundation (AHF), responsável pela campanha de alerta.

Outdoor da organização AIDS Healthcare Foundation em Hollywood alerta para a resistência da gonorreia a medicamentos - Frederic J. Brown/ AFP

E com a publicação dos números "incrivelmente alarmantes", a Califórnia quer dar um passo para enfrentar o que a diretora da unidade de controle de DSTs no Departamento de Saúde Pública (CDPH) do estado, Heidi Bauer, cataloga como "epidemia".

Os casos de gonorreia e sífilis - cada vez mais difíceis de curar devido à resistência aos antibióticos - foram registrados, sobretudo, em homens que têm relações sexuais com outro homens.

E as autoridades estão preocupadas, porque 30 bebês nasceram mortos vítimas de sífilis congênita (SC), de 300 casos reportados, mais do que em qualquer outro estado.

"A sífilis congênita estava praticamente eliminada dos Estados Unidos, e de muitos outros países como Cuba, Tailândia, ou Moldávia", destacou o professor Jeffrey Klausner, da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).

"O fato de estar ressurgindo é uma recordação vergonhosa de nosso sistema de saúde deficiente, porque os bebês mortos eram 100% evitáveis", disse. "É um tapa", completou.

E este parece ser o ponto central: um sistema de saúde mais reativo do que preventivo, assim como a falta de campanhas de prevenção e educação em uma sociedade moralista, com dificuldades em falar sobre sexo.

Outro cartaz na cidade afirma que "sífilis é coisa séria".

Weinstein afirma que a campanha aumentou em 50% as procuras aos centros de saúde em Los Angeles, mas lamenta que, em cidades como Miami Beach e Fort Lauderdale, na Flórida, não tenham permissão, porque os cartazes são considerados publicidade negativa para o turismo.

"Temos que educar, prevenir, diagnosticar, tratar, contactar casais. E não estamos fazendo nada disto adequadamente", disse Weinstein, que prevê o aumento dos casos nos próximos cinco anos.

A crise econômica de 2008 - quando os números de DSTs não provocavam alarme - gerou cortes nos orçamentos de saúde, que levaram ao fechamento de muitas clínicas. Além disso, a pobreza aumentou, assim como a indigência e o consumo de drogas. A gravidez sem supervisão também eleva o risco de sífilis congênita.

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