Ao menos 1,5 bilhão de pessoas no mundo estão sendo afetadas pelas ações de combate ao coronavírus, como o fechamento de escolas, o isolamento social ou quarentenas. Os dados, da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), levam em conta somente o impacto nas crianças afastadas da escola, e mostram a força que uma pandemia tem em alterar o cotidiano das pessoas.
De acordo com o pesquisador, a atual pandemia tem ecos do passado, ou seja, elementos comuns às pandemias antigas, como o pânico e o aparecimento de fake news. No entanto, ela traz a novidade da realização de uma quarentena global, praticamente sendo feita, ao mesmo tempo, por centenas de países.
“Não tem como a gente comparar [a atual pandemia]. É uma questão única essa, de praticamente a gente ter parado o planeta todo por causa de uma epidemia nova e todos os problemas que ela vai causar no sistema de saúde e, basicamente, na economia. Não tem uma comparação, é um caso único, de quarentena geral, de praticamente todos os países”, disse.
Peste Negra
“O comércio parava, porque as cidades próximas ficavam com medo da Peste Bubônica chegar na cidade. Fechavam os portões da cidade, não tinha trâmite comercial, a economia declinava naquela cidade. As pessoas ficavam dentro de casa, praticamente isoladas, porque elas achavam, naquela época, que uma das causas da epidemia eram os miasmas, que seriam gases venenosos que saíam do solo ou mesmo das pessoas que morriam”, disse.
A Peste Negra devastou a Europa entre 1347 e 1351, causando um número de mortes superior a qualquer outra epidemia ou guerra até então. Houve vários surtos graves da doença até 1400 no continente. Estudos indicam que a praga, surgida na China, foi causada pela bactéria Yersinia pestis, que infectava humanos por meio da pulga Xenopsylla cheopis, que geralmente vive em ratos.
“As pessoas ficavam dentro de casa, isoladas, janelas fechadas, para os ventos não trazerem os miasmas. Os cadáveres eram colocados na porta das casas e os órgãos dos governos das cidades levavam em carroças, enterravam em valas coletivas, era um verdadeiro caos”, disse Cunha.
A doença foi levada, por meio do transporte naval até os portos do Mar Mediterrâneo, de onde se espalhou afetando a Itália, o norte da África, Espanha, França, Áustria, Hungria, Suíça, Alemanha e Países Baixos. Em seguida, a epidemia atingiu a Inglaterra, a Escócia, Escandinávia e os países bálticos.
“Essa é a mais significativa epidemia porque em um curto espaço de tempo, ela matou um terço de toda a população da Europa. Depois disso, ficou eclodindo em algumas cidades até o século 18”, diz Cunha.
A epidemia de Gripe Espanhola, a partir de 1918, foi o surto de gripe mais grave do século 20. Considerando a mortalidade causada pela doença, foi uma das epidemias mais devastadora da história da humanidade. A doença, que afetou praticamente todo o mundo, era transmitida de pessoa para pessoa por meio de secreções respiratórias. A gripe foi causada por um subtipo H1N1 do vírus Influenza, e resultou na morte de 25 a 50 milhões de pessoas.
Estudos indicam que a epidemia começou a ser registrada nos Estados Unidos, no estado do Kansas. O primeiro surto ocorreu inicialmente em março de 1918, durante a Primeira Guerra Mundial. Em julho, o vírus atingiu a Polônia. A gripe era seguida, normalmente, de uma pneumonia, que podia matar poucos dias depois do aparecimento dos sintomas da gripe.
Como a Espanha foi neutra na Primeira Guerra Mundial, a imprensa local – que não estava sob censura em razão do conflito – noticiava normalmente as ocorrências relativas à pandemia no país. Nos demais países que participavam do conflito, o tema era censurado nos jornais. Dessa forma, ilusoriamente, a Espanha registrava maior número de casos da doença, que acabou sendo batizada com o nome do país europeu.
No Brasil, a epidemia chegou em setembro de 1918, por meio do o navio inglês Demerara, vindo de Lisboa. Dele, desembarcaram pessoas em Recife, Salvador e Rio de Janeiro. Em pouco mais de duas semanas, além dessas cidades, surgiram casos de gripe em outras localidades do Nordeste e em São Paulo. Estima-se que, só no Rio de Janeiro, tenham morrido 14.348 pessoas. Em São Paulo, cerca de 2 mil pessoas morreram.
“No século 20, a gente teve a chegada da Gripe Espanhola no Brasil, uma espécie de globalização da doença. Aqui acabou tendo um impacto muito grande na economia e na mortalidade das grandes cidades brasileiras”, disse Cunha.
Gripe Suína
O surto de H1N1 de 2009 não foi tão mortal quanto a pandemia de 1918 a 1919. No entanto, o vírus era altamente contagioso e se espalhou rapidamente, o que fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitisse um alerta de pandemia em abril de 2009. “A gente teve a chegada de outra grande epidemia que foi a nossa gripe suína de 2009. Ela acabou chegando aqui causando surpresa, que foi a mortalidade de população jovem, e poupando os idosos”, disse Cunha.
A entrevista de Stefan Cunha Ujvari foi dada ao programa Na Trilha da História, da Rádio Nacional FM, e pode ser ouvida aqui.