Protesto na Venezuela  - AFP
Protesto na Venezuela AFP
Por ESTADÃO CONTEÚDO

Venezuela - O líder opositor venezuelano Juan Guaidó mobilizou nesta terça-feira, parte dos militares em uma tentativa de sublevação contra o presidente Nicolás Maduro. Ao longo do dia, o governo reprimiu manifestações em Caracas e nas principais cidades do país e conseguiu manter a coesão das Forças Armadas, levando alguns opositores a se refugiar em embaixadas - entre eles, Leopoldo López, que recorreu à missão diplomática chilena. Mais de 60 pessoas ficaram feridas e 25 foram presas.

À noite, na TV estatal e cercado por militares, Maduro garantiu que o movimento contou com o apoio da Colômbia e dos EUA. "Nunca antes na história da Venezuela tinha acontecido um levante pelo empenho obsessivo e nefasto de um grupo de oposição da extrema direita venezuelana, da oligarquia colombiana e do imperialismo americano, pela sua posição obcecada de derrubar o governo constitucional da Venezuela, de impor um governo ilegítimo", declarou. Ele também negou a versão do secretário de Estado, Mike Pompeo, de que pretenda fugir para Cuba.

Guaidó, por sua vez, convocou a população na noite de terça a manter os protestos previstos para esta quarta-feira, dia 1º de maio, e pediu às Forças Armadas que deponham o líder bolivariano

Ainda não havia amanhecido nesta terça na Venezuela, mas a movimentação no WhatsApp era intensa à espera da mensagem que Guaidó prometera. Nas ruas escuras, blindados trafegavam, despertando quem ainda não acompanhava o noticiário. Pouco depois das 6 horas, o autoproclamado presidente interino falou.

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"Começou o fim da usurpação. Estou com as principais unidades militares das Forças Armadas para dar início à fase final da Operação Liberdade", disse. As manifestações esperadas para esta quarta-feira se transformaram em uma tentativa de expulsar Maduro do Palácio de Miraflores.

Guaidó estava acompanhado de seu padrinho e mentor político, Leopoldo López, que há dois anos cumpre prisão domiciliar após passar outros três preso em um presídio militar. Ele foi condenado a 14 anos de cadeia por liderar protestos contra Maduro em 2014. Tanto López quanto autoridades chavistas atribuíram ao serviço secreto chavista, o Sebin, a decisão de libertá-lo. López disse que seus captores acataram um pedido de indulto concedido por Guaidó. Diosdado Cabello, uma das figuras mais importantes do chavismo, atribuiu sua fuga à colaboração de dissidentes do Sebin. López se refugiou por algumas horas na Embaixada do Chile em Caracas, ao lado da família. Ele deixou o lugar no final do dia e foi para a Embaixada da Espanha em Caracas, informou o chanceler chileno, Roberto Ampuero.

Enquanto lideravam a mobilização, López e Guaidó estavam cercados por dezenas de militares com faixas azuis no uniforme para sinalizar a sublevação. Havia relatos de que um dos principais dissidentes era Manuel Cristopher Figuera, que assumiu o Sebin em outubro. Ele foi acusado pelo chavismo de ter libertado López.

Por volta das 8 horas, o clima era de entusiasmo. Centenas se juntaram aos atos, envoltos com a bandeira da Venezuela. Pouco depois, começaram a explodir as primeiras bombas de efeito moral Um blindado da Guarda Nacional Bolivariana, leal a Maduro, avançou contra a multidão, atropelando manifestantes. Tiros de balas de borracha foram disparados. Um opositor, Samuel Méndez, de 24 anos, morreu com dois tiros no Estado de Aragua. Segundo a secretaria de Saúde do distrito de Chacao, em Caracas, ao menos 78 pessoas ficaram feridas, 3 por armas de fogo.

Em Miraflores, reuniram-se os chavistas convocados por Cabello e pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino. Maduro não deu as caras, pronunciando-se apenas pelo Twitter para pedir unidade "contra o golpe". "Agora, vamos ao contra-ataque", prometeu Cabello. O chavismo foi apoiado por Rússia, Cuba e Turquia.

Venezuelan opposition leader and self-proclaimed acting president Juan Guaido (L) and high-profile opposition politician Leopoldo Lopez, who had been put under home arrest by Venezuelan President Nicolas Maduro's regime, greet supporters after being joined by members of the Bolivarian National Guard to oust Maduro, in Caracas on April 30, 2019. - Guaido -- accused by the government of attempting a coup Tuesday -- said there was "no turning back" in his attempt to oust President Nicolas Maduro from power. (Photo by Cristian HERNANDEZ / AFP) - AFP

Fracasso

Ao longo da tarde, a ausência de movimentação em guarnições militares evidenciou que a sublevação defendida por Guaidó não encontrou respaldo. Começaram então as deserções. Ao menos 25 militares pediram refúgio na embaixada brasileira (mais informações na página A16). À reportagem, o deputado Luis Silva, da Ação Democrática, disse que Guaidó deixou o ato em segurança e está em um local protegido para liderar as marchas desta quarta. "Estará comandando os protestos em Caracas", garantiu.

Para a analista política Carmem Beatriz Fernández, o movimento lançou uma cartada final e um deles terminará se impondo, Maduro ou Guaidó. "Antecipar essa movimentação era uma tentativa de criar um fator surpresa para desconcentrar o adversário. E Guaidó conseguiu isso", avaliou. "O fato de tantas horas terem se passado e não sejam detidos os promotores do protesto expõe debilidades claras do governo", concluiu a analista."

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