Presidente americano, Donald Trump - Jim Watson/AFP
Presidente americano, Donald TrumpJim Watson/AFP
Por AFP
Washington - A presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira o lançamento de um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump na Casa.

Pelosi discursou às 17h locais (18h em Brasília), após consultar membros de seu partido que pedem o impeachment de Trump com base em alegações de que ele teria pressionado o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a investigar seu adversário político, Joe Biden, líder nas primárias democratas para enfrentá-lo nas eleições de 2020.
Democrata Nancy Pelosi fez o anúncio oficial nesta terça-feira - Reprodução CNN


"É absolutamente essencial que o presidente seja responsabilizado. Ninguém está acima da lei", disse Pelosi.

"Eu já havia dito que quando tivéssemos os fatos, estaríamos prontos. Agora nós temos os fatos. Estamos prontos", afirmou.

A escalada de pedidos de impeachment tem sido alimentada por um escândalo relativo a uma suposta tentativa de Trump de pressionar o presidente ucraniano a abrir uma investigação sobre corrupção contra seu principal adversário à Casa Branca, Joe Biden, e Hunter, filho dele.

No meio da polêmica estaria um até então sigiloso telefonema de Trump em 25 de julho para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Trump reagiu afirmando que se Pelosi anunciar a abertura do processo, a medida só irá aumentar suas chances de ser eleito em 2020.

"Se ela fizer isso, todos vão dizer que é positivo para mim nas eleições", disse Trump à margem da Assembleia Geral da ONU em Nova York.

Trump condena nova 'caça às bruxas'
Tentando salvar o pescoço da ameaça de impeachment, Trump anunciou mais cedo nesta terça-feira que divulgaria a transcrição do telefonema para o colega.

"No momento, estou nas Nações Unidas representando nosso país, mas autorizei a divulgação amanhã da transcrição completa, totalmente liberada e não editada da minha conversa telefônica com o presidente Zelensky, da Ucrânia", tuitou Trump.

"Vocês verão que se tratou de um telefonema muito amistoso e totalmente apropriado. Sem pressões e, ao contrário de Joe Biden e seu filho, SEM toma lá, dá cá!", alfinetou.

"Isto não é nada mais do que a continuação da maior e mais destrutiva caça às bruxas de todos os tempos!", concluiu.

Mas isto não deve bastar para acalmar os democratas.

O próprio Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama e até o momento tinha se abstido de pedir a abertura de um impeachment - anunciou nesta terça-feira que ele agora apoiaria a medida a menos que Trump coopere completamente com a investigação no Congresso sobre o escândalo na Ucrânia e outras controvérsias de seu governo.

"Temos um presidente que acredita não haver limites para o seu poder", disse Biden a jornalistas durante uma entrevista coletiva. "Temos um presidente que acredita estar acima da lei".

"Se ele continuar a obstruir o Congresso e se aproveitar da lei, Donald Trump a meu ver não deixa outra opção ao Congresso do que iniciar o impeachment", disse Biden. "Isto seria uma tragédia, mas uma tragédia causada por ele próprio".

A Casa Branca se recusou a transmitir ao Congresso a queixa secreta de um informante da comunidade de Inteligência, que teria mostrado Trump buscando ajuda da Ucrânia para combater Biden.

Trump admitiu ter conversado com Zelensky sobre Biden no telefonema e na terça-feira disse ter congelado a ajuda ao país temporariamente, antes de ser liberada na semana passada.

Mas refutou as acusações de que os dois estariam ligados, disse que a suspensão da ajuda visava a provocar países europeus a aumentarem seu apoio ao governo ucraniano.

Biden: Trump não está acima da lei
Lançar uma investigação de impeachment é um passo politicamente arriscado a 14 meses das eleições de 2020.

Pelosi, que reconquistou o controle da Câmara de Representantes em 2016, havia até agora resistido firmemente a fazê-lo, esperando manter o foco em conquistar o Senado e a Casa Branca em 2020.

Mas depois que democratas moderados se declararam eles próprios favoráveis a um processo de impeachment completo na segunda-feira, analistas contaram o apoio de pelo menos 170 dos 235 membros do partido na Câmara.

"O presidente dos Estados Unidos pode ter usado sua posição e poder para pressionar um país estrangeiro a investigar um adversário político, e ele tentou usar os dólares dos contribuintes americanos como uma alavanca para fazê-lo", escreveram no Washington Post sete democratas recém-ingressos no Congresso, incluindo o veterano das guerras do Afeganistão e Iraque Jason Crow e a ex-agente da CIA Abigail Spanberger.

"Este desrespeito flagrante da lei não pode continuar", ressaltaram.