Vaticano - Após ser acusado de conscientemente ter encoberto, durante cinco anos, o cardeal Theodore McCarrick, suspeito de abusos sexuais, o papa Francisco não quis comentar as alegações feitas pelo ex-embaixador do Vaticano em Washington, o arcebispo Carlo Maria Vigano. Segundo ele, Francisco ignorou durante seu pontificado os relatórios sobre as ações do cardeal americano apresentado como um "predador sexual notório".
"Não vou dizer uma palavra sobre isso. Acredito que o comunicado fala por si mesmo", limitou-se a dizer o pontífice, entrevistado no domingo à noite por jornalistas no avião que o trouxe de volta a Roma.
Em seu texto de 11 páginas, Vigano afirmou que o papa sabia desde 2013 das acusações de abuso sexual envolvendo o cardeal Theodore McCarrick, mas falhou em punir o prelado. No final de julho, Francisco aceitou a renúncia de McCarrick, investigado pela polícia americana de ter abusado de um garoto de 11 anos, além de outras acusações de abusos de adolescentes e seminaristas que teriam sido cometidos ao longo de sua carreira. McCarrick foi orientado pela Vaticano a manter “uma vida de orações e penitência” .
Vigano ainda afirma que as mesmas sanções impostas agora ao americano já haviam sido determinadas pelo papa Bento XVI, entre 2009 e 2010, por conta das suspeitas, mas não foram colocadas em prática na época. Ele ainda relata que em junho de 2013, já durante o papado de Francisco, ele contou sobre a conduta de McCarrick, mas o papa não demonstrou surpresa e mudou de assunto.
“Ele sabia ao menos desde junho de 2013 que McCarrick era um predador em série e, mesmo sabendo que ele era um homem corrupto, o encobertou até o amargo fim”.
Em seu texto de acusação, Vigano ainda afirma que "a corrupção atinge a cúpula da hierarquia da Igreja" e que "em linha com o princípio proclamado de tolerância zero, o papa Francisco deve ser o primeiro a dar um bom exemplo aos cardeais e bispos que encobriram os abusos de McCarrick e renunciar com eles", insiste o arcebispo italiano.
Vigano ainda denuncia "a cultura do silêncio" na Igreja, e "a corrente homossexual" que prevalece nas instâncias mais altas do Vaticano.
"As redes homossexuais presentes na Igreja devem ser erradicadas" porque "estrangulam as vítimas inocentes e vocações sacerdotais", escreve Vigano, ecoando o discurso dos ultraconservadores católicos que igualam homossexualidade e pedofilia.
Com informações da AFP