Ahmedabad - Boatos que circulam no WhatsApp levaram a uma morte e vários feridos. O descontrole fez com que a polícia pedisse nesta quarta-feira que a população ignore as mensagens. O boato diz que trezentos traficantes teriam chegado a Gujarat para sequestrar crianças e depois vendê-las. A informação deflagrou cinco agressões na terça-feira em várias cidades desse estado no oeste da Índia.
Rumores sobre os supostos sequestradores já teriam provocado a morte de pelo menos 22 pessoas em todo país no último ano, de acordo com a imprensa indiana.
"Não se deixem levar pelas mensagens falsas, ou pelos boatos nas redes sociais, e não ataquem ninguém com base em suspeitas", pediu a polícia estadual em um comunicado.
Os anos recentes têm sido marcado por episódios similares na Índia, quando boatos divulgados pelo WhatsApp terminaram causando linchamentos.
Na terça, na cidade de Ahemdabad, cerca de 100 pessoas atacaram uma mulher em situação de rua de 45 anos, identificada como Shantadevi Nath, e outras três mulheres, acusando-as de serem membros dos grupos de traficantes descritos nas mensagens.
"A multidão começou a dar chutes e socos nas quatro mulheres (...) provocando ferimentos graves em Shantadevi e de menor gravidade nas outras três", disse à AFP o chefe da Polícia local, JA Rathwa.
Shantadevi Nath faleceu pouco depois no hospital.
Em Rajkot, outra cidade do estado, seis pessoas ficaram feridas e, em Surat, foram registradas outras duas agressões.
Fake news?
Na cidade de Surat, no mesmo estado, uma multidão formada majoritariamente por homens obrigou uma mulher de 45 anos e o bebê que levava com ela a irem a uma delegacia. Eles a acusavam de ter sequestrado a menina, que era, na realidade, sua filha.
"As duas foram levadas para a delegacia, onde ficou claro que eram mãe e filha e que estavam na cidade para um evento familiar", disse uma autoridade policial à imprensa local.
O fenômeno dos boatos não é novo na Índia, mas se acelerou e se disseminou com a democratização da Internet e com o uso em massa de aplicativos de troca de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, propriedade do americano Facebook. São mais de 200 milhões de usuários ativos mensais na Índia, um país de 1,25 bilhão de habitantes.
"Todo o mundo usa o WhatsApp e, hoje, é a melhor plataforma para difundir 'fake news' [notícias falsas], porque a Internet móvel custa quase nada e todo o mundo na Índia tem acesso aos telefones celulares", disse à AFP Pankaj Jain, do site especializado SMHoaxSlayer.