Istambul - O atual presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, lidera neste domingo a apuração dos votos das eleições presidenciais na Turquia, segundo resultados parciais.
De acordo com a agência de notícias estatal Anadolu, Erdogan lidera a eleição com 55,5% depois de apurados dois terços dos votos, e a aliança dominada por seu partido, o AKP, conta com 57% depois de contados mais da metade dos votos legislativos.
Nessa altura da apuração, Erdogan ainda não tem a garantia de ganhar com mais de 50% dos votos necessários para vencer no primeiro turno, nem de manter sua maioria parlamentar.
Seu principal adversário, o social-democrata Muharrem Ince, aparece em segundo lugar com menos de 30%, e a aliança anti-Erdogan formada por vários partidos da oposição para a parte legislativa do governo conta com quase 32%, de acordo com os resultados parciais publicados por Anadolu.
Em 15 anos de governo, Erdogan se impôs como o mais poderoso líder turco desde o fundador da República, Mustafa Kemal.
Transformou a Turquia por meio de megaprojetos de infraestrutura e liberou a expressão religiosa, tornando Ancara um importante ator regional.
Mas seus críticos acusam o "rais" de 64 anos de autoritarismo, especialmente desde a tentativa de golpe de julho de 2016, seguida de grandes expurgos que atingiram os mais diversos setores da sociedade, incluindo opositores e jornalistas, e que causaram preocupação na Europa.
Mais de 56 milhões de eleitores deveriam votem nestas eleições que marcam a transição do atual sistema parlamentar para um regime presidencial com poderes reforçados por Erdogan.
Após votar em Istambul, Erdogan defendeu esta mudança, que ele classificou de "revolução democrática", enquanto seus partidários gritavam seu nome em frente ao colégio eleitoral. Ele também indicou que as eleições corriam "sem problemas graves", mas a oposição já denunciou uma série de tentativas de fraudes.
Confiante, o chefe de Estado convocou essas eleições durante o estado de emergência e mais de um ano antes da data prevista. Mas foi surpreendido pelo agravamento da situação econômica e por uma oposição unida.
Vendo nessas eleições sua última chance de deter Erdogan em sua busca por um poder incontestável, partidos tão diferentes quanto o CHP (social-democrata), o Iyi (nacionalista) e o Saadet (islamita) formaram um aliança sem precedentes para as legislativas, com o apoio do HDP (pró-curdo).
O candidato presidencial do CHP, Muharrem Ince, um deputado tenaz, emergiu como o principal rival de Erdogan para a eleição presidencial, atraindo multidões em todo o país e despertando uma oposição atordoada por suas sucessivas derrotas.
"A cada eleição, tenho esperança. Mas este ano acredito muito mais", declarou à AFP Hulya Ozdemiral em frente a uma assembleia de voto em Istambul.
Maioria parlamentar em jogo
Ainda que Erdogan continue sendo o favorito, não há garantias de que alcance os mais de 50% dos votos necessários para evitar um segundo turno, que aconteceria em 8 de julho.
Acima de tudo, os observadores não excluem a possibilidade de a aliança opositora privar o AKP de sua maioria parlamentar, o que mergulharia a Turquia no desconhecido, já que enfrenta uma situação econômica delicada.
Durante a campanha, Erdogan apareceu na defensiva, prometendo, por exemplo, levantar rapidamente o estado de emergência ou acelerar o retorno dos refugiados sírios ao seu país, mas somente depois que Ince prometeu o mesmo.
Este último conduziu uma campanha enérgica, prometendo reverter a transição para um regime presidencial que entrará em vigor após as eleições, depois de um controverso referendo constitucional organizado pelo presidente em abril de 2017.
Para Erdogan, essa reforma, que elimina o cargo de primeiro-ministro e permite que o presidente governe por decreto, é necessária para dotar o país de um executivo forte e estável. Mas seus oponentes o acusam de querer monopolizar o poder.