A sul-coreana Jo Hye-do, de 86 anos, abraça sua irmã norte-coreana Jo Soon-do, de 89 anos - AFP
A sul-coreana Jo Hye-do, de 86 anos, abraça sua irmã norte-coreana Jo Soon-do, de 89 anosAFP
Por AFP

Coreia do Norte - Dezenas de idosos sul-coreanos entraram, nesta segunda-feira, na Coreia do Norte para reencontrar seus familiares décadas após a separação, ocorrida durante a Guerra da Coreia (1950-1953), momento em que a península também foi dividida. 

Até a quarta-feira, 89 idosos sul-coreanos passarão 11 horas com seus familiares do Norte. O encontro ocorre em Monte Kumgang, um local turístico, sob a supervisão de agentes norte-coreanos.

Sul-coreano Lee Moon-hyuk, de 95 anos, reencontra seu sobrinho norte-coreano Ri Kwan Hyuk, de 80 anos - AFP

Esta nova série de reuniões de famílias divididas, a primeira em três anos, foi decidida após a distensão registrada na península desde o início do ano. A Guerra da Coreia separou milhões de pessoas: irmãos, pais e filhos, maridos e mulheres.

O conflito acabou com um armistício, sem a assinatura de um tratado de paz, pelo qual Norte e Sul ainda estão tecnicamente em estado de guerra, e as comunicações civis estão proibidas.

A sul-coreana Lee Keum-seom, de 92 anos, reencontra seu filho norte-coreano Ri Sung Chol , de 71 anos - AFP

Entre os participantes está Lee Keum-seom, de 92 anos, que não vê o filho, agora com 71 anos, desde a guerra. Durante a fuga, ela perdeu seu marido e seu filho de quatro anos. Partiu em uma balsa para o Sul com sua filha, que a acompanhará nesta segunda-feira. "Não sei o que sinto, se é positivo, ou negativo", disse Lee. "Não sei se é real, ou um sonho", completou.

No Sul, ela voltou a se casar e criou sete crianças, mas nunca deixou de se preocupar com aquele filho. "Onde viveu? Com quem? Quem o educou? Tinha apenas quatro anos", relembra.

Sul-coreano Ham Sung-chan, de 93 anosabraça seu irmão norte-coreano Ham Dong Chan, de 79 anos - AFP

Desde 2000, os dois países organizaram 20 séries de reuniões de famílias divididas, geralmente graças à melhoria das relações bilaterais. Mas o tempo está contado, devido à idade dos sobreviventes.

Um total de 130 mil sul-coreanos se apresentaram como candidatos a essas reuniões, mas a maioria morreu, e muitos estão com mais de 80 anos, um deles, inclusive, com 101, fazendo com que a  viagem fosse cancelada no último momento por motivos de saúde. Outros, cancelaram quando souberam que seus parentes, pai, mãe, irmã, filho, havia falecido do outro lado da fronteira. 

Sul-coreana Lee Keum-seom, de 92 anos, reencontra seu filho norte-coreano Ri Sung Chol, de 71 anos - AFP

Lee Kwan-joo, de 93 anos, é uma exceção. Quer conhecer sobrinhos para ter ideia da vida que seus pais e seus seis irmãos levaram no Norte antes de morrerem. Em 1945, Lee foi enviada para uma escola no Sul, e a guerra selou a separação para sempre.

"Fico feliz de saber que poderei conhecer meu sobrinho e minha sobrinha, embora eu sequer tenha visto seus rostos", declara. "Quero apenas perguntar como morreram meus irmãos, irmãs e pais", acrescentou.

Sul-coreana Lee Keum-seom, de 92 anos, reencontra seu filho norte-coreano Ri Sung Chol, de 71 anos - AFP

As pessoas que participaram das reuniões anteriores deste tipo lamentaram o pouco tempo e recordam que foi muito difícil se despedir após três dias.

Outras comprovaram com tristeza a enorme brecha ideológica que foi estabelecida entre as famílias após décadas de separação.

Sul-coreana Lee Keum-seom, de 92 anos, reencontra seu filho norte-coreano Ri Sung Chol, de 71 anos - AFP

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